O
QUE É GLOBALIZAÇÃO?
Escrito por Karina Lopes e João Gonçalves /Portal Politize!
A
globalização é um processo de expansão econômica, política e cultural a nível
mundial. Sua origem remete ao período das Grandes Navegações no século XVI,
momento em que as trocas comerciais se ampliaram para outras nações.
No último século, o processo
de globalização se acelerou bastante devido à Terceira Revolução Industrial (ou
Revolução Técnico-Científico-Informacional). Ela promoveu a evolução das
tecnologias de transporte e comunicação, de modo que a distância e as
fronteiras geográficas se tornam cada vez menores. Isso contribuiu diretamente
para o aumento das trocas comerciais entre os países, sobretudo para a
velocidade em que essas trocas acontecem. Quer entender melhor o processo de
globalização?
PRIMÓRDIOS
DA GLOBALIZAÇÃO: AS GRANDES NAVEGAÇÕES
As
Grandes Navegações talvez tenham sido o primeiro passo para o mundo se tornar
globalizado. Foi um período de procura por novos locais para fazer comércio e
explorar territórios que aconteceu entre os séculos XV e XVII. Era o início da
construção de um comércio global, além do continente europeu, com as trocas
comerciais se expandindo internacionalmente, principalmente para as Américas e
para a África.
Naquela
época, a Itália tinha o monopólio da rota pelo Mar Mediterrâneo para a Índia,
grande fornecedora de especiarias (produtos utilizados para temperar e
conservar alimentos, elaborar medicamentos, cosméticos e outros produtos de
farmácia). Dessa forma, os italianos cobravam o preço que desejassem para
revender tais mercadorias.
Por
isso, havia a intenção, por parte de outros países como Espanha e Portugal, de
romper com o monopólio, encontrando um novo caminho para as Índias Orientais
(sudeste asiático). Além disso, existia o interesse por descobrir novas terras
com o objetivo de encontrar, possivelmente, metais preciosos, produtos
agrícolas ou pessoas para catequizar a religião católica nas regiões
descobertas. Dava-se início à chamada “Era dos Descobrimentos”, financiada
pelas coroas portuguesa e espanhola, em aliança com suas respectivas
burguesias.
Esse
período levou ao desenvolvimento da cartografia, à mudança do eixo do comércio
mundial do Mar Mediterrâneo para o Oceano Atlântico, à chegada dos europeus na
América, incluindo o Brasil, e à evolução do comércio a nível internacional.
Apesar do aumento das trocas
comerciais, os recursos disponíveis nos séculos XV a XVII eram muito diferentes
dos que surgiram com a Terceira Revolução Industrial no século XX. Na Era das
Navegações, tecnologias como caravelas, bússolas, pólvora e a invenção da
imprensa foram importantes para as conquistas. A partir do século XX, surgem
contextos político-econômicos, culturais e tecnológicos mais favoráveis à
globalização. Entenda a seguir.
AS
CARACTERÍSTICAS ECONÔMICAS DA GLOBALIZAÇÃO
Um dos principais elementos
da globalização é a expansão do comércio mundial, sendo que a busca por
vantagens competitivas traz como consequências quatro principais fatores
econômicos:
Aumento
da concorrência entre os mercados
Com as trocas comerciais
acontecendo entre diferentes países, a concorrência aumentou a nível mundial e
teve reflexos na economia e na política.
Grande
circulação no mercado financeiro
O
mercado financeiro é constituído por bancos e bolsas de valores, que são
instituições que negociam as ações das empresas. Assim, faz a ligação entre
empresas e pessoas com capital sobrando e as sem capital. Através das bolsas de
valores, é atraído o capital especulativo, também denominado “capital volátil”,
isto é, um dinheiro que pode entrar ou sair com facilidade naquele mercado.
As principais bolsas de
valores hoje são as de Nova York, Tóquio, Londres, Frankfurt e São Paulo
(Bovespa).
Existência
de empresas transnacionais
É
muito comum ocorrer fusão entre o capital bancário e a produção industrial, o
que gera a concentração e centralização de capitais. Essa é uma característica
do capitalismo financeiro e permite a formação de empresas com grande poder
econômico, capazes de produzir e vender em regiões distantes entre si.
Tais empresas são chamadas
de transnacionais porque transpõem as fronteiras originais em que foram
criadas. Assim, possuem fábricas em diferentes países e são consumidas no mundo
todo. Em 2017, por exemplo, algumas empresas mundialmente influentes no setor
de alimentos são Nestlé, Pepsi e Coca-Cola.
Presença
de blocos econômicos
Os
países perceberam que a formação de blocos econômicos pode trazer vantagens
competitivas em um cenário de ampla concorrência, além de garantir maiores
ganhos econômicos. Tais grupos se tornaram uma prática comum a partir da década
de 1990, após o fim da Guerra Fria.
Os
blocos econômicos normalmente se iniciam através de acordos que estabelecem
zonas de livre comércio (ZEEs), lugares onde não são cobradas tarifas
alfandegárias, como o NAFTA (Tratado de Livre Comércio das Américas)
Os
blocos econômicos podem adicionar também ao seu acordo uma união Aduaneira, ou
seja, o estabelecimento de uma tarifa externa comum. Isso significa que todos
os países que compõem o bloco irão aplicar a mesma taxação em relação à
importação de bens de países fora do bloco. Um exemplo de união aduaneira é o
Mercosul.
Hoje,
um dos maiores e mais complexos blocos econômicos é a União Europeia. Além de
se configurar como uma zona de livre comércio e possuir uma união aduaneira,
ela também se estabelece como um mercado comum, isto é, permite a livre
circulação de pessoas, capital e trabalho entre os países pertencentes ao
bloco. Além disso, ele também padroniza as legislações econômica, trabalhista,
fiscal e ambiental.
Por fim, a União Europeia
também possui uma política monetária unificada. Em 1998, o bloco iniciou o
processo de adoção de uma moeda única (euro), fato que exigiu a convergência
das políticas econômicas entre os países pertencentes à união.
A
POLÍTICA MULTIPOLAR NO MUNDO GLOBALIZADO
Com
o fim da União Soviética o mundo deixa de ser caracterizado pela sua
bipolaridade – dois extremos de força política/econômica/militar representados
pelos Estados Unidos da América e a União Soviética – e adquire um caráter
multipolar, ou seja, mais de dois países com uma dimensão de poder
internacional significativo (como a Alemanha, China, Inglaterra, dentre
outros).
A
expansão da economia no contexto multipolar fez surgir a necessidade de
políticas reguladoras, a fim de facilitar as trocas comerciais entre diferentes
países e solucionar possíveis conflitos de interesse. Dessa forma, os países
buscaram, através de instituições internacionais, formas de delimitar regras
comuns sobre as trocas comerciais e um espaço formal para a resolução de
possíveis conflitos econômicos entre dois ou mais países.
Primeiramente,
nasceu o acordo geral de tarifas e comércio (GATT) em 1947, que buscava
estabelecer as premissas básicas para o comércio internacional. Com o passar do
tempo e o surgimento de regras mais fortes, o GATT evoluiu para a Organização
Mundial do Comércio (OMC), na década de 1990. Uma das principais temáticas
atuais da OMC, representada pela chamada Rodada de Doha, é a prática de
subsídios agrícolas, ou seja, a existência de incentivos fiscais por parte de
países desenvolvidos.
Outro
grupo importante no mundo globalizado é o G-8, constituído por Estados Unidos,
Canadá, Itália, França, Alemanha, Inglaterra, Japão e Rússia. Essas potências
econômicas se reúnem quase todos os anos e têm a capacidade de influenciar os
rumos da economia no mundo.
Há também o G-20, que busca
políticas que pautam também os países emergentes. Ele é formado por países
desenvolvidos e países emergentes: Estados Unidos, Canadá, Brasil, Argentina,
África do Sul, México, Rússia, Índia, Indonésia, China, Japão, Coreia do Sul,
Turquia, Alemanha, França, Itália, Rússia, Reino Unido, Austrália e União
Europeia.
A
GLOBALIZAÇÃO CULTURAL
A
cultura é outra dimensão do processo de globalização. A troca de cultura entre
diferentes países, independentemente da fronteira física entre eles também foi
intensificada e acelerada pela Terceira Revolução Industrial.
Podemos
definir cultura como o conjunto de conhecimentos, crenças, lei, moral, arte e
costumes de uma sociedade. Os avanços em tecnologias de comunicação,
especialmente o maior acesso à internet nos últimos anos, permitem a
disseminação e o compartilhamento de ideias em tempo real.
Entretanto,
esse processo de compartilhamento cultural é desigual. As potências econômicas
possuem maiores recursos para a produção e disseminação cultural. Isso
significa que determinados países exercem uma maior influência cultural sobre
outros.
Um
exemplo disso é a predominância de filmes, seriados e músicas produzidos por
países com os maiores recursos econômicos, como os EUA. Tal fato foi observado
no século XX, quando o rádio e a televisão, meios de comunicação de massa, começaram
a ser um artigo comum nas residências das pessoas. Isso possibilitou que a
cultura estrangeira, como por exemplo a norte-americana, influenciasse o
consumo de produtos culturais na maioria dos países no mundo.
Assim, a cultura se
transformou em uma “coisa”, isto é, uma mercadoria padronizada, segundo Theodor
Adorno. Esse fenômeno é conhecido como indústria cultural. Ele ainda é
observado no século XXI, e também muito criticado na atualidade.
O
MILITARISMO NO PROCESSO DE GLOBALIZAÇÃO
A
Terceira Revolução Industrial também afetou diretamente o setor militar. O
século XX foi marcado por duas guerras mundiais e mais de quarenta anos de
Guerra Fria. Nesse sentido, o poder econômico foi diretamente relacionado
também com o poder militar. Isso significa que além de um país almejar o
sucesso econômico, ele também tem como objetivo garantir um crescimento de sua
tecnologia militar para garantir sua segurança e posição de poder na política
internacional.
Os
Estados Unidos são o país que mais gasta com militarismo. Possui bases
militares espalhadas entre o hemisfério norte e sul, do Ocidente ao Oriente,
exercendo grande influência militar sobre a geopolítica mundial. Também há
frotas navais dos EUA em diversas regiões no mundo.
A
Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) surgiu após a Segunda Guerra
Mundial com o objetivo de os países se protegerem mutuamente contra uma ameaças
externas. Ela é formada por Estados Unidos, Canadá e países da Europa ocidental
e oriental. A organização é um exemplo das instituições militares
internacionais criadas no contexto da Guerra Fria, mas que existem até hoje.
Ainda sobre o militarismo, é
importante falar em armas nucleares. Em 1968, foi firmado o Tratado de Não
Proliferação (TNP) pelos países que tinham bombas atômicas, a fim de restringir
outras nações a terem tal tecnologia. Esse assunto tem particular relevância
nos últimos anos devido a nações que não assinaram o tratado e afirmam possuir
bombas nucleares, como a Coreia do Norte.
A
GLOBALIZAÇÃO ECONÔMICA E O BRASIL
O
Brasil é um dos principais exportadores de laranja, açúcar, soja e café.
Respectivamente, o país representa 85%, 50%, 40% e 27% do comércio destes
alimentos no mundo.
Também
somos um dos principais produtores de minerais metálicos, como Ferro, Manganês
e Bauxita. Além disso, exportamos produtos manufaturados (automóveis, aviões,
eletroeletrônicos) e celulose (que é semimanufaturada).
O
Brasil é um grande importador de combustíveis fósseis, e maquinários. Porém. é
exportador de produtos agrícolas, que possuem baixo valor agregado. Por isso,
manter a balança comercial positiva é um desafio. Ela é o cálculo que
representa o valor das exportações menos o das importações.
Os
maiores parceiros comerciais do Brasil atualmente estão localizados na Ásia, ou
pertencem ao Mercosul. Um dos fatores que dificultam o avanço do comércio
brasileiro para outros países são as barreiras comerciais internacionais.
Alguns países impedem a
entrada de produtos brasileiros para evitar a concorrência com a produção
nacional. Dessa forma, o Brasil possui uma presença importante em fóruns
internacionais como a OMC para reivindicar, em parceira com outros países,
condições iguais de concorrência internacional.
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