O QUE É SOCIALISMO?
Escrito por Isabela
Souza /Portal Politize!
O socialismo é uma doutrina
política e econômica que surgiu entre o fim do século XVIII e a primeira metade
do século XIX, no contexto da Primeira Revolução Industrial. Baseada sobretudo
no princípio de igualdade, a corrente socialista emergiu como uma forma de
repensar o sistema capitalista que vigorava na época. De uma forma geral,
quando falamos em socialismo frequentemente associamos o termo à corrente
marxista, mas essa não é a única forma de socialismo existente.
A partir do século XX,
ocorreram no mundo várias tentativas de implementação de regimes socialistas.
Atualmente, alguns países afirmam apresentar um sistema baseado em tais
princípios, mas será que eles são mesmo socialistas? Descubra como funciona o
socialismo, quais são os seus principais pensadores e de que formas essa
doutrina se apresenta no mundo contemporâneo.
COMO SURGIU O SOCIALISMO?
No final do século XVIII, a
Europa passava por um processo que gerou mudanças em todas as esferas da
sociedade: a Revolução Industrial. Essa revolução não só modificou a economia
dos países europeus, mas também causou grandes transformações sociais. Com a
modificação dos meios de produção e, por consequência, o surgimento do ambiente
fabril, o sistema capitalista entrava em uma nova fase: ele deixava de ser o
capitalismo comercial mantido desde o século XV para assumir a forma de um novo
capitalismo industrial.
Com a crescente expansão das
indústrias, as cidades cresciam rapidamente, sem qualquer planejamento. Ao
mesmo tempo, muitos trabalhadores migraram do meio rural para as cidades, onde
a produção fabril empregava a maior parte da mão-de-obra.
Enquanto isso, a sociedade
europeia se dividia entre dois grandes grupos: de um lado, um proletariado que
nada possuía além da própria mão-de-obra; do outro, uma classe burguesa que
detinha a maior parte da riqueza produzida. Essa segregação social se refletia
na organização da cidade, com os trabalhadores pobres sendo deslocados para as
margens da área urbana, onde predominava a miséria.
Esse novo proletariado
fabril encontrava-se sob as mais duras condições de trabalho, onde não existia
qualquer meio legal de proteção: os salários eram baixos e as jornadas diárias
de trabalho chegavam a 16 horas, não possuíam direito a nenhum dia de descanso;
não existia limite de idade, as crianças trabalhavam desde cedo e os idosos não
tinham direito à aposentadoria; além disso, contavam com péssimas condições de
segurança no ambiente de trabalho.
Neste contexto de pleno
desenvolvimento do capitalismo, mas ao mesmo tempo de rápido aumento da
miséria, alguns intelectuais passaram a buscar alternativas que pudessem
melhorar esse cenário social. Foi em resposta a esses problemas que pensadores
criaram a teoria socialista, como um caminho para organizar uma sociedade onde
não houvesse desigualdades.
Os primeiros pensadores
dessa corrente foram Saint-Simon, Charles Fourier e Robert Owen. Cada um à sua
maneira, esses autores fizeram parte da primeira forma de apresentação da
ideologia socialista, mais tarde denominada socialismo utópico. Posteriormente,
surge o socialismo científico, tendo como teóricos mais notáveis os alemães
Friedrich Engels e Karl Marx.
O
SOCIALISMO UTÓPICO
O socialismo utópico foi a
primeira corrente socialista, desenvolvida ainda durante a Primeira Revolução
Industrial. Um dos seus grandes estudiosos foi o filósofo e economista francês
Claude-Henri de Rouvroy, mais conhecido por Conde de Saint-Simon.
Para ele, era importante que
as classes prósperas entendessem que melhorar as condições de vida dos mais
pobres implicaria na melhoria de suas próprias condições de vida. Assim, o
objetivo das instituições sociais seria o de melhorar intelectual, moral e
fisicamente, as condições da classe mais pobre e numerosa. Tudo isso através do
progresso industrial e científico.
Saint-Simon foi um crítico
do “tripé de dominação social”, formado pelo clero, a nobreza e os militares.
Diferente de outros pensadores socialistas, não defendia o fim da propriedade
privada e nem a revolução como caminho para a reformulação da sociedade. Além
disso, Saint-Simon era favorável a uma forte interferência do Estado sobre a
economia.
Outro teórico do socialismo
utópico foi Charles Fourier. Ele propôs a criação de sociedades comunitárias e
independentes, ainda que dentro da sociedade capitalista. Essas comunidades
viveriam isoladas da sociedade, dependeriam do capital privado e não buscariam
igualdade absoluta. Nelas haveria incentivo à eficiência industrial e, apesar
de existir diferença de renda, esses rendimentos não seriam tão destoantes.
A comunidade idealizada por
Fourier tornaria todos mais felizes e resultaria em aumento da produção. Ainda
assim, Fourier nunca conseguiu colocar sua comunidade ideal em prática.
Assim como Fourier, Robert
Owen também idealizou a criação de comunidades independentes dentro de uma
sociedade maior. Contudo, suas comunidades visavam a igualdade absoluta, onde a
única hierarquia seria baseada na idade. Nelas, a unidade de troca seria a hora
de trabalho.
Diferente de Fourier, Owen
conseguiu colocar sua comunidade em prática. Nela, os empregados eram pagos com
altos salários e trabalhavam menos horas do que em outro lugar. Além disso, os
trabalhadores eram sustentados por Owen durante crises econômicas e os sócios
recebiam um valor limitado de lucros, aplicando o resto do dinheiro na melhoria
da comunidade.
Contudo, as comunidades de
Owen só funcionavam sob sua supervisão. Com o tempo, as brigas internas e entre
seus sócios levaram essas comunidades ao fim.
Os socialistas utópicos
enxergavam a indústria como o caminho para o desenvolvimento econômico e, com
isso, para a melhoria de vida da população. Diferente dos socialistas
científicos, não defendiam o fim do sistema capitalista como um passo
necessário para se atingir uma sociedade justa e igualitária.
As formulações destes
socialistas eram modelos idealizados de sociedade, por isso o nome de
socialismo utópico. Marx criticou esse sistema ao apontar que, apesar dos
socialistas utópicos apresentarem ideais de uma sociedade mais justa e
igualitária, não mostraram os instrumentos e métodos necessários para que esses
objetivos fossem atingidos.
O SOCIALISMO CIENTÍFICO
O socialismo científico foi
criado no século XIX, pautado em uma análise histórica e científica do
capitalismo. Por ter como pensadores Friedrich Engels e Karl Marx, o socialismo
científico é muito conhecido como marxismo. Segundo Marx e Engels, em todas as
épocas históricas a sociedade foi marcada pela luta de classes, sendo essa
relação caracterizada pelo antagonismo entre uma classe opressora e uma
oprimida. No sistema capitalista, essas classes são representadas,
respectivamente, pelos proprietários privados do capital, e portanto os donos
dos meios de produção, e do outro lado por uma massa de assalariados sem
posses, que dispõe apenas de sua força de trabalho.
O marxismo enxerga o
proletariado como a única classe social capaz de destruir essa forma de
exploração do homem pelo homem, através da destruição do capitalismo. Isso
seria alcançado quando o proletariado chegasse ao poder, através da revolução.
Ao atingir o poder, os trabalhadores eliminariam as desigualdades, abolindo as
classes sociais e tornando a sociedade igualitária. Quando isso acontecesse,
estaria assinalada a passagem do socialismo para o comunismo.
Além de propor a extinção
das classes sociais através da revolução, o socialismo científico defende
ainda:
A socialização dos meios de
produção: todas as formas de produção, como as indústrias, por exemplo, passam
a pertencer à sociedade e são controladas pelo Estado. Com isso, a riqueza
deixa de ser concentrada nas mãos de uma minoria privilegiada.
Abolição da propriedade
privada e controle do Estado sobre a divisão igualitária da renda.
Economia planificada: todos
os setores econômicos passam a ser controlados e dirigidos pelo Estado, que
determinará os preços, os salários e a regulação do mercado como um todo.
COMUNA DE PARIS: A PRIMEIRA EXPERIÊNCIA PRÁTICA DO
SOCIALISMO
A Comuna de Paris foi a
primeira tentativa na história de implantação de um governo socialista. Em
1871, após a derrota da França na Guerra Franco-Prussiana, Adolphe Thiers
assumiu o poder francês e assinou um acordo de paz com o chanceler prussiano
Otto Bismarck. Como o acordo era extremamente favorável à Prússia, a classe
operária não concordou com o contrato firmado e se revoltou contra o governo
francês. Com apoio da Guarda Nacional, a classe de trabalhadores tomou o poder
de Paris, instaurando a Comuna.
O governo na comuna foi
composto por noventa representantes eleitos, que seguiam diferentes vertentes
socialistas, entre elas o marxismo. Boa parte desses representantes pertencia à
Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT), também conhecida como
Primeira Internacional, a primeira organização de trabalhadores a superar as
fronteiras nacionais.
A principal meta da comuna
era a melhoria das condições de vida e trabalho dos operários. Entre as
principais medidas tomadas estão:
- Fixação de um salário
mínimo para os trabalhadores;
- Estabelecimento do ensino
gratuito para todos, bem como do ensino noturno;
- Redução da jornada de trabalho;
- Autogestão nas fábricas,
tornando os operários responsáveis pela organização;
- Declaração da igualdade
entre homens e mulheres;
- Criação do Estado Laico,
através da separação entre Igreja e Estado.
Após a instauração da Comuna
de Paris, ocorreram diversas outras tentativas de criação de comunas em toda a
França. Para impedir o avanço do movimento, os governos francês e prussiano, que
recém haviam se enfrentado em uma guerra, se uniram para derrubar a comuna
parisiense. Com apoio das tropas prussianas, o antigo governo de Paris invadiu
a cidade e recuperou o poder. Após curtos 72 dias de existência, chegava ao fim
a primeira experiência de um governo socialista de composição operária.
O SOCIALISMO REAL NA UNIÃO SOVIÉTICA
Ainda que a Comuna de Paris
tenha sido a primeira experiência prática de socialismo, foi somente no século
XX que a ideologia socialista foi adotada por um país inteiro. A primeira nação
a adotar esse sistema foi a Rússia, que pouco tempo depois se unificaria com
outros países para formar a União Soviética.
O regime socialista foi estabelecido
na Rússia em 1917, quando uma revolução derrubou a monarquia czarista que
vigorava no país. Após a queda da monarquia, o Partido Bolchevique, liderado
por Vladimir Lênin, instaurou o governo socialista, que defendia ideais
baseados sobretudo nos princípios marxistas.
O governo de Lênin enfrentou
forte oposição de setores ligados ao antigo regime czarista, o que gerou uma
longa guerra civil no país. Após o fim do confronto, a Rússia estava devastada
e, para reconstruí-la, o governo decidiu abandonar momentaneamente alguns
rígidos princípios socialistas. Através da chamada Nova Política Econômica
(NEP), o país voltou a usar formas de produção capitalistas, como a abertura de
pequenas fábricas, diferenças salariais e investimento estrangeiro no país.
Em 1922, sob o governo de
Josef Stalin, a Rússia se une a vários outros países europeus para constituir
oficialmente a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Durante seu
governo, Stalin aboliu o NEP e estabeleceu os planos quinquenais, onde as metas
da economia soviética eram definidas em um prazo de cinco anos. Stalin
priorizou a expansão e o desenvolvimento da indústria, além de centralizar
diversos outros setores nas mãos do Estado.
O socialismo implantado na
União Soviética pode ser chamado de socialismo real, por ser
considerado a primeira experiência prática de países que adotaram
medidas da teoria socialista. Embora algumas dessas medidas tenham sido
propostas durante os 72 dias da Comuna de Paris, esta foi a primeira vez em que
os princípios socialistas se mantiveram como sistema politico de uma nação
por um longo período de tempo, um diferencial em relação às teorias
socialistas anteriores, que praticamente se mantiveram no campo das ideias.
ATUALMENTE,
QUAIS PAÍSES SE DECLARAM SOCIALISTAS?
Existem hoje países que se auto-declaram
socialistas, apesar do assunto ser bastante controverso. Mesmo que muitos deles
ainda sigam alguns princípios socialistas, é notável a influência do sistema
capitalista em seus sistemas, sobretudo na esfera econômica. Confira quais são
os países que adotam princípios socialistas atualmente:
1)
Cuba
Cuba talvez seja o exemplo
mais conhecido de socialismo moderno. Instaurado no país desde a Revolução de
1959, o sistema cubano ainda mantém muito dos seus ideais socialistas, como a
busca pela igualdade e a centralização dos serviços nas mãos do Estado.
Contudo, o país já demonstra muitos indícios da economia capitalista, como a
indústria do turismo e o comércio externo, ainda que limitado pelo embargo
econômico.
2)
China
O socialismo foi implantado
na China em 1949, pouco tempo depois do fim da Segunda Guerra Mundial. O país
manteve estreita relação com a URSS até a década de 1960, mas a partir dos anos
1970 começou a adotar aspectos capitalistas na economia. Por apresentar uma
estrutura política baseada no socialismo, mas um sistema econômico capitalista,
a china se define como um “socialismo de mercado”.
3)
Coreia do Norte
A Coreia do Norte surgiu a
partir da fragmentação da antiga Coreia em 1948, quando se originaram dois
países: um com um sistema socialista, apoiado pela URSS, e uma nação
capitalista, apoiada pelos Estados Unidos. Com uma economia baseada na
indústria pesada e na agricultura mecanizada, o sistema coreano possui rígido
controle político, mas já se nota o crescimento de um mercado privado.
Mudanças recentes permitem
ao agricultor vender o excedente da sua produção, além de poder reinvestir os
lucros ou gastá-lo. A adoção dessa e outras práticas de mercado surgiu como um
mecanismo de sobrevivência diante da fome, e alguns representantes do governo
dizem que é uma medida momentânea enquanto o país não consegue produzir os bens
de consumo necessários.
4)
Vietnã
O Vietnã adotou o regime
socialista em 1976, após a conhecida guerra contra os Estados Unidos. Nos anos
1990, o governo realizou reformas em sua política econômica, adotando um
sistema semelhante ao chinês. Assim, o Vietnã, que até então possuía uma
economia baseada na agricultura, expandiu seu setor industrial, registrando o
maior crescimento econômico do Sudeste Asiático nos últimos anos. Após
atrair capitais estrangeiros, o país passou a integrar o grupo dos “Novos
Tigres Asiáticos”, ainda que mantenha um sistema político socialista.
Fonte: http://www.politize.com.br
5 Comentários
Um resumo histórico que pode ajudar muitas pessoas na necessária formação de uma nova consciência critica da sociedade, para defender-se da devastação sofrida pela mentalidade neoliberal das últimas décadas somada ao neonazismo que está renascendo nos ultimos anos.
ResponderExcluirObrigado e parabéns Isabela!
Obrigado pela visita José!
Excluirparabens
ResponderExcluirObrigado pela visita!
ExcluirTodo esse texto e os países citados são uma prova que o socialismo/comunismo é uma ideologia que não funciona na prática. É muito bom ver que nosso país está indo em um rumo diferente e se afastando cada vez mais do comunismo, que iria nos levar a miséria. É uma pena ver que pessoas ainda acreditam nessa ideologia.
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