América
Latina joga 145 mil toneladas de lixo orgânico por dia em aterros
Todo dia, 145 mil
toneladas de resíduos orgânicos são jogadas em lixões e aterros controlados na
América Latina e no Caribe. Essa montanha diária de restos de comida não
processados, que colocam em risco a saúde e a vida de 170 milhões de pessoas, é
um dos temas da 3ª Assembleia do Meio Ambiente da Organização das Nações Unidas
(ONU), que será realizada em Nairóbi, no Quênia, de 4 a 6 de dezembro.
Os números estão
no Atlas de Resíduos da América Latina, relatório da ONU Meio Ambiente que
está para ser lançado. Um resumo do trabalho foi apresentado preliminarmente em
São Paulo em evento realizado nesta terça-feira (21) pela Associação Brasileira
de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe).
O estudo mostra um
cenário preocupante. Segundo Jordi Pon, coordenador regional de resíduos e
químicos do organismo das Nações Unidos, as 540 mil toneladas de lixo
produzidas atualmente na região serão 671 mil toneladas em 2050. Se, de um
lado, há avanços na coleta, que na média supera 90% do lixo urbano, o
processamento fica abaixo dos 70%. O restante, formado essencialmente por
dejetos orgânicos, vai para locais inadequados, produzindo poluição do ar, do
solo e da água.
“Os dados
apresentados pela ONU Meio Ambiente mostram que, mesmo com algumas melhorias
alcançadas nos últimos anos, cerca de 170 milhões de pessoas ainda estão
expostas às consequências desse problema, em decorrência dos graves impactos
causados ao meio ambiente e à saúde da população”, explica Carlos Silva Filho,
diretor-presidente da Abrelpe e membro do Comitê Diretivo do Atlas de
Resíduos.
A análise dos
despejos sólidos das cidades latino-americanas mostra que o lixo orgânico
representa mais da metade de todo o resíduo descartado. Esse índice varia de
acordo com o potencial econômico do país. "Em nações de baixa renda, 75%
do lixo descartado são provenientes de matéria orgânica, enquanto em países com
renda mais elevada esse índice é de 36%”, comentou Pon. A diferença é reflexo
da maior ou menor atividade industrial e comercial.
O lixo doméstico tem
ainda o agravante de concentrar resíduos perigosos, como baterias, celulares,
equipamentos elétricos e eletrônicos e remédios vencidos, entre outros,
Parte do lixo
doméstico é formada por elementos secos, como metais, papéis, papelão,
plásticos, vidro e têxteis. A reciclagem desses itens ainda é reduzida, em
geral abaixo de 20%. O índice só é alcançado em cidades onde existe coleta e
seleção informais, feita por catadores autônomos, o que mostra a pequena
participação do Poder Público e de políticas voltadas para o problema.
No entanto, o estudo
da ONU revela que a maior parte dos países da América Latina e do Caribe tem
legislação específica que define as responsabilidades de geradores e
manipuladores e prevê punições, que quase nunca são aplicadas. Além disso,
mostra o relatório, os investimentos em gestão de resíduos são insuficientes.
“Isso cria um vácuo de responsabilidades governamentais, com poucas ações de
acompanhamento e monitoramento, resultando, entre outras coisas, em uma
aplicação deficiente da lei, tanto pelo setor público quanto pelo privado”,
explica Jordi Pon.
De acordo com Carlos
Silva Filho, o financiamento é uma questão fundamental para a melhoria da
gestão de resíduos. Ele ressalta que na América Latina e no Caribe os modelos
são financiados por recursos municipais e, em muitos casos, os custos não são
plenamente recuperados. “Ainda não há uma consciência clara do fato de que o
custo econômico dos impactos negativos causados pela gestão inadequada dos
resíduos é maior do que o custo de investimento em um sistema adequado”.
O relatório faz parte
de um projeto da ONU Meio Ambiente e é parte do Atlas Global de Gestão
de Resíduos de 2016, que inclui relatórios sobre a situação dos
resíduos sólidos na América Latina e Caribe, Ásia, Ásia Central, África,
Regiões Montanhosas e Pequenas Ilhas-Estado (Sids).
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