Zerar o desmatamento é plenamente possível e implicaria em custo baixíssimo à economia do Brasil.
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Estudo lançado na COP23 indica caminhos
para o Brasil zerar o desmatamento na Amazônia
O Grupo
de Trabalho (GT) pelo Desmatamento Zero - composto pelas ONGs Greenpeace,
Instituto Centro de Vida, Imaflora, Imazon, Instituto Socioambiental, IPAM, TNC
e WWF - lançou nesta segunda-feira (13), na COP23, em Bonn, o relatório
“Desmatamento zero na Amazônia: como e por que chegar lá”. No estudo, as
organizações indicam caminhos para eliminar, no curto prazo, o desmatamento na
Amazônia, com benefícios ambientais, econômicos e sociais para todos.
No documento, o GT defende que não há mais
justificativas para a destruição da vegetação nativa do Brasil. Continuar
desmatando resulta em desequilíbrio do clima, destrói a biodiversidade e os
recursos hídricos, traz prejuízos à saúde humana e, ao contrário do que muitos
acreditam, compromete a competitividade da produção agropecuária. Em 2016 o
desmatamento na Amazônia, sozinho, foi responsável por 26% das emissões
domésticas de gases do efeito estufa. Zerar o desmatamento, é, portanto, a
forma mais rápida e fácil de reduzir emissões e cumprir com o acordo de Paris.
A boa notícia é que o Brasil já conhece o
caminho para o desmatamento zero e sabe como chegar lá. “As medidas
implementadas nos últimos anos (2005-2012) derrubaram as taxas de desmatamento
na Amazônia em cerca de 70% e indicam que os elementos necessários para atingir
o desmatamento zero se encontram presentes”, destaca a publicação.
Para Frederico Machado, especialista em
políticas públicas do WWF-Brasil zerar o desmatamento é plenamente possível e
implicaria em custo baixíssimo à economia do Brasil. “De acordo com estudo
recente, impactaria em menos de 0,7% o PIB brasileiro, até 2030. E teria
balanço enormemente positivo ao juntarmos nessa conta todos os serviços
ambientais mantidos à sociedade. É urgente o compromisso de todos os setores
com a conversão zero do que resta dos ecossistemas naturais do planeta, com
destaque também ao Cerrado”, acrescenta o especialista.
“O Brasil já sabe o caminho para chegar ao
desmatamento zero, mas tem seguido na direção oposta. Temer e o Congresso vêm
discutindo e aprovando medidas que incentivam ainda mais desmatamento, grilagem
e violência no campo. Caso ações não sejam tomadas urgentemente, o cenário é de
permanência de altas taxas de desmatamento na Amazônia”, comenta Cristiane
Mazzetti, especialista em Amazônia do Greenpeace Brasil. "O caminho
existe, mas é preciso que governos e empresas se comprometam seriamente em
transformar as ações propostas no documento em realidade, eliminando qualquer
forma de desmatamento no curto prazo”, complementa.
“Milhares de pessoas morrem ou adoecem por ano
por causa da fumaça das queimadas associadas ao desmatamento. Já sabemos o que
fazer para zerar o desmatamento e salvar estas vidas e evitar as doenças. Agora
é preciso coragem para agir”, Paulo Barreto, pesquisador sênior do Imazon.
“O fim do desmatamento na Amazônia e a
conservação florestal representam atualmente o melhor investimento que a
agricultura pode fazer a favor de sua produtividade futura. Florestas são
grandes sistemas de irrigação da lavoura. Não é só produzir sem desmatar, mas
sim produzir mais e melhor, conservando as florestas da região”, Paulo
Moutinho, pesquisador sênio do IPAM.
A trilha para o desmatamento zero, de acordo
com as organizações, envolve diversos setores e passa, necessariamente, por
quatro eixos de atuação:
- implementação
de políticas públicas ambientais efetivas e perenes;
- apoio
a usos sustentáveis da floresta e melhores práticas agropecuárias;
- restrição
drástica do mercado para produtos associados a novos desmatamentos;
- engajamento
de eleitores, consumidores e investidores nos esforços de zerar o desmatamento.
Para
o GT, mudanças no sistema de produção agropecuária, combate à grilagem de
terras públicas, atuação do mercado e estímulo à economia florestal estão entre
as ações mais urgentes para zerar o desmatamento, indicados no estudo:
- A
agropecuária pode continuar a contribuir para a economia produzindo nas áreas
já desmatadas. Só na Amazônia há 10 milhões de hectares de pastagens
abandonadas ou mal aproveitadas, que poderiam ser usadas para a ampliação da
produção de carne e grãos.
- Em
2016, pelo menos 24% do desmatamento se concentrou em áreas públicas sem
destinação. Hoje há 70 milhões de hectares não destinados na Amazônia, que
precisam ser convertidos em terras indígenas e unidades de conservação para
frear o desmatamento especulativo.
- O
estímulo à economia florestal por meio de programas de governo também precisa
ser ampliado. A extração de produtos florestais rendeu cerca de R$ 3 bilhões na
média de 2015 e 2016, dos quais R$ 1,8 bilhão são oriundos da exploração de
madeira e 537 milhões de extração de açaí.
- Promover
incentivos positivos para aqueles que conservam florestas além da exigência
legal.
- Além
de ampliar as ações de comando e controle, que continuam sendo fundamentais, é
imprescindível aumentar a eficácia na punição de crimes ambientais.
- O
setor privado deve ampliar esforços no monitoramento completo das cadeias
produtivas e bloqueio de produtores que desmatam. Neste caminho, a
transparência total de dados socioambientais pelos governos é fundamental.
O
relatório reforça, ainda, a importância da mobilização da sociedade contra as
tentativas recentes de enfraquecer a proteção florestal, como a flexibilização
do licenciamento ambiental, a redução da proteção de Unidades de Conservação, a
paralisação dos processos de demarcação de Terras Indígenas e a anistia de
grilagem de terras públicas - gerando um lucro de R$ 19 bilhões para
grileiros.
Fonte: https://www.wwf.org.br
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