A inflação de alimentos pesou mais no bolso do pobre do que na faixa de renda mais alta, conforme estudo do Ipea
Inflação
do país nos últimos 11 anos pesou mais no bolso do pobre, diz Ipea
No período entre julho de 2006 e
setembro de 2017, a inflação foi mais pesada para a população de renda mais
baixa. Dados analisados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e
publicados na nota técnica sobre Inflação por Faixa de Renda indicam que, no
período, enquanto a inflação ficou em 102% para quem tem renda mais baixa,
registrou 86% para os de renda mais alta.
Os dados foram divulgados hoje (16) pelo
órgão, durante uma coletiva na sede, no centro do Rio.
A técnica de planejamento e pesquisa da
Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea, Maria Andréia Parente
Lameira, destacou que, neste período, houve uma influência grande dos
alimentos. “Neste tempo de 10, 11 anos, mesmo tendo uma queda recente [no
preço] de alimentos, a gente teve pelo menos dois choques fortes de alimentos,
que jogaram a inflação lá para cima, e isso, de fato, pesou muito mais nas
famílias de renda mais baixa”, disse.
Mas, no processo de desinflação recente,
a análise apontou que, apesar de generalizado, as famílias de menor poder
aquisitivo foram beneficiadas de forma mais intensa. Em outubro, a inflação
acumulada em 12 meses dessas famílias teve alta de 2%, enquanto que, para o
segmento da população mais rica, ficou em 3,5%.
O percentual das famílias de renda mais
baixa também foi influenciado pelos alimentos, mas dessa vez pelo recuo dos
preços. Nessa faixa, o peso na cesta de consumo é de 29%, bem maior do que o
que incide na faixa mais alta, que é de 10%. Para o segmento econômico mais
alto, o peso maior ocorreu em outros segmentos que apresentam variações mais
altas e maior rigidez à baixa, como mensalidades escolares e planos de saúde,
que impedem uma queda mais acentuada na inflação do grupo.
Segundo a pesquisadora, nos planos de
saúde e em serviços médicos, os mais pobres gastam aproximadamente 1,5%, já
para os mais ricos, a despesa sobe para quase 7%. Em educação, a diferença é
ainda maior. Enquanto os mais pobres gastam 2%, os mais ricos, 10%. “Isso quer
dizer que, quando tem uma alta muito elevada em mensalidade escolar, isso vai
bater muito forte na inflação dos mais ricos, mas, em compensação, praticamente
não vai influenciar a dos mais pobres”, explicou.
Ainda de acordo com a economista, quando
ocorre um choque na oferta dos alimentos, o que faz com que os preços subam, o
impacto nas famílias mais pobres é muito maior do que as mais ricas. “Essa
diferença na composição dos gastos das famílias é que vai ditar o porquê de a
inflação ser diferente nessas classes”, afirmou.
A avaliação indicou ainda que, para os
próximos meses, diante da expectativa de aceleração nos preços dos alimentos, é
provável que a inflação das classes de renda mais baixa volte a apresentar
taxas mais elevadas. Maria Andréia lembrou que, em outubro, houve uma
aceleração generalizada da inflação conforme o IPCA. “Isso mostra que a
dinâmica pode mudar mês a mês, dependendo de como as variações vão mudando. De
repente, o que está aumentando mais em um mês vai impactar menos uma faixa do
que a outra”, completou.
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