Maioria dos venezuelanos entra no Brasil pela fronteira com Roraima
Roraima:
atendimento a venezuelanos no SUS cresceu 2,3 mil vezes em quatro anos
O secretário de Saúde de Roraima,
Marcelo Batista, afirmou hoje (22) que o volume de atendimentos a venezuelanos
nas unidades hospitalares do estado no ano passado foi 2.349 vezes maior do que
o de 2014. Batista informou que, no ano inicial de referência, a rede atendeu
766 pacientes venezuelanos e, em 2017, 18 mil.
Um exemplo da sobrecarga no Sistema
Único de Saúde são os 180 partos de venezuelanas feitos ao longo de janeiro em
apenas uma das maternidades que atendem pelo SUS. Normalmente, a média era de
15 a 20 partos por dia, lembrou Batista, que participou, nesta quinta-feira, da
reunião da Comissão Intergestores Tripartite, na sede da Organização da
Pan-Americana da Saúde (OPAS), em Brasília.
No encontro, Marcelo Batista comentou o
cenário relativo ao sarampo no estado, onde já foram notificados oito casos da
doença, dos quais sete ainda estão sob investigação. A confirmação da doença em
uma criança venezuelana, confirmada no último dia 11, por profissionais da
Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), rompeu um quadro epidemiológico estável no
país, que, desde 2015, havia vencido totalmente o sarampo.
"A partir dessa confirmação,
tentou-se fazer o bloqueio [da cadeia de transmissão do vírus] de todas as
pessoas com quem a criança teve contato, pois ela vivia em um abrigo e depois
foi morar em uma praça", disse o secretário à Agência Brasil. O sarampo,
cujos sintomas mais brandos incluem febre, erupções cutâneas e conjuntivite,
pode, em um grau mais severo, afetar o estado nutricional de crianças
acometidas pela doença, originando até mesmo pneumonia.
O Fundo das Nações Unidas para a
Infância (Unicef) denunciou, no fim de janeiro, a desnutrição infantil entre os
venezuelanos, problema que se torna mais grave se for levado em conta o fato de
que a letalidade do sarampo é elevada quando os infectados vivem em condições
socioeconômicas desfavoráveis. Grande parte dos venezuelanos que chegam ao
Brasil tem permanecido em espaços públicos, motivo pelo qual São Paulo e Manaus
vão acolher esses estrangeiros.
A prefeitura de Boa Vista, hoje com
aproximadamente 332 mil habitantes, estima que cerca de 40 mil venezuelanos
tenham deixado o país natal e passado a residir na capital roraimense, após o
agravamento da crise econômica e política.
Marcelo Batista destacou a inexistência
de uma "barreira sanitária" em cidades adjacentes à Venezuela, como
Pacaraima, que, situada a 200 quilômetros de Boa Vista, foi parte do itinerário
percorrido pela menina de 1 ano, que foi trazida ao Brasil pela mãe. Segundo o
secretário, tal barreira, que consistiria na restrição de entrada a quem não
foi devidamente imunizado, é prioridade máxima. "Pedimos, diariamente, que
isso seja regularizado, para que, lá na fronteira, seja cobrada a carteira de
vacinação e que seja instalado, no local, um posto de vacinação."
De acordo com o secretário, na capital,
a cobertura vacinal é de 80% na primeira dose e 79% na segunda, índices
inferiores aos 95% preconizados pelo governo federal. Ele destacou que a
situação em municípios interioranos, como Cantá, a 30 quilômetros da capital, e
na "bastante povoada" Rorainópolis, a 290 quilômetros, no sul do
estado, é ainda mais crítica. As duas cidades têm população estimada,
respectivamente, em cerca de 16.900 e 28.200 habitantes, conforme dados do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e Pacaraima, em torno
de 12.300.
Dados divulgados em 2014 indicam que as
taxas de mortalidade infantil são de 24,86, 22,62 e 14,79 óbitos por mil
nascidos vivos.
A orientação do Ministério da Saúde é
que as doses de vacina sejam fornecidas a pessoas com idade entre 12 meses e 29
anos. A primeira dose deve ser aplicada aos 12 meses, com a vacina tríplice
viral. Aos 15 meses, recomenda-se a vacina tetra viral, que corresponde à
segunda dose da tríplice viral e uma dose da vacina (varicela). Pessoas na
faixa de 30 a 49 anos devem receber uma dose da vacina tríplice viral.
Nesta quarta-feira (21), a Secretaria
Estadual de Saúde de Roraima emitiu um alerta para que todas unidades de seu
sistema reforcem a vigilância contra o sarampo e notifiquem a ocorrência de
qualquer caso suspeito em até 24 horas. Mesmo antes de o diagnóstico ser
confirmado, as equipes de saúde deverão fazer o isolamento respiratório do
paciente e coletar amostras para exames de sangue, urina e secreção por via
nasal e pela faringe.
Malária
Além das demandas por cuidados relacionados
ao sarampo, os venezuelanos têm necessitado de tratamento contra malária.
"No nosso hospital de Pacaraima, 90% dos atendimentos são feitos a
venezuelanos e, desse total, 70% é por malária", afirmou o secretário.
Embora não haja vacina contra a doença,
é possível adotar medidas de prevenção, como o uso de mosquiteiros, repelentes
e de telas em portas e janelas. Obras que visem não deixar brechas para que o
mosquito Anopheles se multiplique nas moradias, por exemplo, são ações de maior
relevância para o combate à doença. A malária é tratada com comprimidos.
No Brasil, a maior incidência é na
região amazônica, nos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, de Mato
Grosso, do Pará, de Rondônia, Roraima e do Tocantins. Apesar da maior
concentração nesse território, nas demais regiões, os casos evoluem mais
frequentemente para óbito.
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