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No Dia das Florestas, Senado tenta aprovar plantio de cana na Amazônia


Senado tenta aprovar lei que autoriza plantio de cana na Amazônia
© Agência Senado
No Dia das Florestas, Senado tenta aprovar plantio de cana na Amazônia
Após constrangimentos, Senado adia votação de projeto de lei que deve ampliar desmatamento ilegal na Amazônia
Por Clarissa Presotti
Por pouco o Plenário do Senado não aprova na noite de ontem (21) o Projeto de Lei 626/2011 que libera o plantio de cana-de-açúcar na Amazônia. Além de ter entrado repentinamente na pauta, a tentativa de votação da proposta de autoria do senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA) significou um vexame para o Brasil, já que acontece nesta semana, em Brasília, o Fórum Mundial das Águas e 21 de março é comemorado o Dia Internacional das Florestas.
O texto só não foi aprovado porque não houve quórum para deliberar, devido à obstrução de partidos como Rede, PT, PSB e PSD – com falas de constrangimento aos senadores que tentavam votar a matéria a qualquer custo. Enquanto os parlamentares contrários apontavam sobre os riscos socioambientais, e alertavam sobre o vexame de se votar uma lei com esse teor em pleno Dia Mundial das Florestas, os favoráveis destacavam a geração de empregos e o potencial econômico do projeto.
O senador Flexa Ribeiro defendeu sua proposta dizendo que o plantio de cana na Amazônia “não vai derrubar nenhuma árvore”, pois trata das “áreas degradadas de florestas”.
A ideia de autorizar a produção de cana na Amazônia está circulando há anos no Congresso. Mas desde o ano passado, esse projeto polêmico tem ganhado fôlego no Senado Federal pela pressão da bancada ruralista. E dentro do contexto atual de retrocessos ambientais patrocinados pelo governo e pelo Legislativo, o projeto acelerou.
Passou por três comissões em apenas três meses (Assuntos Econômicos, Desenvolvimento Regional e Turismo, Agricultura e Reforma Agrária) – o que é bem inusitado para o andamento dos trabalhos do Senado Federal que costumam ser mais lentos.
Nesse pequeno tempo, a proposta tem causado muitas reações contrárias. Organizações ambientalistas, por exemplo, alertam que a expansão dos canaviais na Amazônia deve criar uma nova fonte de pressão para a grilagem de terras e o desmatamento ilegal.
Para o coordenador de programa de Agricultura e Alimentos do WWF-Brasil, Edegar de Oliveira Rosa, a mudança na proposta no zoneamento agroecológico da cana-de-açúcar é mais um projeto para diminuir a governança ambiental na Amazônia, que irá impactar na dinâmica do uso do solo na região e aumentará a conversão de ecossistemas naturais e o desmatamento.
“A iniciativa libera a conversão das áreas naturais de cerrado e campos da Amazônia legal. E esses ecossistemas são extremamente importantes para a biodiversidade e outros serviços ecossistêmicos. Mesmo excluindo áreas de floresta, indiretamente o novo uso agrícola aumentaria o valor da terra e a especulação imobiliária levando a novos desmatamentos em um contexto de baixa governança territorial”, alertou Edegar Rosa.
E não são somente as ONGs que estão preocupadas com esse projeto, mas o próprio setor. Os exportadores de açúcar e álcool do país passaram anos lutando para desfazer nos mercados internacionais a ideia que esses produtos vêm da Amazônia.
Em setembro de 2017, a Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, composta por empresas e organizações da sociedade civil, divulgou um comunicado sobre os riscos ambientais e reputacionais que esse Projeto de Lei pode trazer ao açúcar e biocombustíveis brasileiros.
Segundo a nota da Coalizão, essa iniciativa “contraria os esforços feitos pelo governo federal, setor produtivo e sociedade rumo à produção sustentável de cana-de-açúcar no país”.
Para as entidades, o PLS 626/2011 pode manchar essa reputação e colocar em risco os mercados já conquistados e o valor dos produtos brasileiros. “O Brasil precisa focar em promover aumento da produção de bioenergia e biocombustíveis nas atuais áreas não aproveitadas, de forma aliada à preservação ambiental”, diz o comunicado.
A União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), membro da Coalizão, também endossou essa manifestação e, na época, se posicionou contrária ao projeto.
Reação
Durante a tentativa de votação do projeto pelo Plenário, o senador Jorge Viana (PT-AC) alertou que a proposta será “um desastre para o Brasil”, e questionou sobre a falta de “política para as florestas” no país. Segundo Viana, o Brasil não pode achar que a região amazônica pode ser tratada da mesma forma que outras.
Ele lamentou que a votação de um projeto que pode destruir a Amazônia ocorra no Dia Mundial das Florestas, celebrado nesta quarta. “Escolheram o pior dia para esse projeto! Isso vai manchar a imagem do Brasil”, destacou.
Na avaliação do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), a monocultura limita a soberania alimentar, amplia a pressão desenvolvimentista irresponsável na Amazônia, eleva o risco de conflitos sociais no campo e aumenta as desigualdades, além de causar danos ambientais irreparáveis.
“É urgente a atenção da sociedade para que, caso a medida seja barrada de vez no Senado, a bem da preservação de um meio ambiente equilibrado para as presentes e futuras gerações, defendeu o Randolfe, que apresentou com os senadores Jorge Viana e João Capiberibe (PSB-AP) um requerimento para que o projeto fosse analisado na Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle (CMA). No entanto, o pedido foi rejeitado pela maioria.
A votação da matéria deve ser retomada na próxima terça-feira (27).

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