PAU-BRASIL
– UM PÉ DE QUÊ?
Imagina que você é uma perua do século
XVI, no Reino de D. Manoel. Passou anos olhando os reis e os bispos desfilando
de roupa vermelha na sua frente e nunca pôde usar a cor porque era
exclusividade deles. Um dia, descobrem uma tinta muito mais barata e lançam no
mercado um tecido igual ao vermelho dos reis. Você não ia querer? Claro, todo
mundo queria. Foi o que aconteceu na Europa no século XVI.
O que isso tem a ver com um texto sobre
árvore? Pois foi justamente uma árvore que instituiu a moda vermelha na Europa
no século XVI: o pau-brasil. E essa árvore vinha de umas terras
recém-descobertas de onde os exploradores podiam tirar o pigmento que iria popularizar
o vermelho nos salões europeus.
Nos primeiros 30 anos depois do
descobrimento, o Brasil viveu exclusivamente da exploração do pau-brasil. Até
esse momento, a árvore foi a única coisa de valor que os portugueses
encontraram aqui. O pigmento vermelho que tiravam dele estava virando um dos produtos
mais procurados da época.
Até fim do século XVI, os europeus
derrubaram mais de dois milhões de árvores, 20 mil por ano, 50 por dia. Tem
quem diga que foram extraídos no total mais de 70 milhões de árvores. Não sobrou
quase nada. Você, por exemplo, já teve a oportunidade de conhecer um pé de
pau-brasil pessoalmente?
O pau-brasil não serve só para fazer tinta.
É com sua madeira, muito dura e pesada, que são fabricados os arcos para os
violinos mais importantes das orquestras mais sofisticadas do mundo; são feitos
também móveis, esculturas. Dele você podia tirar um dos antepassados do rouge,
quer dizer, as mulheres se maquiavam com o pau-brasil. Mas no século XVI, era
só com isso mesmo que eles se importavam: o pigmento.
A moda do vermelho permaneceu por muito
tempo. Na verdade até hoje. Acontece que no século XIX inventaram a anilina. Um
novo produto, maravilhoso, totalmente químico, de onde se podia tirar o mesmo vermelho
do pau-brasil. Com a nova tecnologia, usar roupa tingida com pau-brasil tinha
virado coisa de selvagem (antenados, os índios já usavam o vermelho-brasil
muito antes dele virar moda na Europa).
A anilina decretou o fim da exploração
do pau-brasil. Mas já era tarde demais: quase não existia mais a árvore nas
nossas matas, antes abundante em toda a extensão do litoral brasileiro, do
Ceará ao Rio de janeiro. A essa altura, o apelido que puseram na Terra de Vera Cruz
já tinha pegado definitivamente: Brasil. Em 1961, o presidente Jânio Quadros
decretou oficialmente o pau-brasil como a árvore-símbolo do País. Mesmo que você
nunca tenha visto uma.
Fonte:
Almanaque Brasil Socioambiental (2008)
1 Comentários
Muito legal, consegui fazer mudas mas infelizmente ainda são do Falso Pau Brasil.
ResponderExcluir