COMO
ESQUERDA E DIREITA SE DIFERENCIAM NA ECONOMIA?
Escrito por Alessandro Nicoli de Mattos/Portal Politize!
A esfera econômica reserva grandes embates
entre esquerda e direita. Assim como em outras temáticas, na economia o foco da
discussão é o problema entre interesses individuais e coletivos, cujos valores
de expressão máximos são a diversidade para o individualismo e a igualdade para
o coletivismo, defendidos pela direita e pela esquerda, respectivamente.
Essas diferentes visões são traduzidas
para o campo econômico pelas seguintes diferenças:
Não é possível ser muito específico em uma
lista como essa, pois ambos os lados do espectro podem acolher políticas
econômicas bem diferentes. As características da esquerda são essencialmente
voltadas para o coletivo: meios de produção sob o comando de coletividades
(Estado, cooperativas, comunidades), acordos coletivos entre empresários e
força de trabalho e impostos mais altos para financiar serviços públicos amplos
e para distribuir renda.
Já as características da direita são
essencialmente individualistas: meios de produção sob o comando privado
(indivíduos ou empresas), acordos individuais entre empregadores e empregados e
impostos mais baixos, que deixam mais recursos nas mãos dos indivíduos para
eles decidirem sobre seu uso, porém com serviços públicos menos abrangentes.
Essas características fazem sentido quando
analisadas a partir de suas bases filosóficas, apresentadas anteriormente.
Formas econômicas coletivistas funcionam baseadas no entendimento de que os
indivíduos são bons, altruístas, dispostos a trabalhar em prol dos interesses
da coletividade e a tomar de volta somente o que necessitam. Já formas
econômicas individualistas baseiam-se no entendimento de que os indivíduos
estão mais preocupados com seus interesses particulares do que com a
coletividade e que só se empenharão em atividades que garantam frutos para si,
ou ainda são capazes de usufruir dos resultados do trabalho de outros, sem se
comprometer a contribuir na mesma proporção.
ESQUERDA
E DIREITA NA ECONOMIA: SE RESUME A CAPITALISMO E SOCIALISMO?
Uma das simplificações mais comuns sobre
direita e esquerda é que a direita defende o capitalismo, enquanto a esquerda
defende o socialismo. O capitalismo seria um sistema econômico-social em que
pessoas negociam sua mão de obra para donos dos meios de produção. As famosas
leis de mercado – oferta e demanda – operam com pouca interferência. O
capitalismo também se caracteriza pela garantia da propriedade privada dos
meios de produção (assegurada pelo aparato de segurança do Estado) e pela
acumulação de capital.
Já o socialismo seria um sistema em que os
meios de produção são propriedade coletiva (do proletariado, ou, na maior parte
dos casos, do Estado). O socialismo permitiria o fim da exploração da mão de
obra presente no regime capitalista – segundo a teoria tradicional – e acabaria
com o sistema de classes – burguesia e proletariado. Eventualmente conduziria
ao fim do Estado e posteriormente ao comunismo.
Essa polarização não é de todo verdadeira.
Um exemplo: normalmente identificada como de centro-esquerda, a social
democracia não pressupõe o fim ou a superação do capitalismo, e sim sua
reforma. Em vez disso, defende que o Estado deve possuir papel relevante na
economia, ao prover bens e serviços públicos essenciais à população, bem como
ao assumir atividades econômicas pouco rentáveis, porém socialmente relevantes.
Esses serviços formariam uma rede de bem estar social. Também está ligada às
ideias do economista John Maynard Keynes, que nos anos 1930 escreveu tese de
que o gasto público deve aumentar em tempos de crise, a fim de garantir a volta
ao crescimento econômico.
Por outro lado, ainda que a direita como
um todo abrigue correntes favoráveis ao capitalismo, diferentes tipos de
capitalismo são defendidos. Normalmente, conservadores defendem ideias
nacionalistas, contrárias à globalização, como protecionismo comercial
(barreiras às importações e ao livre movimento de capitais), o que conflita com
a visão de liberais. Existem também liberais mais radicais, que defendem o Estado
mínimo ou até mesmo, em alguns casos, o fim do Estado. A principal
justificativa das correntes liberais para ser a favor do livre mercado é que as
regulações estatais distorceriam a dinâmica natural de mercado, diminuindo a
prosperidade econômica da população.
NA
REALIDADE, QUAL LADO DO EIXO PREDOMINA NA ECONOMIA?
No mundo real, o mais comum é a
convivência de características dos dois lados da tabela. Ao mesmo tempo em que
existem a propriedade privada e a competição de mercado, também existem
instituições e benefícios tipicamente socialistas. As cooperativas (de créditos
ou de negócios, por exemplo) são uma forma de organização econômica socialista
e estão presentes em todos os países desenvolvidos. Direitos trabalhistas como
férias remuneradas, licença maternidade e previdência social – entre outros –
têm seus custos socializados, ou seja, divididos pela sociedade, pois se
entende que esses benefícios são positivos para a sociedade como um todo.
Assim, é importante entender que não há
uma única política econômica em cada lado do eixo. A esquerda pode adotar
políticas econômicas com diversos graus de coletivismo, de economias
planificadas a economias mistas, de políticas econômicas estatais a
desenvolvimentistas. Enquanto isso, a direita pode adotar diferentes graus de
políticas econômicas de mercado, desde um liberalismo econômico com a promoção
da globalização a até mesmo políticas econômicas desenvolvimentistas com fortes
características protecionistas e nacionalistas. Não há resposta uniforme e as
propostas econômicas de cada partido são únicas. Por isso, fique sempre atento
para não cair em simplificações, como a esquerda sempre leva a economias
planificadas e a direita sempre defende o neoliberalismo.
Fonte: http://www.politize.com.br
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