Este ano, até 7 de abril, o Brasil
contabilizou 286 casos de influenza, comumente conhecida como gripe. Desse
total, 117 casos e 16 óbitos foram provocados pelo vírus H1N1, responsável pela
pandemia de 2009. Já o H3N2, menos conhecido, registrou, até o momento, 71
casos e 12 mortes no país. Há poucos meses, uma mutação desse mesmo vírus
provocou a morte de centenas de pessoas no Hemisfério Norte, sobretudo nos
Estados Unidos.
Em entrevista à Agência Brasil, o
infectologista e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, Renato
Kfouri, explicou que a principal característica do vírus influenza é sua
capacidade de sofrer pequenas mutações e causar epidemias que atingem entre 10%
e 15% da população mundial todos os anos. Para o especialista, entretanto, não
há motivo para pânico.
Às vésperas do início da temporada de
inverno no Brasil, ele alertou para a importância da vacinação, sobretudo para
os que integram os chamados grupos de risco. "Assim que a campanha
começar, as pessoas devem procurar a vacina e se proteger antes da entrada da
estação do vírus", explicou.
O Ministério da Saúde informou que a
Campanha Nacional de Vacinação Contra a Gripe deve começar na segunda quinzena deste
mês. Idosos com mais de 60 anos, crianças de 6 meses a menores de 5 anos,
gestantes, puérperas (mulheres com até 45 dias pós-parto), trabalhadores da
área de saúde, professores, detentos, profissionais do sistema prisional e
indígenas compõem o público-alvo.
Confira
os principais trechos da entrevista com o especialista:
Agência
Brasil: Quais vírus do tipo influenza circulam no país neste momento?
Renato
Kfouri: Existem dois grandes tipos de vírus influenza que acometem
humanos: A e B que, por sua vez, possuem diversos subtipos. Eles sofrem
pequenas variações todos os anos e é essa capacidade de fazer mutações leves
que os faz chegar, no ano seguinte, causando uma epidemia, como se a população
não reconhecesse aquilo como uma doença que já teve e acabe adoecendo
novamente.
O Brasil é um país continental e, por essa
razão, temos variações em relação aos subtipos de influenza que circulam neste
momento. Goiânia, por exemplo, abriu a temporada com predomínio de circulação
de H1N1. Já em São Paulo, temos casos confirmados e, inclusive, óbitos
relacionados ao H3N2. Há, portanto, dentro de um país tão grande quanto o
nosso, variações de regiões onde a epidemia anual pode se dar com mais
intensidade por um tipo de vírus ou por outro.
Agência
Brasil: A exemplo do Hemisfério Norte, teremos, no Brasil, uma situação fora do
comum?
Kfouri: A
cada ano, a gente experimenta estações de vírus influenza por vezes mais
graves, por vezes mais simples. Este ano, ainda estamos começando nossa
temporada. Ainda há poucos casos para se chegar à conclusão de que será uma
temporada de predomínio de uma ou de outra variante e com que gravidade.
No Hemisfério Norte, o que circulou na
última temporada foi um H3N2 que tinha sofrido uma mutação maior em relação à
circulação de anos anteriores e foi, talvez, desde a pandemia de 2009, a pior
temporada de influenza que o hemisfério e, especialmente, os Estados Unidos
vivenciaram. O que não quer dizer que isso vai se dar também aqui na América
Latina. As temporadas dependem muito da migração do vírus, das condições
climáticas. Só o acompanhamento da evolução desses casos nos permitirá dizer se
essa será uma temporada de predomínio de circulação de H1N1 ou de H3N2.
Agência
Brasil: Quais as diferenças entre os dois tipos de vírus e qual pode ser
considerado mais grave?
Kfouri: Não
há diferença clínica ou uma série histórica de infecções mais graves por um tipo
de vírus ou por outro. Isso depende dessa variação que comentamos. Um vírus que
muda muito tende a ser muito diferente e a trazer infecções mais sérias porque
não encontra uma memória de proteção na população por exposições anteriores.
Depende muito do tipo de vírus que vai
circular. Se houver predomínio de um H3N2 ou um H1N1 muito diferente do que vem
circulando até então, as chances de encontrar uma população ainda não exposta e
fazer doenças mais graves é maior. Isso teremos que acompanhar durante a
estação.
Agência
Brasil: Como fica a vacinação contra a gripe em meio a todo esse cenário?
Kfouri: Temos
casos de influenza registrados durante todo o ano no Brasil, mas a grande
concentração se dá agora, final do outono e começo do inverno. Por isso, a vacinação
é feita exatamente nessa época que precede a estação do vírus. Vamos vacinar no
final de abril esperando que, em maio, a população esteja imunizada.
Geralmente, de maio a julho é o período de maior circulação do vírus, mas isso
é muito variável de ano para ano. Às vezes, começa um pouco mais cedo, às
vezes, um pouco mais tarde. Não é uma coisa matemática.
Não há que se ter pânico. Há sim que se
vacinar – especialmente aqueles pertencentes a grupos de risco, onde a
vulnerabilidade os torna casos com maiores chances de evoluir com gravidade.
Assim que a campanha começar, as pessoas devem procurar a vacina e se proteger
antes da entrada da estação do vírus. Para os que não pertencem aos grupos de
risco e não têm a vacina gratuita, a orientação é procurar os serviços
particulares e já se imunizar.
Agência
Brasil: Há outros cuidados a serem tomados na prevenção de casos de gripe?
Kfouri: Além
da vacinação, as maneiras importantes de prevenção do vírus da gripe incluem a
lavagem frequente de mãos; se estiver doente, evitar ambientes aglomerados e o
contágio para outras pessoas; usar sempre lenços descartáveis e desprezar esses
lenços; cobrir a boca quando tossir com o antebraço, evitando, com isso, a
disseminação do vírus; na impossibilidade da utilização de água e sabão, usar o
álcool em gel, que tem uma boa ação para limpeza das mãos; crianças devem ser
amamentadas e, se possível, frequentar creches mais tardiamente; não se expor
ao cigarro, seja de forma ativa ou como fumante passivo, já que a fumaça é um
irritante das vias aéreas e facilita a entrada dos vírus. Esses cuidados são
muito importantes também para a prevenção da gripe.
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