Armênios escoltados por soldados otomanos marchando da cidade de Harput (atual Elazığ) para um campo de prisioneiros, abril de 1915
EXISTIU
GENOCÍDIO ARMÊNIO? CONHEÇA A HISTÓRIA DA OCUPAÇÃO DA ARMÊNIA PELA TURQUIA
Escrito
por Camila Luz/Portal Politize!
Entre 1915 e 1918, o governo da Turquia
foi responsável por um dos maiores massacres do século XX: o genocídio armênio.
Cerca de 1,5 milhões de pessoas morreram e outras milhares foram obrigadas a
deixar sua terra natal. A ocupação turca dominou a parte ocidental da Armênia,
dizimando também relíquias culturais de mais de três mil anos de história.
As consequências da ocupação da Armênia
pela Turquia não são reconhecidas por todos os países como um genocídio. O
Brasil, por exemplo, ainda não o fez. Por outro lado, a ONU (Organização das
Nações Unidas) e o Parlamento Europeu já o fizeram. Vamos entender melhor esses
três anos de história?
BREVE
HISTÓRIA DA ARMÊNIA
Durante três mil anos, uma próspera
comunidade armênia existiu dentro da vasta região do Oriente Médio, cercada
pelos mares Negro, Mediterrâneo e Mar Cáspio. A área, conhecida como Ásia
Menor, está na encruzilhada de três continentes: Europa, Ásia e África. Ao
longo dos séculos, a região foi governada por diferentes povos, como persas,
gregos, romanos, bizantinos, árabes e mongóis.
Apesar das repetidas ocupações, a
Armênia conservou sua identidade cultural e seu patriotismo. A nação surgiu em
600 a.C., dando início a uma era de paz e prosperidade, marcada pelo invenção
de um alfabeto e florescimento da literatura, arte, comércio e arquitetura. Em
301 d.C., foi o primeiro país no mundo a adotar o cristianismo como religião
oficial – antes mesmo de Roma.
A primeira invasão turca na Armênia
ocorreu no século XI. A partir de então, a nação ficou sob o domínio do
poderoso Império Turco-otomano. No entanto, nos anos 1800, os exércitos turcos
começaram a perder força e a sofrer constantes derrotas para os europeus. Pouco
a pouco, gregos, sérvios, romenos e outros povos conquistaram sua aguardada
independência.
Na década de 1890, os jovens armênios
passaram a exigir reformas políticas, pedindo um governo constitucional, com
direito de voto, e o fim das práticas discriminatórias. O sultão turco começou
a reprimir as iniciativas, estimulando algumas cidades a organizar autodefesas.
Em Sassun, por exemplo, partidários do partido político “Henchakian”
disseminavam ideias de autonomia e resistência. Na época, os armênios ainda
pagavam impostos especiais para os turcos simplesmente por serem cristãos. Em
resposta às exigências, foram brutalmente perseguidos. Estima-se que mais de
100 mil habitantes tenham sido massacrados neste massacre entre 1894 e 1896,
antes do genocídio.
GOVERNO
JOVENS TURCOS
Até 1908, o Império Turco-otomano era
governado por sultões que concentravam os poderes em suas mãos. Em julho
daquele ano, nacionalistas turcos conhecidos como “Jovens Turcos” forçaram o
sultão Abdulhamid II a abdicar, permitindo a criação de um governo
constitucional que garantiria direitos básicos. Os Jovens Turcos eram oficiais
subalternos do exército que tinham o objetivo de conter o declínio constante do
seu país.
A
OCUPAÇÃO PELA TURQUIA E O GENOCÍDIO NA ARMÊNIA
Quando a Primeira Guerra Mundial eclodiu
em 1914, o Governo Jovens Turco adotou uma política de Pan turquismo para
finalmente restabelecer o poder do Império Turco. O objetivo era “turquificar”
todos os povos, unificado-os. O conflito foi a oportunidade perfeita para
resolver a questão da Armênia e eliminar aquele “obstáculo”.
O extermínio da população armênia
começou ainda em 1914, mas a situação ficou realmente grave a partir de 24 de
abril de 1915, quando centenas de intelectuais foram presos e mortos. Na
segunda fase do massacre, jovens foram recrutados pelo exército turco e, mais
tarde, exterminados pelos próprios colegas.
Por fim, na fase final, mulheres,
crianças e idosos foram conduzidos para centros de realocação em desertos
estéreis da Síria e Mesopotâmia. Aqueles que não foram aniquilados na própria
Armênia padeceram com a fome, a sede e a epidemia de doenças. Milhares de
pessoas foram violadas. Muitos dos armênios sobreviventes foram forçados a
adotar o islamismo. Já as crianças que sobreviveram ao massacre foram separadas
dos pais e criadas como turcas.
O novo governo foi conduzido pelo sultão
Mehmed V, que tinha pouquíssimos poderes políticos reais. A princípio, os
armênios acreditaram que aquela virada política significaria um futuro melhor.
No entanto, suas esperanças caíram por terra quando três integrantes dos Jovens
Turcos (Mehmed Talaat, Ismail Enver e Ahmed Djemal) deram um golpe em 1913,
assumindo o controle total do governo. Eles queriam unir todos os povos sob seu
domínio em uma região, além de expandir as fronteiras da Turquia para o leste
em todo o Cáucaso e Ásia Central.
A Armênia, em especial sua região
histórica ocidental, ficava no caminho dos planos turcos de expansão para o
leste. As desavenças entre as nações eram claras: a relação entre os dois povos
foi se enfraquecendo cada vez mais por diferenças culturais e religiosas, sendo
que extremistas islâmicos da Turquia provocavam ondas de violência contra os
católicos, por exemplo. Além disso, os armênios estavam abertos para reformas
políticas e econômicas, apoiando a democracia e o liberalismo. Os líderes
turcos, por outro lado, davam pouco valor à educação e não estavam alinhados
com as novas ideias que floresciam no Ocidente.
Estima-se que ao menos 1,5 milhões de
armênios morreram entre 1915 e 1923. No início da Primeira Guerra Mundial,
havia cerca de dois milhões vivendo no Império Otomano. Os massacres e
expulsões foram conduzidos pelos nacionalistas turcos e por outras figuras
importantes do governo.
RECONHECIMENTO
DO GENOCÍDIO ARMÊNIO
O termo “Genocídio” foi criado pelo
advogado judeu polonês Raphael Lemkin em 1944, cuja família foi vítima do
Holocausto. Além de fazer referência ao assassinato em massa dos judeus, Lemkin
também procurava descrever as atrocidades cometidas contra os armênios a partir
de 1915.
A palavra “genocídio” é a combinação do
termo grego geno-, que significa “raça ou tribo”, com a palavra latina -cídio,
que significa “matar”. Lemkin definiu a expressão como um “plano coordenado,
com ações de vários tipos, cujo objetivo é a destruição dos alicerces
fundamentais da vida de grupos nacionais para aniquilá-los”.
Em 9 de dezembro de 1948, a ONU aprovou
a “Convenção sobre a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio”, considerando-o
um crime internacional que deve ser combatido por todos os países membros. Além
da Organização Internacional dos Direitos Humanos, instituições como o
Mercosul, a Corte Internacional de Justiça e a Associação Internacional dos
Estudiosos do Genocídio já reconheceram que o massacre armênio trata-se de um
genocídio.
Além da própria Armênia, os primeiros
países a fazer o mesmo foram a Grécia e o Canadá, em 1996. Hoje, mais de 20
países já reconhecem o genocídio armênio, além de 42 dos 50 estados dos Estados
Unidos.
A polêmica gira em torno da possível
premeditação dos atos de extermínio. O artigo número 2 da Convenção de Viena
sobre Genocídio, de dezembro de 1948, o descreve como atos com o objetivo de
“destruir, parcial ou totalmente, um grupo étnico, racial, religioso ou
nacional”. Isto é, se for premeditada com esses objetivos, o massacre se
caracteriza como um genocídio. Ainda que muitos historiadores e políticos
considerem que as atrocidades contra os armênios foram calculadas, as
autoridades turcas argumentam que nunca houve uma tentativa sistemática de
destruir aquela nação. O governo do país diz que muitos muçulmanos inocentes
também morreram durante a guerra.
Em 2015, o Senado Brasileiro reconheceu
o Genocídio Armênio, pressionando o Governo Federal a fazer o mesmo. Por
enquanto, apenas algumas cidades e estados brasileiros o reconhecem, como a
capital paulista, Campinas e o estado do Paraná.
O FIM DO MASSACRE ARMÊNIO
Os armênios resistiram ao extermínio total,
adquirindo armas e lutando contra os turcos. A invasão foi finalmente repelida
na batalha de Sadarabad, em 1918. Após essa vitória, líderes do país declararam
o estabelecimento da República Independente da Armênia.
A Primeira Guerra Mundial terminou no
mesmo ano com a derrota da Alemanha e dos poderes centrais, incluindo a
Turquia. Pouco antes do fim do conflito, os líderes dos Jovens Turcos (Talaat,
Enver e Djemal) fugiram para terras alemãs, onde receberam asilo.
Além da eliminação dos armênios, os
turcos destruíram boa parte do patrimônio cultural da Armênia, incluindo obras
de arte, construções, antigas bibliotecas e arquivos. Cidades inteiras foram
destruídas. Após o extermínio, a Armênia entrou em uma fase de reconstrução. O
Museu e Instituto do Genocídio Armênio, fundado em 1995, é a principal
instituição dedicada à pesquisa e reconhecimento do genocídio no mundo todo.
Fonte: http://www.politize.com.br
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