Indígenas de todo Brasil fazem manifestação no Acampamento Terra Livre (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Indígenas
de mais de 100 etnias fazem mobilização em Brasília
A partir de hoje (23), representantes de
mais de 100 etnias estão reunidos no 15º Acampamento Terra Livre (ATL), no
Memorial dos Povos Indígenas, em Brasília. A expectativa é que mais de 3 mil
pessoas participem do encontro. Os indígenas apelam por mais atenção à
demarcação de terras, cuidados com saúde e educação, assim como investimentos
específicos.
Os apelos ocorreram em meio às
divergências sobre a instalação do acampamento: os indígenas defendiam a
Esplanada dos Ministérios, ao lado do Teatro Nacional Cláudio Santoro, mas o
Governo do Distrito Federal não autorizou. Houve confusão e depois, foi
definido o local. Os indígenas deverão usar tendas de lona no Memorial.
O Acampamento Terra Livre é considerada a
maior mobilização de indígenas do Brasil. Doutorando em Direito, o líder
indígena Dinamam Tuxá pediu que as autoridades públicas invistam em um sistema
de educação menos conservador. Segundo ele, é necessário respeitar o indígena
de tal forma que não seja tratado como um "ser exótico". De acordo
com ele, o preconceito vem na infância, nos livros escolares, em que os
indígenas aparecem nus e alheios à tecnologia.
Casada com um branco, a líder Telma
Tapirapé é considerada uma rebelde entre os indígenas. Indiferente às críticas,
ela incentiva a participação feminina nas mobilizações e elogiou a atuação das
mulheres kaingang. Entre os indígenas, há o costume de ouvir apenas as
lideranças, nem todos falam. Telma rompeu este hábito.
Mulheres indígenas de todo o Brasil chegam ao Acampamento Terra Livre (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
"Se jogasse um alfinete no meio do
salão, você o ouvia cair. Tava todo mundo calado. Eu disse: 'Agora, tão aqui as
mulheres e elas precisam falar.' Quando terminei, todo mundo aplaudiu e eu saí.
Veio um branco e disse: 'Meu Deus, você acaba de quebrar um protocolo aí",
contou Telma Tapirapé referindo-se a reuniões anteriores.
Consciente dos problemas que perpassam
entre os indígenas e brancos, Telma Tapirapé costuma abordar a necessidade de
ações de combate à dependência química e álcool, assim como o fortalecimento do
empoderamento feminino. Segundo ela, uma das suas preocupações se concentram no
atendimento às mulheres vítimas de violência de gênero.
Até o próximo dia 27, há programações
intensas no Acampamento Terra Livre com reuniões plenárias, rituais, rezas,
danças, lançamentos de publicações e a projeção de filmes e documentários.
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