Formação conhecida como Pedra Furada
Parque
Nacional Serra da Capivara
Niéde
Guidon*
O Parque nacional Serra da Capivara, no
sudeste do Piauí, tem uma área de 130.000 ha, com um relevo típico de chapadas
e serras. O clima da região é semiárido e a estação seca dura de cinco a seis
meses. Em épocas pré-históricas, as condições ambientais eram diferentes. Um
clima tropical úmido perdurou até cerca de 10.000/9.000 anos atrás, a vegetação
era abundante e garantia condições de alimentação para uma fauna, na maioria,
herbívora. Durante milênios, espécies da megafauna existiram na região e
coabitaram com grupos humanos e com a fauna de pequeno porte. As espécies mais
representadas eram a preguiça-gigante, o tigre-de-dente-de-sabre, o mastodonte,
lhamas e o tatu-gigante.
Os primeiros grupos humanos chegaram à
região há 100.000 anos. Instalaram-se lentamente, desenvolvendo uma cultura
adaptada às condições ambientais. Há vestígios muito antigos em três sítios
abertos à visitação: Boqueirão da Pedra Furada, Sítio do meio e Caldeirão do
rodrigues.
Os abrigos-sob-rocha são formados pela
erosão que, agindo na base dos paredões rochosos, vai desagregando a parte
baixa das paredes fazendo com que se forme, no alto, uma saliência que funciona
como um teto. Com o progresso da erosão, fratura-se e desmorona. Os homens
utilizaram os abrigos como acampamento, local de enterramentos e suporte para a
representação gráfica da sua tradição oral. Sobre os vestígios deixados por um
grupo humano, a natureza depositava sedimentos. Novos grupos, nova
sedimentação. A repetição desse ciclo durante milênios forma as camadas
arqueológicas, nas quais são encontrados elementos que permitem a
reconstituição da vida dos povos pré-históricos.
O sítio Boqueirão da Pedra Furada
encontra-se a 19 m acima do nível do vale, protegido por grandes blocos
originários do desmoronamento do paredão rochoso. A formação das camadas
arqueológicas deste sítio durou 100.000 anos. As escavações, iniciadas em 1978,
duraram dez anos e permitiram a descoberta dos mais antigos vestígios, até hoje
conhecidos, da presença humana nas Américas: fogueiras estruturadas e uma grande
quantidade de artefatos de pedra lascada. Os pequenos vestígios mais antigos de
pinturas datam de 23.000 anos e 17.000 anos, enquanto que pinturas representando
temas semelhantes aos que subsistem hoje nas paredes foram pintadas, no mínimo,
entre 12.000 e 6.000 anos atrás.
Um exemplo das pinturas que podem ser encontradas no parque.
No período Pleistocênico, as populações
já praticavam atividades gráficas. As pinturas rupestres são a manifestação
mais abundante e espetacular deixada pelas populações pré-históricas.
Fragmentos de parede, com traços de pintura, foram achados caídos sobre solos arqueológicos.
Sobre as paredes dos abrigos existe uma densa quantidade de pinturas rupestres
realizadas durante milênios. As representações animais são muito diversificadas,
sendo possível reconhecer espécies inexistentes hoje na região e outras
totalmente extintas, como camelídeos e preguiças-gigantes. Há reproduções de
capivaras, veados galheiros, caranguejos, jacarés e certas espécies de peixes,
hoje desaparecidas.
A partir do início do holoceno, as
chuvas diminuíram. A vegetação também diminui, as fontes de alimentação se
tornam escassas e a megafauna desaparece totalmente, junto com as espécies dos
ecossistemas úmidos. As transformações não afetam a sobrevivência dos grupos
humanos. Um novo período cultural começa a ser desenvolvido pelas populações
implantadas na região entre 12.000 e 3.500 anos atrás. Trata-se dos mesmos grupos
étnicos que povoaram a região anteriormente que se adaptam às novas exigências
do meio ambiente. Essas populações são conhecidas como povos de tradição nordeste
e desenvolvem uma cultura material com técnicas cada vez mais aprimoradas.
A partir de 3.500-3.000 anos atrás, encontramos
os primeiros vestígios deixados por povos agricultores, mas esta prática pode
ter existido anteriormente. Entre 3.000 e 1.600 anos, encontramos vestígios de
povos que viviam em aldeias deforma circular. Os primeiros ceramistas aparecem por
volta de 8.900 anos atrás. Temos ainda registros da presença desses grupos até
o período colonial, quando foram exterminados.
A Fundação museu do homem Americano
(Fumdham) foi criada pelos pesquisadores da missão Franco-Brasileira do Piauí,
em 1986, em São Raimundo Nonato. Em parceria com o Iphan e com o Ibama, a
Fumdham participa dos trabalhos de proteção e preservação dos patrimônios cultural
e natural da região do Parque nacional. A Fundação elaborou o Plano de manejo
do Parque, definindo, como única maneira de assegurar sua proteção, alcançar o
desenvolvimento econômico e social da região. Estudos definiram que, em razão
do solo pobre e do clima irregular, com secas cíclicas, somente apicultura e
turismo podem ser fontes seguras de produção e criação de mercados de trabalho
com salários dignos. Desde 1989 foram criadas escolas e os trabalhos de preparação
do Parque para receber turistas tiveram início.
Em 1990, a Fumdham preparou documentação
para que o governo brasileiro pudesse solicitar a inclusão dos sítios de
pintura rupestre da região na lista do Patrimônio Cultural da humanidade,
título concedido em 1991. Hoje o Parque conta com 28 guaritas (três públicas e
25 de serviço) e um corpo de mais de 50 vigilantes que está evitando a ação dos
caçadores e permitindo a recomposição das populações animais. Em algumas zonas,
onde a erosão estava destruindo a cobertura vegetal e criando enormes voçorocas,
foi iniciado o manejo da floresta e construídas cercas e barreiras para diminuir
a força das enxurradas, estancando assim o processo erosivo. Em áreas do
Parque, mais atingidas pela ação antrópica, foi iniciado o reflorestamento,
tendo alcançado até 15% de sucesso nos três primeiros anos.
O Parque conta com uma infraestrutura
que viabiliza a visitação de 128 sítios rupestres pré-históricos e um Centro de
Visitantes, que oferece diferentes serviços. o sítio do Boqueirão da Pedra
Furada foi transformado em museu a céu aberto. Os assentamentos, nos quais
vivem muitos caçadores, e as queimadas anuais são as principais ameaças a este
patrimônio único no mundo.
Turistas observando, as cavernas com pinturas rupestres.
Fonte:
Almanaque Brasil Socioambiental (2008)
1 Comentários
Olá tudo bem? Meu nome é Vitor Guariento, falo como dono do Guariento Portal, uma espécie de site que fala sobre curiosidades ele geral. Falo de jogos, de filmes, análises, viagens, culinária. Enfim, tudo que dá na telha. E uma das coisas que ligou o seu site ao meu foi exatamente esse post sobre as pinturas rupestres encontradas no Parque Nacional da Serra da Capivara. Se puder dar uma passada lá eu agradeceria de montão. https://guarientoportal.com/2020/03/12/serra-da-capivara-brasil/
ResponderExcluirValeu desde já e obrigado!