Um pé
de quê? Sumaúma
Para a antiga civilização maia, a terra
era plana e o universo era um cubo, um quadrado cósmico. Sua estrutura era
sustentada por uma árvore imensa: Yaxche, a árvore da vida. Os maias
acreditavam que essa árvore unia todas as instâncias do universo. Suas raízes
atingiam o mundo inferior, o mundo dos mortos. O tronco repousava no mundo do
meio, a Terra. Os galhos sustentavam o mundo superior, o céu, onde viviam os
deuses. A civilização maia dominou a América Central por quase três mil anos e
desapareceu de repente. Ninguém sabe muito bem como, nem porquê. O que se sabe
é que a grande Yaxche, a árvore da vida, durou mais que os maias.
A árvore sagrada dos maias era a Ceiba
pentranda – a sumaúma, ou samaúma. Desde o fim dos maias, novas civilizações inventaram
outras lendas a respeito dessa árvore. Em todas elas, a sumaúma sempre aparece
como uma árvore sagrada: “a mãe da floresta”, “a mãe dos rios”, “a escada para
o céu”.
A sumaúma não era o centro do universo
maia à toa. Ela é a maior árvore das florestas tropicais, uma das maiores do
Planeta. Conectando o mundo interior com todos os mundos dimensionais, a
“árvore da vida” maia era uma espécie de matriz do universo, e detinha todo o
conhecimento e as forças da natureza.
Mas não precisa ser maia ou acreditar em
árvores sagradas para ser guiado por uma sumaúma. Na Amazônia, as sumaúmas
sempre guiaram os barqueiros: elas servem de pontos de referência e de
localização para a navegação dos rios amazônicos, principal meio de locomoção e
comunicação na região. E quem já viajou por aí sabe que a geografia plana e a
massa verde da floresta não ajudam nada na localização. Qualquer sumaúma mais
alta na margem vira ponto referência. Assim, a sumaúma virou o GPS da floresta.
A sumaúma prefere o solo encharcado de
várzeas e matas alagadas, mas mesmo assim existem muitas sumaúmas na mata.
Quando está no meio da floresta, aparece muitas vezes em áreas de ocupação de
indígenas pré-históricos, chamadas de terra preta. Na terra firme ou nas
várzeas, é sempre enorme e imponente: sua altura pode chegar até a 70 metros.
Com todo esse tamanho, a sumaúma está sujeita aos ventos, às tempestades, ao seu
próprio peso. Para compensar, ela se equilibra em raízes gigantes, as
sapopemas, que vão se espalhando até 300 metros por dentro da mata.
Desde sempre, e até hoje, o homem da
floresta usa a sapopema para dizer que está chegando em casa, que se perdeu na
mata, que não está a fim de visitas. Basta bater na raiz com um pedaço de
madeira, ou mesmo com a mão, que ela ecoa um som característico. Comunicando mensagens
prosaicas ou trazendo mensagens de todas as dimensões do universo, como
acreditavam os maias, o estrondo da sumaúma não passa despercebido. E não tem só
esse tipo de barulho. A barriga dela ronca também.
Uma vez, o Tom Jobim, dando uma entrevista
no Jardim Botânico do Rio, disse que costumava encostar o ouvido no tronco da
sumaúma para ouvir o barulho da seiva correndo. Esse fluxo tão barulhento de
seivas acontece porque essa é uma árvore gigante. Sua copa está acima de todas
as outras árvores, evitando que o céu caia nas nossas cabeças (como pensavam os
maias) ou protegendo os bichos preguiça, saguis e gambás que, logo que farejam
uma ameaça, sobem pelo tronco até lá em cima. Na copa de uma sumaúma, nada pode
te alcançar.
Fonte: Almanaque Brasil Socioambiental (2008)
Fonte: Almanaque Brasil Socioambiental (2008)
2 Comentários
Estou simplesmente maravilhada com essa árvore! Não sabia da sua existência.
ResponderExcluirAdoro árvores, mas essa foi uma descoberta sensacional!
Espetacular, não conhecia nada sobre samaúma! Amo árvores!
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