Com incentivo do governo,
Brasil lidera uso de agrotóxicos que matam 184 por ano
Isenção fiscal do PIS, redução de 60% no
ICMS e limite alto para contaminação da água explicam o uso massificado de
veneno
Desde 2008, o Brasil é o principal
consumidor de agrotóxicos do planeta, representando 20% do total mundial, e o
impacto desse uso vai além da produção de alimentos agrícolas em larga escala,
que não signfica melhoria na oferta de alimentos para os brasileiros, pelo
contrário, a prática do uso de agrotóxicos é responsável por um número alto de
mortes todos os anos.
Ada Cristina Pontes Aguiar, professora da
Universidade Federal do Cariri (UFCA) e participante do Núcleo Trabalho Meio
Ambiente e Saúde (TRAMAS) da Universidade Federal do Ceará (UFC), afirma que “é
um problema estrutural, há um alto incentivo aos agrotóxicos - inclusive em relação
aos impostos”.
O governo brasileiro concede redução de
60% do ICMS (imposto relativo à circulação de mercadorias), isenção total do
PIS/COFINS (contribuições para a Seguridade Social) e do IPI (Imposto sobre
Produtos Industrializados) à produção e comércio dos pesticidas, segundo o
presidente do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), João
Eloi Olenike.
O uso massivo dos agrotóxicos também pode
ser explicado a partir do modelo econômico que, desde 2000, é pautado
principalmente na exportação de commodities, produtos primários. Cerca de 52%
dos herbicidas comprados são utilizados na soja, grande destaque da produção
brasileira.
A comparação quanto ao uso de agrotóxicos
no Brasil e na União Europeia mostra resultados discrepantes. Estudo realizado
por Larissa Mies Bombardi, professora de Geografia da Universidade de São
Paulo, denota que a legislação brasileira permite uma contaminação na água
potável com limite cinco mil vezes superior ao máximo do que é aceitável na
Europa.
Enquanto países membros da União Europeia
toleram até 0,1 micrograma de glifosato por litro de água, o Brasil permite até
500 microgramas por litro. Além disso, o país apresenta casos numerosos de
intoxicação por agrotóxicos. Dados do Ministério da Saúde revelam que, de 2007
a 2014, tivemos 1.186 casos de morte por este motivo, ou seja, 148 por ano,
resultando em uma morte a cada dois dias e meio.
Subnotificação
As estatísticas da Fiocruz (Fundação
Oswaldo Cruz), a qual apresenta um serviço de apoio sobre intoxicação aos
profissionais da saúde, estima uma média de um caso de intoxicação a cada 90
minutos. Esse dado se revela muito pior quando considerado casos não
notificados.
Calcula-se que para cada caso de
intoxicação no Brasil, há 50 casos não notificados. Os casos crônicos, aqueles
a que o indivíduo - geralmente trabalhador na agricultura - é exposto repetidas
vezes ao toxicante, dificilmente aparecem nas estatísticas. Nas palavras de
Aguiar, “as vias de contaminação são múltiplas: no trabalho, em casa, com a
pulverização aérea, no alimento e água que consomem”.
Há um alerta também para o modo com que as
empresas agrícolas e o sistema de saúde tratam o assunto. O primeiro a partir
de uma impertinência das empresas a que cedem serviços e o segundo com
diagnósticos imprecisos no âmbito de saúde. De acordo com Aguiar “a grande
maioria dos trabalhadores não procura os centros de saúde, porque sofrem um
assédio moral grande nas empresas para que estes não procurem os serviços, e
também porque não há um trabalho específico nos centros de saúde para estes
casos, né? Nem perguntam no que a pessoa trabalha, portanto muitos não vão”.
Fonte: https://www.brasildefato.com.br
Fonte: https://www.brasildefato.com.br
0 Comentários