Desmatamento
no Cerrado aumentou 9% em 2017
A divulgação dos resultados pelo Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) do Prodes Cerrado com os dados do
desmatamento no bioma marca uma nova etapa há muito esperada e necessária: o
monitoramento e divulgação anual da perda de vegetação no Cerrado assim como
ocorre com a Amazônia.
Esse avanço possibilitará à sociedade
civil o acompanhamento e análise dos dados para exercer seu papel de monitorar
e estimular avanços nas políticas públicas de combate ao desmatamento e de
redução nas emissões de gases de efeito estufa no Brasil.
Os resultados divulgados pelos ministérios
do Meio Ambiente (MMA) e da Ciência Tecnologia, Informação e Comunicações
(MCTIC) no dia 21 de junho, indicando a redução do desmatamento, no entanto,
ainda não são animadores.
O Prodes Cerrado registrou perda de área
nativa de 6.777 km2, em 2016, e de 7.408 km2, em 2017, o que representa redução
de 43% e 38% em relação a 2015, ano em que foram apresentadas estimativas para
a perda florestal no bioma.
A perda de 7.408km2 em 2017 mostra um
aumento absoluto de 9% em relação à 2016 que pode indicar uma tendência de
aceleração já neste ano de 2018. “O tamanho da área desmatada anualmente no
Cerrado ainda é inaceitável, uma vez que coloca em risco um dos nossos mais
valiosos biomas”, destaca Mauricio Voivodic, diretor-executivo do WWF-Brasil.
“O governo tem um papel importante no
controle do desmatamento no Cerrado, fortalecendo a governança, evitando
práticas ilegais e protegendo por meio de Unidades de Conservação as áreas mais
sensíveis para a biodiversidade e a produção de água”, completa Voivodic.
Os resultados do Prodes Cerrado reiteram
que a região do MATOPIBA (porções de Cerrado nos estados do Maranhão,
Tocantins, Piauí e Bahia) continua sendo a campeã em desmatamento. Essa área é
considerada a última fronteira agrícola e tem perdido grande parte de sua
vegetação para a produção de soja e pecuária, principalmente. Isso porque mais da metade do bioma já foi
dizimada e esta é uma das poucas regiões que ainda concentra Cerrado
preservado.
Os setores produtivos de soja e
pecuária não têm mecanismos efetivos
para evitar produtos vindos de área desmatada. “Na ausência desses mecanismos
no setor privado, há grande risco de o desmatamento no Cerrado voltar a
crescer. O aumento entre 2016 e 2017 pode ser um sinal da retomada da expansão
da soja sobre vegetação natural”, avalia Mauricio Voivodic.
Nos últimos dez anos, o Cerrado teve as
maiores taxas de desmatamento do Brasil e não tinha o monitoramento periódico
do desmatamento. Em 2015 o MMA apresentou estimativas de perda do bioma. Agora,
com os dados lançados pelo Prodes Cerrado, é possível mensurar a taxa de perda
de vegetação anual e entender a dinâmica do desmatamento, o que se espera que
ajudará na sua fiscalização.
Segundo estudo divulgado na revista Nature
Ecology & Evolution (Strassburg, B. et al, 2017), se nada for feito para
conter o ritmo de degradação, o bioma pode sofrer o maior processo de extinção
de espécies de plantas já registrado na história, com três vezes mais perdas de
flora do que houve desde 1500.
“Essa região, que originalmente ocupava
1/4 do território brasileiro, é considerada uma das mais ricas em
biodiversidade no planeta. Toda essa riqueza vem sendo severamente
negligenciada no último meio século. Essa visão míope sobre o valor do Cerrado
compromete não só a biodiversidade, mas também 70% das águas que geram energia.
Temos que agir enquanto há tempo. Encarar o Cerrado como um bioma que pode ser
entregue à produção de maneira desordenada não é uma escolha aceitável”, afirma
Júlio César Sampaio, coordenador do Programa Cerrado Pantanal do WWF-Brasil.
Segundo o coordenador do Programa
Agricultura e Alimentos do WWF-Brasil, Edegar de Oliveira Rosa, temos uma
oportunidade única, neste momento, de salvar o restante do Cerrado sem impactar
a perspectiva futura de crescimento da produção agropecuária. “Se promovermos
uma intensificação da pecuária, liberaríamos áreas para a expansão agrícola
prevista para o futuro, sem necessidade de desmatar nenhum hectare a mais de
vegetação natural. Uma situação de ‘ganha-ganha’ para o produtor rural e para a
conservação do bioma. Hoje temos mais de 30% das áreas de pastagem do bioma
produzindo muito abaixo do seu potencial produtivo. Isto é um desperdício de um
recurso natural tão importante”, completa Edegar Rosa.
Apesar do risco de extinção do bioma, o
Cerrado ainda é pouco protegido pelo Código Florestal (apenas 20% da área
privada é protegida) e a prorrogação, pela quarta vez, do prazo para registro
das propriedades rurais no Cadastro Ambiental Rural (CAR) favorece o
agronegócio no sentido de não cumprir com a lei de proteção de Áreas de
Preservação Permanente e Reservas Legais.
Fonte: https://www.wwf.org.br
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