JERUSALÉM: ENTENDA O CONFLITO POR ESSE TERRITÓRIO
Escrito
por Paulo Gorniak/Portal Politize!
Em maio de 2018, os Estados Unidos
inauguraram sua embaixada em Jerusalém, isso significa que eles passaram a
reconhecer a cidade como a capital de Israel. Essa mudança gerou inúmeros
protestos por parte dos palestinos, resultando inclusive em mortes. A grande polêmica
por trás desse fato é que tanto judeus quanto palestinos reivindicam a posse de
Jerusalém para si, como capital do seu Estado.
Mas, afinal, porque esses Estados
reivindicam Jerusalém? Qual a importância da cidade para esses povos? A
resposta, como tudo o que envolve o conflito entre israelenses e palestinos,
não é simples.
JERUSALÉM
E O DIREITO DIVINO
Jerusalém é uma cidade sagrada para as
três maiores religiões do planeta: judaísmo, cristianismo e islamismo. Entenda
os motivos:
Para os judeus, Jerusalém é considerada
divina porque foi a capital do Reino de Davi. Esse também foi o local onde o
Rei Salomão construiu o templo para guardar a Arca da Aliança – aquela que
continha os restos das tábuas sagradas nas quais foram escritos os 10
mandamentos. O templo foi destruído pelos romanos em 70 d.C., mas uma das
paredes dele ainda está de pé e é conhecida hoje como Muro das Lamentações – o
lugar mais sagrado para o judaísmo.
Por sua vez, os cristãos acreditam que
Jerusalém foi onde Jesus realizou diversos milagres e também foi traído, preso,
crucificado e voltou dos mortos. No local onde acredita-se que Jesus foi
sepultado e ressuscitou, foi construída a Igreja do Santo Sepulcro.
Já para os muçulmanos, Jerusalém foi a
cidade para onde o profeta Maomé peregrinou depois de passar por Meca e Medina.
No início do Islã, os seguidores rezavam virados para Jerusalém, pois foi onde
Maomé subiu aos céus e encontrou-se com os outros profetas, inclusive Jesus.
Isso teria acontecido no mesmo local onde estava o Templo de Salomão e a Arca
da Aliança, e ali foi construída uma mesquita.
Ou seja, o mesmo lugar – chamado de Monte
do Templo pelos judeus e de Esplanada das Mesquitas pelos islâmicos – é sagrado
para essas três religiões. Além disso, tanto judaísmo quanto islamismo
consideram a cidade o centro do mundo, onde Deus começou tudo. Isso faz de
Jerusalém a cidade mais importante para essas duas religiões. Para o
cristianismo, o local mais importante é a Santa Sé, o Vaticano.
JERUSALÉM
E O DIREITO HUMANO
O primeiro plano sobre a posse de
Jerusalém foi estabelecido no Plano da ONU para a partilha da Palestina, que
criava o Estado de Israel e o Estado da Palestina em 1947. Segundo esse acordo,
a cidade seria um caso especial – um “corpus separatum” – que deveria ter uma
administração internacional. Isso devido à sua importância histórica e
religiosa, que a impediria de “pertencer” a apenas um povo, mas que seria de
toda a humanidade. Entretanto, isso nunca chegou a entrar em vigor.
Em 1948, logo após a guerra de
Independência de Israel, os judeus entraram em disputa com seus vizinhos árabes
– Egito, Jordânia, Iraque, Síria e Líbano – que não aceitavam um estado judeu
ali. No fim do conflito, Jerusalém foi dividida entre Jerusalém Ocidental – de
controle israelense – e Jerusalém Oriental – sob controle da Jordânia, um país
muçulmano que sempre apoiou os palestinos. É na porção oriental, sob controle
árabe, que estava grande parte da cidade antiga – onde se localizam os pontos
históricos sagrados.
A
GUERRA DOS SEIS DIAS E O CONTROLE DE ISRAEL
Um evento marcante na história das
disputas entre árabes e judeus foi a Guerra dos Seis Dias, em 1967. Com a
justificativa de que estava se antecipando a um inevitável ataque dos vizinhos
árabes, Israel iniciou um conflito surpresa e derrotou Egito, Jordânia e Síria.
Com essa vitória, Israel anexou vários territórios – entre eles a Faixa de
Gaza, ocupada por palestinos, e as Colinas de Golã, que pertenciam à Síria. Foi
nessa guerra também que os judeus assumiram o controle da cidade de Jerusalém
inteira.
Ao longo dos anos, na tentativa de
legitimar a posse de Jerusalém Oriental, os israelenses construíram diversos
assentamentos para judeus nesse território. Entretanto, a comunidade
internacional não reconhece a área como território de Israel.
Em 1980, Israel criou uma lei anexando
oficialmente Jerusalém Oriental ao seu território. A Organização das Nações
Unidas e vários países consideraram a medida ilegal – status que permanece até
hoje – e, por essa razão, transferiram suas embaixadas para Tel Aviv. O
entendimento era o seguinte: se mantivessem suas representações diplomáticas em
Jerusalém, esses países estariam concordando que Jerusalém seria a capital de
Israel, ou seja, de que a cidade pertencia apenas aos judeus.
Em 1993, israelenses e palestinos
assinaram os Acordos de paz de Oslo, com o objetivo de resolver o conflito.
Nesse acordo, entre outras coisas, palestinos e israelenses se reconhecem
mutuamente como povos e, portanto, com direito a ter seus respectivos Estados.
No entanto, ficou estabelecido que a situação de Jerusalém seria discutida no
futuro, quando os entendimentos entre os dois povos já estivessem mais
consolidados. Ou seja, dada a complexidade e a sensibilidade do assunto, ele
foi deixado “em aberto”.
A
SITUAÇÃO ATUAL DE JERUSALÉM
Dentro de Jerusalém, nos bairros onde moram
judeus, muçulmanos e cristãos, vive-se em relativa paz e harmonia, com todos os
moradores exercendo seu direito de devoção religiosa. Entretanto, há acusações
de segregação e de diferenciação socioeconômica – subempregos, piores condições
de moradia e desigualdade salarial, por exemplo – entre os árabes residentes –
cujos documentos foram expedidos pela Autoridade Nacional Palestina – os árabes
israelenses – cidadãos israelenses –, assim como os judeus israelenses. Além
disso, há também acusações de que os judeus – com o apoio do governo israelense
– estariam pouco a pouco comprando as casas e ocupando espaços de muçulmanos no
bairro árabe.
O que
significa a mudança da embaixada dos Estados Unidos para Jerusalém?
Os Estados Unidos, desde a criação do
Estado de Israel no final da Segunda Guerra Mundial, foram aliados dos judeus.
Essa aliança se tornou ainda mais estreita depois da Guerra do Yom Kippur em
1973, na qual a ajuda norte-americana por meio de envio de armas e dinheiro foi
essencial para que Israel não fosse derrotada.
Ainda assim, os Estados Unidos sempre
buscaram agir de forma neutra, inclusive se colocando como mediador para a
resolução do conflito entre israelenses e palestinos. Não por acaso, o tratado
de paz de 1978 foi assinado em Camp David, nos EUA.
Com a iniciativa dos Estados Unidos de inaugurarem
sua embaixada em Jerusalém, Donald Trump demonstra que o país não está mais tão
neutro e assim favorece seus aliados históricos israelenses. Para justificar os
motivos que o levaram a tomar essa atitude, coisa que seus antecessores vinham
evitando nas últimas décadas, Trump argumentou que nada do que vinha sendo
feito até agora tinha dado resultado. Portanto, não adiantava continuar agindo
da mesma forma e por isso era necessário tomar novas atitudes. Ou, nas palavras
dele: “Não estamos próximos de um acordo de paz duradouro. Seria loucura
assumir que a repetição da mesma fórmula poderia conquistar algo diferente.”
Alguns outros países como Guatemala,
República Tcheca e Romênia sinalizaram que podem fazer o mesmo. Já a maioria da
comunidade internacional, como a União Europeia e o Brasil, são contra a
mudança e defendem que o que vale é o acordado em 1947, ou seja, a
administração internacional de Jerusalém.
No dia 18 de julho de 2018, o parlamento
israelense aprovou uma Lei Básica – legislação de mais alto grau no país, algo
equivalente à nossa Constituição, por exemplo. Essa normativa especifica
formalmente os símbolos nacionais, como bandeira, hino, idiomas e religiões
oficiais do Estado. Em um dos parágrafos, dispõe-se que “Jerusalém, completa e
unida, é a capital de Israel”. Toda a comunidade palestina, e inclusive alguns
grupos israelenses, consideraram a lei discriminatória e dizem que ela pode
piorar ainda mais os conflitos.
A posse de Jerusalém é um assunto
complexo, motivado por parte de uma história ainda mais antiga e complexa que é
o confronto entre judeus e palestinos, o qual dura há mais de um século. A
única certeza que podemos ter é que ainda estamos longe de ver uma solução.
Fonte: politize!
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