Áreas úmidas amazônicas
passam boa parte do ano alagadas, diz estudo
As florestas existentes nas planícies dos
rios amazônicos passam quase metade do ano alagadas, revela estudo feito por um
doutorando no Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista
(Unesp), campus de Rio Claro, com apoio da bolsa da Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). São 3.615 espécies de árvores
conhecidas, número três vezes mais do que o registrado em vegetações como
igapós, pântanos, campinas, mangues e várzeas, que constituem as áreas úmidas
amazônicas.
“A lista com o nome de todas as espécies é
a grande contribuição desse trabalho, que tem acesso aberto. Com a lista, será
possível avançar em estudos futuros, pois há um vazio de conhecimento botânico
sobre as áreas úmidas, principalmente nos afluentes dos rios Solimões e
Amazonas. Se houvesse mais inventários, o número de espécies poderia triplicar
de novo rapidamente”, disse o primeiro autor do artigo, Bruno Garcia Luize.
Para elaborar o estudo, os autores
combinaram dados disponíveis em inventários florestais e coleções biológicas
sobre os nove países onde a bacia amazônica está. O aumento do número de
espécies é resultado da ampliação da área de investigação e dos tipos de
habitat.
“Estudos anteriores focavam apenas nas
florestas alagáveis das várzeas dos rios de água branca e nas planícies de
inundação. Incluímos dados de igapós, de campinas alagadas e de mangues, por
exemplo. Conseguimos também acrescentar dados, além da calha do
Solimões-Amazonas, de afluentes importantes a partir de raros inventários florestais
nos rios Purus, Juruá, Madeira e vários outros”, ressaltou Luize.
Segundo Luize, a grande sazonalidade das
florestas de áreas úmidas que têm períodos de seca e de alagamento, podem
deixar as árvores com até 8 metros de alagamento, o que faz com essas áreas
sejam filtros ambientais que selecionam os indivíduos e espécies capazes de
tolerar inundações. Mesmo assim, o total de espécies das áreas úmidas
amazônicas compreende 53% das 6.727 espécies confirmadas em estudo mais recente
da flora arbórea de toda a Amazônia.
Luize explicou também que a alta proporção
de árvores ocorre pelo intercâmbio das espécies, que as áreas alagadas demandam
um metabolismo diferente das árvores e que algumas espécies de terra firme
também conseguem tolerar as condições de inundação.
“Porém, estudos mostram que as populações
nos diferentes ambientes não têm a mesma performance. Basicamente, isso quer
dizer que, se for plantada uma semente da mesma espécie de terra firme em uma
área inundada, e vice-versa, elas provavelmente não vão vingar. Com isso,
chegamos ao extremo que são espécies exclusivas de ambientes de áreas úmidas,
ou que só ocorrem nos ambientes de terra firme”, disse.
Fonte: Agência Brasil
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