Posto de Saúde incendiado em comunidade de Jatobá
Posto de Saúde da Família na aldeia Bem Querer de Baixo, área de conflito entre índios e posseiros não-índios no interior da Terra Indígena dos Pankararus, no município de Jatobá, em Pernambuco
Comunidades
indígenas denunciam ao menos quatro ataques em MS e PE
Ao menos dois ataques intimidatórios a
comunidades indígenas foram registrados, nos últimos dias, em Mato Grosso do
Sul e em Pernambuco. Autoridades e a Fundação Nacional do Índio (Funai)
confirmam o registro. O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) informa ter
recebido relatos de outras duas ações violentas em Mato Grosso do Sul. Os atos
envolveram uso de armas de fogo, balas de borracha, além de atearem fogo a uma
escola e um posto de saúde. Não há registros de mortes, mas de feridos.
De acordo com os relatos, os ataques
ocorreram entre a madrugada do último domingo (28) e esta segunda-feira (29). O
caso mais violento, confirmado pela Funai, foi contra moradores da aldeia
Bororó, uma das várias existentes no interior da Reserva Indígena Dourados.
Localizada no perímetro urbano, a Reserva de Dourados é a área indígena de
maior concentração populacional étnica do país, com cerca de 13 mil habitantes
distribuídos por uma área de cerca de 3 mil hectares (cada hectare corresponde
às medidas aproximadas de um campo de futebol oficial).
Índios guarani-kaiowá da aldeia Bororó
relataram a missionários do Cimi que, na madrugada do último domingo, foram
surpreendidos pelo ataque de um grupo composto por índios de outras comunidades
e não-índios. Os agressores se aproximaram da aldeia em caminhonetes e com um
trator. Alguns deles dispararam contra o grupo. Além de pelo menos quatro
feridos com balas de borracha, dois jovens foram atingidos por projéteis de
armas de fogo. Uma das vítimas, que levou um tiro na perna, foi atendida no
Hospital da Vida e já teve alta. Por medo, um outro indígena também baleado na
perna não quis ser socorrido fora da aldeia e, de acordo com um missionário do
Cimi, continuava com a bala alojada até a tarde de ontem.
A secretaria estadual de Justiça e
Segurança Pública informou que a Polícia Civil instaurou procedimento para
apurar o caso, mas antecipou à Agência Brasil que “as informações preliminares
dão conta de que houve um possível conflito entre indígenas”. No entanto,
missionários do Cimi que pediram para não ter seus nomes divulgados por
questões de segurança pessoal classificaram a manifestação como “precipitada”.
“Ela [a secretaria] não leva em conta a
complexidade da situação local, inclusive a situação de vulnerabilidade das
comunidades que vivem na área e em seu entorno. Uma situação que obriga muitos
índios a se sujeitarem a interesses maiores”, comentou um dos missionários do
Cimi, lembrando que muitos índios trabalham para fazendeiros da região. Segundo
os missionários, isso acontece porque o “confinamento” das comunidades em meio
à área urbana e áreas de plantio as impede de desenvolver atividades
tradicionais necessárias à manutenção de seu crescimento populacional.
“Parte deste conflito interno se deve à
grave situação local, uma situação de crise humanitária. Houve um ataque,
pessoas foram baleadas e quem os atacou deve ser identificado e levado à
Justiça. O risco é considerar isso única e exclusivamente como um conflito
interno, como já aconteceu antes”, destacou um dos missionários, revelando que,
há cerca de um mês, a mesma aldeia já tinha sido atacada. Parte das fotos que
circularam nas redes sociais nas últimas horas são do ataque anterior, segundo
este missionário.
A Polícia Federal informou à Agência
Brasil que foi acionada pela Polícia Militar estadual na manhã de
segunda-feira, esteve no local do conflito, mas, até o momento, não localizou
ninguém, nem foi procurada por nenhuma vítima ou testemunha.
"Bárbarie"
Em Pernambuco, uma escola e um Posto de
Saúde da Família de uma aldeia foram incendiados na madrugada de ontem. Os dois
prédios públicos funcionavam na aldeia Bem Querer de Baixo, uma área de
conflito entre índios e posseiros não-índios no interior da Terra Indígena dos
Pankararus, localizada no município de Jatobá.
Segundo a comunidade, o fogo destruiu
documentos, equipamentos e comprometeu quase que integralmente a estrutura das
duas construções. A equipe médica do posto de saúde fazia cerca de 500
atendimentos mensais. “Pouca coisa se salvou”, informam representantes da
comunidade em uma página na internet, pedindo investigação e punição aos
responsáveis. “O momento pede cautela e calma. As investigações estão
acontecendo, o local foi isolado pela polícia e, em breve, teremos mais
notícias.”
Em nota, a prefeitura de Jatobá confirma
que os prédios foram "praticamente 100% destruídos e o prejuízo é
incalculável". E acrescenta que o "ato de vandalismo criminoso"
prejudica a toda a comunidade, "que ficará carente por vários meses, sem
atendimento médico e escolar". As polícias Militar e Civil foram acionadas
e a Polícia Científica inspecionava a área no início da tarde.
Intimidação
Ainda de acordo com os missionários do
Cimi, índios de outras duas comunidades de Mato Grosso do Sul denunciaram ter sido
alvo de ações intimidatórias no fim de semana. Em Caarapó, no sudoeste do
estado, os indígenas afirmam ter presenciado caminhonetes rondando a terra
indígena com homens exibindo armas e gritando, o que os levou a acionar a Funai
e o Cimi.
A área de Caarapó reivindicada pelos
indígenas está em disputa há anos. Em 2016, cerca de 300 índios ocuparam uma
área de 490 hectares que afirmam ter pertencido aos seus antepassados. Dias
depois, homens armados e encapuzados atacaram o local e incendiaram todos os pertences
indígenas. Um índio morreu, cinco foram baleados e ao menos outros seis foram
feridos. Procurada, a Funai informou não ter registro do ataque.
O segundo caso divulgado pelo Cimi teria
ocorrido em Miranda, na aldeia Passarinho, uma das existentes no interior da
Terra Indígena Pilad Rebua. A Funai também disse não ter sido comunicada a
respeito.
Fonte: Agência Brasil
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