Pesquisadores debatem os 10 anos de criação
do Brics
O Brics,
bloco com participação do Brasil, da Rússia, da Índia, da China e da África do
Sul, completa 10 anos com avanços, mas muitos desafios diante das mudanças
econômicas, sociais, políticas e culturais do mundo. Para analisar o desempenho
e o futuro do grupo, a organização internacional de combate à pobreza ActionAid
realiza, com apoio do BRICS Policy Center e da Fundação Mott, o debate Os Brics
e o Papel da China no Desafiante Contexto Geopolítico Global. O evento reúne
especialistas em um encontro de dois dias que termina amanhã (11), em Botafogo,
zona sul do Rio.
O
analista de Políticas da ActionAid no Brasil, Gerardo Cerdas Vega, afirmou que
o bloco é heterogêneo, mas com função importante na estrutura de governança
global. Para ele, em um contexto muito complexo, o Brasil deveria ter um papel
mais proativo no cenário internacional, onde há disputas de grandes potências
entre si pela hegemonia.
“O
Brasil, pelas suas características de extensão geográfica, o tamanho
populacional, o tamanho da sua economia e a sua diversidade social, não é um
país menor no mundo. Só que estamos vendo o Brasil desperdiçar a oportunidade
de participar no bloco que poderia lhe dar um lugar diferenciado nesse sistema
de governança global”, disse à Agência Brasil, após o primeiro dia de debate.
“Não dá
para não olhar com alguma ironia que o Brasil sendo uma potência do tamanho que
é, reduza toda a sua agenda em um bloco como o dos Brics, a negociar cota de
frango. Nem o menor país do mundo vai para estes espaços multilaterais para
negociar interesses puramente comerciais. Minimamente, os países vão para
tentar construir uma agenda bilateral, uma parceria para cooperação em direitos
humanos ou com relação ao clima”.
Investimentos
Na visão
do professor Sérgio Veloso, do Centro de Estudos e Pesquisas BRICS Policy
Center, administrado pelo Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio
(IRI/PUC-Rio) em colaboração com o Instituto Pereira Passos (IPP), os países do
bloco foram bem-sucedidos no sentido de manter um ritmo de reuniões, mas,
atualmente, a China é o destaque do grupo e, por isso, não tem como o Brasil
deixar de considerar os investimentos daquele país.
“Barrar
investimentos chinês é simplesmente impossível, porque é onde o dinheiro está
no mundo hoje. Não está nos Estados Unidos, não está na Europa. Se tem um
Estado capaz de investir, de oferecer cooperação, novas práticas e dinheiro
para o desenvolvimento, é a China”, explicou.
Veloso
revelou que participou de um encontro realizado pela prefeitura do Rio em que
foi comentado o aumento do interesse dos chineses na cidade. No último ano, o
número de missões daquele país em viagem ao Rio com algum tipo de encontro com
a administração municipal quase que quintuplicou. “Bater de frente com o
investimento chinês é uma estupidez”.
O
professor disse ainda não acreditar que o novo governo do Brasil vá esvaziar a
participação do país no grupo. “A China não vai deixar este processo esvaziar”,
afirmou, e completou que, dependendo do ritmo de privatizações que ocorrer no
Brasil, o capital chinês pode se espalhar mais com a compra de empresas.
África do Sul
Para a
pesquisadora sul-africana da ActionAid África do Sul, Lindelwe Nxumal, apesar
das resistências, houve avanços na agenda do Brics no seu país, especialmente,
em territórios em que se falava muito em patriarcado e na questão de
distribuição de terras. Segundo ela, este tema é debatido entre homens, tanto
no setor empresarial, como no governo e, no entanto, muito pouco de como afeta
às mulheres. “Muitos represantes da agricultura de subsistência são mulheres
negras pobres e como esse debate está muito concentrado na mão dos homens.
Essas questões de terra evoluem para as mulheres e para pessoas com
deficiências e LGBT. É impressionante como isso influencia no processo. É muito
interessante o que temos visto”, disse.
Lindelwe
Nxumal acrescentou que, mesmo com os avanços já conquistados, há muito a fazer,
e os diálogos feitos no Brics devem ser vistos como oportunidades de espaços.
“Aprender com as alianças e escolhas que queremos fazer com governos e
organizações. São questões muito desafiadoras para confrontar os Brics em
espaços de trabalho da sociedade civil. Nós queremos um suporte maior”, disse a
pesquisadora.
Índia
O
pesquisador indiano da ActionAid Índia, Sandeep Chachra, destacou que, no seu
país, há dois tipos de luta. Uma pela autonomia e outra pela ecologia. “As duas
lutas não estão dissociadas”. Já no grupo, de acordo com o indiano, as lutas
passam por questões populares de legitimidade e por reformas. “São a natureza
dos Brics”.
Sandeep
Chachra apontou ainda o uso da religião em países do grupo que se confunde com
as discussões de fascismo. Segundo ele, por vezes os debates levam à
politização da religião. “Fico surpreso quando converso com pessoas, ao saber
da grande importância de setores da Igreja Católica e de evangélicos na
política do Brasil, o mesmo acontece nos Estados Unidos e em grande parte da
África. É uma coisa que dá conforto para as pessoas. Como a gente vai levar
adiante esta questão da religião?”, apontou.
Fonte: Agência Brasil
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