WWF: população de animais das Américas
Central e do Sul caiu 89%
O
declínio no tamanho das populações de animais vertebrados chegou a 60% em 40
anos. Nos trópicos, principalmente nas Américas Central e do Sul, a redução
chega a 89% desde 1970. É o que aponta o Relatório Planeta Vivo 2018, que será
lançado amanhã (30) pela organização não governamental WWF - Fundo Mundial para
a Natureza.
Segundo o
coordenador do programa Cerrado e Pantanal da WWF, Júlio César Sampaio, a
região tropical, próximo à Linha do Equador, concentra a maior quantidade de
vida do planeta, em função da dinâmica de temperatura e das florestas, além de
ter as maiores áreas de uso do solo e dos recursos naturais.
“É onde
estão localizadas as maiores áreas cultivadas para produção de alimentos. Essa
produção, regada a uma forma intensa do uso da terra, tem afetado drasticamente
esses ambientes e consequentemente provocado o declínio dessas populações que,
nessa faixa que abrange a parte central e América do Sul, o relatório mostra
que chega a 89%. É uma das regiões mais pressionadas em função desse uso
intenso dos recursos naturais.”
Ele
explica que, no Brasil, o principal problema é o desmatamento, que chegou a 20%
na Amazônia e já passou de 50% da cobertura original no bioma Cerrado,
impactando na capacidade hídrica do país, já que a área abriga importantes
mananciais que abastecem as bacias hidrográficas de todo o país.
Para
Sampaio, o país que tem a maior biodiversidade do planeta, além da maior área
de florestas tropicais e a maior quantidade de água doce do mundo, precisa
assumir o protagonismo na área ambiental e implementar as metas da convenção da
Organização das Nações Unidas para a biodiversidade.
“As metas
precisam ser revistas a partir de 2020 e é importante que os países signatários
de fato internalizem esses acordos dentro de suas políticas internas. Por
exemplo, um dos temas é a necessidade de ter pelo menos 17% dos ecossistemas em
áreas protegidas, que são importantes para a conservação dessa biodiversidade.
O Brasil tem ainda um grande percurso nesse aspecto. No cerrado são 8% do
território protegido, no pantanal são apenas 2% de áreas protegidas”.
O
relatório aponta que entre as espécies brasileiras ameaçadas de extinção em
função da perda do ambiente natural estão a jandaia-amarela (Aratinga
solstitialis), o tatu-bola (Tolipeutes tricinctus), o muriqui-do-sul
(Brachyteles aracnoides) e o uacari (Cacajao hosomi). A degradação ambiental
ameaça o boto (Inia geoffrensis), que já mostra tendência de redução
populacional.
Planeta Vivo
Sampaio
explica que o relatório da WWF é um compilado de informações científicas, que
utiliza base de dados de 19 organizações internacionais e envolve mais de 50
pesquisadores. O trabalho apresenta, a cada dois anos, o índice de vida do
planeta.
“Nos
últimos anos, esse relatório tem mostrado um grande declínio dessas formas de
vida, essas espécies que vêm desaparecendo em função principalmente do uso que
o homem faz da superfície do planeta e da forma como nós exploramos os nossos
recursos naturais.”
O Índice
do Planeta Vivo (LPI) mede, desde 1970, as tendências em 16.704 populações,
representando 4.005 espécies de vertebrados. “A nível global, esse declínio de
espécies desde o início do monitoramento mostra que cerca de 60% da
biodiversidade no planeta vem desaparecendo, incluído animais, plantas e seres
invertebrados. Toda a biodiversidade vem sofrendo com a forma com que o planeta
vem sendo modificado, principalmente através das atividades humanas ao longo
desses anos”, explica o coordenador.
Os dados
mostram que 75% das terras do planeta já foram impactadas pela ação humana; as
populações de água doce tiveram redução de 83% desde 1970; o habitat para os
mamíferos teve uma redução de 22%; o risco de extinção tem acelerado para
diversas espécies; e a quantidade de biodiversidade original caiu de 81,6% em
1970 para 78,6% em 2014.
Segundo o
relatório, os seres humanos já ultrapassaram os limites de segurança no que se
refere às mudanças climáticas, à integridade da biosfera, aos fluxos
biogeoquímicos de nitrogênio e fósforo, além das mudanças no sistema terrestre.
“A saúde planetária, a natureza e a biodiversidade estão em declínio acentuado,
prejudicando a saúde e o bem-estar das pessoas, espécies, sociedades e
economias em todos os lugares”, alerta o texto.
Sampaio
destaca que já existem tecnologias em todas as áreas de atividade humana que
podem proporcionar uma forma mais amigável de se relacionar com os recursos
naturais e com a biodiversidade e que é possível adotar modelos de boas
práticas já desenvolvidas e comprovadas cientificamente para aumentar a
produção e conservar o meio ambiente. Ele cita como exemplo a produção de
alimentos.
“Na
alimentação, hoje cerca de 40% do que é produzido globalmente é jogado fora,
durante a produção, o transporte e dentro das nossas casas. Então, se a gente
mudar só esse componente, como a gente trata o alimento desde a sua origem até
o nosso prato, sem dúvida a gente vai ter um ganho significativo na quantidade
de alimentos que é produzido a nível global. Nós provocamos essa mudança pelos
nossos hábitos, pois a forma que nós consumimos hoje é uma forma predatória”.
O texto
lembra que globalmente a natureza fornece serviços que podem chegar a US$ 125
trilhões por ano, como insumos básicos para medicamento, polinização natural
das lavouras e sequestro de carbono da atmosfera.
Fonte: Agência Brasil
0 Comentários