Candidatos chegaram cedo para o primeiro dia de provas do Enem 2018 - Valter Campanato/Agência Brasil
Enem aborda direitos humanos, racismo e
manipulação na internet
Com textos longos, candidatos precisaram ter
atenção redobrada
No primeiro domingo do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem), foram
aplicadas as provas de linguagem, ciências humanas e redação. Alguns temas
abordados foram a Declaração Universal dos Direitos Humanos, racismo, ditadura
militar e violência contra a mulher.
Logo na sexta questão, a prova citou a diretora-geral da Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, Audrey Azoulay, em uma
fala sobre a existência da discriminação e do ódio na sociedade. “A Declaração
Universal dos Direitos Humanos está completando 70 anos em tempos de desafios
crescentes, quando o ódio, a discriminação e a violência permanecem vivos”.
Racismo
O exame também incluiu o trecho de uma matéria de jornal que cita a
“intolerância do internauta” brasileiro, traduzida em mensagens de racismo,
posicionamento político e homofobia. O racismo também foi abordado em um poema
que aborda o discurso racista internalizado na sociedade. O racismo apareceu
ainda na prova de ciências humanas, através da ativista Rosa Parks.
Rosa Parks foi uma costureira negra norte-americana que entrou para a
história da luta pela igualdade de direitos civis ao recusar-se a ceder seu
lugar no ônibus a uma pessoa branca. Parks foi presa por um dia, mas seu gesto
deu início a um boicote ao transporte público local e culminou, meses depois,
com o fim da lei que determinava a separação de negros em assentos separados
dos brancos nos Estados Unidos. O episódio envolvendo Rosa Parks foi incluído
na prova.
Violência contra a mulher
A violência contra a mulher foi outro tema levantado nas provas de hoje.
Na prova de linguagens, códigos e suas tecnologias, uma campanha publicitária
contra o assédio a mulheres em trens de Porto Alegre foi tema de uma questão.
Uma peça publicitária da década de 1940 foi tema de outra questão na
prova de ciências humanas e suas tecnologias. A peça reforça os estereótipos de
mulher submissa e a prova questionou o estudante sobre essas distorções da
visão, predominante à época, que se tinha da mulher.
Ditadura militar
A ditadura militar foi tema na prova de ciências humanas. O exame
reproduziu a carta do cartunista Henfil ao presidente Ernesto Geisel escrita em
1979. Na carta, Henfil declara a devolução do seu passaporte, uma vez que os
passaportes de outras oito pessoas, dentre elas Leonel Brizola e Miguel Arraes,
tinham sido negados.
“Considerando que, desde que nasci, me identifico plenamente com a pele,
a cor dos cabelos, a cultura, o sorriso, as aspirações, a história e o sangue
destes oito senhores. […] venho por meio desta devolver o passaporte que,
negado a eles, me foi concedido pelos órgãos competentes do seu governo”, diz
um trecho da carta reproduzida no exame.
Redação
Hoje, os estudantes fizeram provas de linguagem, ciências humanas e
redação. O tema da redação foi “Manipulação do comportamento do usuário pelo
controle de dados na internet”. O exame segue no dia 11 de novembro, quando os
estudantes farão provas de ciências da natureza e matemática.
Prova mais conteudista
Para o professor de redação, sócio e vice-presidente de educação do
curso online Descomplica, Rafael Cunha, o Enem manteve o padrão das provas dos
últimos anos. “Muita leitura, uma variedade bastante grande de textos, desde
técnicos, passando por literários, gráficos, ilustrações, fotografias e obras
de arte”.
Segundo Cunha, a prova foi essencialmente de leitura e interpretação.
“Foi uma prova de diversos textos ligados a questões sociais bastante
relevantes como imagem da mulher, preconceito em relação à mulher, racismo. Uma
prova com preocupação social bastante forte”.
O professor de filosofia e sociologia do curso pré-vestibular online
ProEnem Leandro Vieira concorda que o Enem 2018 seguiu tendência de anos
anteriores e estava mais complexa. “A prova estava mais complexa, mais
conteudista. Os participantes precisavam de mais conteúdo e menos intepretação
para resolver questões”, diz e acrescenta: “A prova estava extremamente
cansativa, muitos textos longos. Exigiu do aluno atenção e cuidado, exigiu que
se mantivesse calmo."
De acordo com o professor, as questões sociais foram mantidas e havia
mais questões de história. Geografia perdeu um pouco o espaço, na avaliação de
Vieira.
A tendência conteudista, para Vieira, pode excluir estudantes menos
preparados. “Eu acho que o Enem quando iniciou lá atrás tinha a proposta de ser
uma prova mais abrangente, que possibilitava abranger o Brasil em maior escala.
Está perdendo um pouco esse viés. Distanciando alunos que não tem acesso a
cursinho e a educação de maior qualidade”.
A partir das 20h30, professores irão corrigir, ao vivo, no especial Caiu
no Enem, veiculado na TV Brasil, na web e nas rádios Nacional e MEC. Os
candidatos podem participar do programa pela web, em tempo real, enviando as
dúvidas e comentários para as redes sociais da TV Brasil com a hashtag
#CaiuNoEnem
Segundo domingo de provas
O segundo domingo de provas será dia 11 de novembro, quando os
estudantes farão provas de ciências da natureza e matemática.
A estrutura para aplicação do Enem envolve 10.718 locais de aplicação,
155.254 salas e mais de meio milhão de colaboradores. Foram impressas 11,5
milhões de provas de doze Cadernos de Questões diferentes. Haverá ainda uma
videoprova em Língua Brasileira de Sinais (Libras). Ao todo, são quase 600 mil
pessoas envolvidas na aplicação do exame.
A nota do exame poderá ser usada para concorrer a vagas no ensino
superior público pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu), a bolsas em
instituições privadas, pelo Programa Universidade para Todos (ProUni) e para
participar do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).
Gabarito
O gabarito oficial do Enem 2018 será divulgado pelo Inep até 14 de
novembro. Já o resultado deverá ser divulgado no dia 18 de janeiro de 2019.
Fonte: Agência Brasil
2 Comentários
Isso mesmo...
ResponderExcluirObrigado pela visita bruna!
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