92. Enem São Paulo, 18
de agosto de 1929.
Carlos [Drummond de Andrade],
Achei graça e
gozei com o seu entusiasmo pela candidatura Getúlio Vargas - João Pessoa. É. Mas
veja como estamos... trocados. Esse entusiasmo devia ser meu e sou eu que
conservo o ceticismo que deveria ser de você. (...).
Eu... eu contemplo numa torcida apenas simpática
a candidatura Getúlio Vargas, que antes desejara tanto. Mas pra mim,
presentemente, essa candidatura (única aceitável, está claro) fica manchada por
essas pazes fragílimas de governistas mineiros, gaúchos, paraibanos (...), com
democráticos paulistas (que pararam de atacar o Bernardes) e oposicionistas
cariocas e gaúchos. Tudo isso não me entristece. Continuo reconhecendo a
existência de males necessários, porém me afasta do meu país e da candidatura
Getúlio Vargas. Repito: única aceitável.
Mário [de Andrade]
Renato Lemos. Bem traçadas linhas: a história do Brasil em cartas
pessoais. Rio de Janeiro: Bom Texto, 2004, p. 305.
Acerca da crise política ocorrida em fins da
Primeira República, a carta do paulista Mário de Andrade ao mineiro Carlos
Drummond de Andrade revela
a) a simpatia de Drummond pela candidatura Vargas e o desencanto de Mário
de Andrade com as composições políticas sustentadas por Vargas.
b) a veneração de Drummond e Mário de Andrade ao gaúcho Getúlio Vargas,
que se aliou à oligarquia cafeeira de São Paulo.
c) a concordância entre Mário de Andrade e Drummond quanto ao caráter
inovador de Vargas, que fez uma ampla aliança para derrotar a oligarquia
mineira.
d) a discordância entre Mário de Andrade e Drummond sobre a importância da
aliança entre Vargas e o paulista Júlio Prestes nas eleições presidenciais.
e) o otimismo de Mário de Andrade em relação a Getúlio Vargas, que se
recusara a fazer alianças políticas para vencer as eleições.
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