A Semana de Arte Moderna
O
Modernismo, como tendência literária, ou estilo de época, teve seu prenúncio
com a realização da Semana de Arte Moderna no Teatro Municipal de São Paulo,
nos dias 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922. Idealizada por um grupo de artistas,
a Semana pretendia colocar a cultura brasileira a par das correntes de
vanguarda do pensamento europeu, ao mesmo tempo que pregava a tomada de
consciência da realidade brasileira.
O
Movimento não deve ser visto apenas do ponto de vista artístico, como
recomendam os historiadores e críticos especializados em história da literatura
brasileira, mas também como um movimento político e social. O País estava
dividido entre o rural e o urbano. Mas o bloco urbano não era homogêneo. As
principais cidades brasileiras, em particular São Paulo, conheciam uma rápida
transformação como consequência do processo industrial. A primeira Guerra
Mundial foi a responsável pelo primeiro surto de industrialização e consequente
urbanização. O Brasil contava com 3.358 indústrias em 1907. Em 1920, esse
número pulou para 13.336. Isso significou o surgimento de uma burguesia
industrial cada dia mais forte, mas marginalizada pela política econômica do
governo federal, voltada para a produção e exportação do café.
Imigrantes
- Ao lado disso, o número de imigrantes europeus crescia consideravelmente,
especialmente os italianos, distribuindo-se entre as zonas produtoras de café e
as zonas urbanas, onde estavam as indústrias. De 1903 a 1914, o Brasil recebeu
nada menos que 1,5 milhão de imigrantes. Nos centros urbanos criou-se uma faixa
considerável de população espremida pelos barões do café e pela alta burguesia,
de um lado, e pelo operariado, de outro. Surge a pequena burguesia, formada por
funcionários públicos, comerciantes, profissionais liberais e militares, entre
outros, criando uma massa politicamente "barulhenta" e
reivindicatória.
A falta
de homogeneidade no bloco urbano tem origem em alguns aspectos do comportamento
do operariado. Os imigrantes de origem europeia trazem suas experiências de
luta de classes. Em geral esses trabalhadores eram anarquistas e suas ações
resultavam, quase sempre, em greves e tensões sociais de toda sorte, entre 1905
e 1917. Um ano depois, quando ocorreu a Revolução Russa, os artigos na imprensa
a esse respeito tornaram-se cada vez mais comuns. O partido comunista seria
fundado em 1922. Desde então, ocorreria o declínio da influência anarquista no
movimento operário.
Desta
forma, circulavam pela cidade de São Paulo, numa mesma calçada, um barão do
café, um operário anarquista, um padre, um burguês, um nordestino, um
professor, um negro, um comerciante, um advogado, um militar etc, formando, de
fato, uma "paulicéia desvairada" (título de célebre obra de Mário de
Andrade). Esse desfile inusitado e variado de tipos humanos serviu de palco
ideal para a realização de um evento que mostrasse uma arte inovadora a romper
com as velhas estruturas literárias vigentes no País.
Fonte: Domínio
Público
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