O Barroco
O
Barroco no Brasil tem seu marco inicial em 1601, com a publicação do poema
épico "Prosopopeia", de Bento Teixeira, que introduz definitivamente
o modelo da poesia camoniana em nossa literatura. Estende-se por todo o século
XVII e início do XVIII.
Embora
o Barroco brasileiro seja datado de 1768, com a fundação da Arcádia Ultramarina
e a publicação do livro "Obras", de Cláudio Manuel da Costa, o
movimento academicista ganha corpo a partir de 1724, com a fundação da Academia
Brasílica dos Esquecidos. Este fato assinala a decadência dos valores
defendidos pelo Barroco e a ascensão do movimento árcade. O termo barroco
denomina genericamente todas as manifestações artísticas dos anos de 1600 e
início dos anos de 1700. Além da literatura, estende-se à música, pintura,
escultura e arquitetura da época.
Antes
do texto de Bento Teixeira, os sinais mais evidentes da influência da poesia
barroca no Brasil surgiram a partir de 1580 e começaram a crescer nos anos
seguintes ao domínio espanhol na Península Ibérica, já que é a Espanha a
responsável pela unificação dos reinos da região, o principal foco irradiador do
novo estilo poético.
O
quadro brasileiro se completa no século XVII, com a presença cada vez mais
forte dos comerciantes, com as transformações ocorridas no Nordeste em
consequência das invasões holandesas e, finalmente, com o apogeu e a decadência
da cana-de-açúcar
Uma das
principais referências do barroco brasileiro é Gregório de Matos Guerra, poeta baiano que cultivou com a mesma
beleza tanto o estilo cultista quanto o conceptista (o cultismo é marcado pela
linguagem rebuscada, extravagante, enquanto o conceptismo caracteriza-se pelo
jogo de ideias, de conceitos. O primeiro valoriza o pormenor, enquanto o
segundo segue um raciocínio lógico, racionalista)
Na
poesia lírica e religiosa, Gregório de Matos deixa claro certo idealismo
renascentista, colocado ao lado do conflito (como de hábito na época) entre o pecado
e o perdão, buscando a pureza da fé, mas tendo ao mesmo tempo necessidade de
viver a vida mundana. Contradição que o situava com perfeição na escola barroca
do Brasil.
Antônio Vieira - Se por um lado, Gregório de Matos mexeu
com as estruturas morais e a tolerância de muita gente - como o administrador
português, o próprio rei, o clero e os costumes da própria sociedade baiana do
século XVII - por outro, ninguém angariou tantas críticas e inimizades quanto o
"impiedoso" Padre Antônio Vieira, detentor de um invejável volume de
obras literárias, inquietantes para os padrões da época.
Politicamente,
Vieira tinha contra si a pequena burguesia cristã (por defender o capitalismo
judaico e os cristãos-novos); os pequenos comerciantes (por defender o
monopólio comercial); e os administradores e colonos (por defender os índios).
Essas posições, principalmente a defesa dos cristãos-novos, custaram a Vieira
uma condenação da Inquisição, ficando preso de 1665 a 1667. A obra do Padre
Antônio Vieira pode ser dividida em três tipos de trabalhos: Profecias, Cartas
e Sermões.
As
Profecias constam de três obras: História do Futuro, Esperanças de Portugal e
Clavis Prophetarum. Nelas se notam o sebastianismo e as esperanças de que Portugal
se tornaria o "quinto império do Mundo". Segundo ele, tal fato
estaria escrito na Bíblia. Aqui ele demonstra bem seu estilo alegórico de
interpretação bíblica (uma característica quase que constante de religiosos
brasileiros íntimos da literatura barroca). Além, é claro, de revelar um
nacionalismo megalomaníaco e servidão incomum.
O
grosso da produção literária do Padre Antônio Vieira está nas cerca de 500
cartas. Elas versam sobre o relacionamento entre Portugal e Holanda, sobre a
Inquisição e os cristãos novos e sobre a situação da colônia, transformando-se
em importantes documentos históricos.
O
melhor de sua obra, no entanto, estão nos 200 sermões. De estilo barroco
conceptista, totalmente oposto ao Gongorismo, o pregador português joga com as ideias
e os conceitos, segundo os ensinamentos de retórica dos jesuítas. Um dos seus
principais trabalhos é o Sermão da Sexagésima, pregado na capela Real de
Lisboa, em 1655. A obra também ficou conhecida como "A palavra de
Deus". Polêmico, este sermão resume a arte de pregar. Com ele, Vieira
procurou atingir seus adversários católicos, os gongóricos dominicanos,
analisando no sermão "Porque não frutificava a Palavra de Deus na
terra", atribuindo-lhes culpa.
Fonte: Domínio
Público
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