O Quinhentismo
Essa
expressão é a denominação genérica de todas as manifestações literárias
ocorridas no Brasil durante o século XVI, correspondendo à introdução da cultura
europeia em terras brasileiras. Não se pode falar em uma literatura
"do" Brasil, como característica do País naquele período, mas sim em
literatura "no" Brasil - uma literatura ligada ao Brasil mas que
denota as ambições e as intenções do homem europeu.
No
quinhentismo, o que se demonstrava era o momento histórico vivido pela
Península Ibérica, que abrangia uma literatura informativa e uma literatura dos
jesuítas, como principais manifestações literárias no século XVI. Quem produzia
literatura naquele período estava com os olhos voltados para as riquezas
materiais (ouro, prata, ferro, madeira etc.), enquanto a literatura dos
jesuítas preocupava-se com o trabalho de catequese.
Com
exceção da carta de Pero Vaz de Caminha, considerada o primeiro documento da
literatura no Brasil, as principais crônicas da literatura informativa datam da
segunda metade do século XVI, fato compreensível, já que a colonização só pode
ser contada a partir de 1530. A literatura jesuítica, por seu lado, também
caracteriza o final do Quinhentismo, tendo esses religiosos pisado o solo
brasileiro somente em 1549.
A
literatura informativa, também chamada de literatura dos viajantes ou dos
cronistas, reflexo das grandes navegações, empenha-se em fazer um levantamento
da terra nova, de sua flora, fauna, de sua gente. É, portanto, uma literatura
meramente descritiva e, como tal, sem grande valor literário
A
principal característica dessa manifestação é a exaltação da terra, resultante
do assombro do europeu que vinha de um mundo temperado e se defrontava com o
exotismo e a exuberância de um mundo tropical. Com relação à linguagem, o
louvor à terra aparece no uso exagerado de adjetivos, quase sempre empregados
no superlativo (belo é belíssimo, lindo é lindíssimo etc.)
O
melhor exemplo da escola quinhentista brasileira é Pero Vaz de Caminha. Sua
"Carta a El Rei Dom Manuel sobre o achamento do Brasil", além do
inestimável valor histórico, é um trabalho de bom nível literário. O texto da
carta mostra claramente o duplo objetivo que, segundo Caminha, impulsionava os
portugueses para as aventuras marítimas, isto é, a conquista dos bens materiais
e a dilatação da fé cristã
Literatura jesuíta - Consequência da Contrarreforma, a principal
preocupação dos jesuítas era o trabalho de catequese, objetivo que determinou
toda a sua produção literária, tanto na poesia quanto no teatro. Mesmo assim,
do ponto de vista estético, foi a melhor produção literária do Quinhentismo
brasileiro. Além da poesia de devoção, os jesuítas cultivaram o teatro de
caráter pedagógico, baseado em trechos bíblicos, e as cartas que informavam aos
superiores na Europa sobre o andamento dos trabalhos na colônia.
Não se
pode comentar, no entanto, a literatura dos jesuítas sem referências ao que o
padre José de Anchieta representa para o Quinhentismo brasileiro. Chamado pelos
índios de "Grande Piahy" (supremo pajé branco), Anchieta veio para o
Brasil em 1553 e, no ano seguinte, fundou um colégio no planalto paulista, a
partir do qual surgiu a cidade de São Paulo.
Ao
realizar um exaustivo trabalho de catequese, José de Anchieta deixou uma
fabulosa herança literária: a primeira gramática do tupi-guarani, insuperável
cartilha para o ensino da língua dos nativos; várias poesias no estilo do verso
medieval; e diversos autos, segundo o modelo deixado pelo poeta português Gil
Vicente, que agrega à moral religiosa católica os costumes dos indígenas,
sempre com a preocupação de caracterizar os extremos, como o bem e o mal, o
anjo e o diabo.
Fonte: Domínio
Público
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