Realismo
"O
Realismo é uma reação contra o Romantismo: o Romantismo era a apoteose do
sentimento - o Realismo é a anatomia do caráter. É a crítica do homem. É a arte
que nos pinta a nossos próprios olhos - para condenar o que houve de mau na
nossa sociedade". Ao cunhar este conceito, Eça de Queiroz sintetizou a
visão de vida que os autores da escola realista tinham do homem durante e logo
após o declínio do Romantismo.
Esse
estilo de época teve uma prévia: os românticos Castro Alves, Sousândrade e
Tobias Barreto, embora fizessem uma poesia romântica na forma e na expressão,
utilizavam temas voltados para a realidade político-social da época (final da
década de 1860). Da mesma forma, algumas produções do romance romântico já
apontavam para um novo estilo na literatura brasileira, como algumas obras de
Manuel Antônio de Almeida, Franklin Távora e Visconde de Taunay. Começava-se o
abandono do Romantismo enquanto surgiam os primeiros sinais do Realismo.
Na
década de 70 surge a chamada Escola de Recife, com Tobias Barreto, Silvio
Romero e outros, aproximando-se das ideias europeias ligadas ao positivismo, ao
evolucionismo e, principalmente, à filosofia. São os ideais do Realismo que
encontravam ressonância no conturbado momento histórico vivido pelo Brasil, sob
o signo do abolicionismo, do ideal republicano e da crise da Monarquia.
No
Brasil considera-se 1881 como o ano inaugural do Realismo. De fato, esse foi um
ano fértil para a literatura brasileira, com a publicação de dois romances
fundamentais, que modificaram o curso de nossas letras: Aluízio Azevedo publica
"O mulato", considerado o primeiro romance naturalista do Brasil;
Machado de Assis publica "Memórias Póstumas de Brás Cubas", o
primeiro romance realista de nossa literatura.
Na
divisão tradicional da história da literatura brasileira, o ano considerado
data final do Realismo é 1893, com a publicação de "Missal" e
"Broquéis", ambos de Cruz e Sousa, obras inaugurais do Simbolismo,
mas não o término do Realismo e suas manifestações na prosa - com os romances
realistas e naturalistas - e na poesia, com o Parnasianismo
"Príncipe
dos poetas" - Da mesma forma, o início do Simbolismo, em 1893, não
representou o fim do Realismo, porque obras realistas foram publicadas
posteriormente a essa data, como "Dom Casmurro", de Machado de Assis,
em 1900, e "Esaú e Jacó", do mesmo autor, em 1904. Olavo Bilac,
chamado "príncipe dos poetas", obteve esta distinção em 1907. A Academia
Brasileira de Letras, templo do Realismo, também foi inaugurada posteriormente
à data-marco do fim do Realismo: 1897. Na realidade, nos últimos vinte anos do
século XIX e nos primeiros do século XX, três estéticas se desenvolvem
paralelamente: o Realismo e suas manifestações, o Simbolismo e o
Pré-Modernismo, que só conhecem o golpe fatal em 1922, com a Semana de Arte
Moderna.
O
Realismo reflete as profundas transformações econômicas, políticas, sociais e
culturais da segunda metade do século XIX. A Revolução Industrial, iniciada no
século XVIII, entra numa nova fase, caracterizada pela utilização do aço, do
petróleo e da eletricidade; ao mesmo tempo, o avanço científico leva a novas
descobertas nos campos da física e da química. O capitalismo se estrutura em
moldes modernos, com o surgimento de grandes complexos industriais, aumentando
a massa operária urbana, e formando uma população marginalizada, que não
partilha dos benefícios do progresso industrial mas, pelo contrário, é
explorada e sujeita a condições subumanas de trabalho.
O
Brasil também passa por mudanças radicais tanto no campo econômico quanto no
político-social, no período compreendido entre 1850 e 1900, embora com
profundas diferenças materiais, se comparadas às da Europa. A campanha
abolicionista intensifica-se a partir de 1850; a Guerra do Paraguai (1864/1870)
tem como consequência o pensamento republicano (o Partido Republicano foi
fundado no ano em que essa guerra terminou); a Monarquia vive uma vertiginosa
decadência. A Lei Áurea, de 1888, não resolveu o problema dos negros, mas criou
uma nova realidade: o fim da mão-de-obra escrava e a sua substituição pela
mão-de-obra assalariada, então representada pelas levas de imigrantes europeus
que vinham trabalhar na lavoura cafeeira, o que originou uma nova economia
voltada para o mercado externo, mas agora sem a estrutura colonialista.
Raul
Pompéia, Machado de Assis e Aluízio Azevedo transformaram-se nos principais
representantes da escola realista no Brasil. Ideologicamente, os autores desse
período são antimonárquicos, assumindo uma defesa clara do ideal republicano,
como nos romances "O mulato", "O cortiço" e "O
Ateneu". Eles negam a burguesia a partir da família. A expressão Realismo
é uma denominação genérica da escola literária, que abriga três tendências
distintas: "romance realista", "romance naturalista" e
"poesia parnasiana".
O
romance realista foi exaustivamente cultivado no Brasil por Machado de Assis.
Trata-se de uma narrativa mais preocupada com a análise psicológica, fazendo a
crítica à sociedade a partir do comportamento de determinados personagens. Para
se ter uma ideia, os cinco romances da fase realista de Machado de Assis
apresentam nomes próprios em seus títulos ("Brás Cubas";
"Quincas Borba"; "Dom Casmurro", "Esaú e Jacó"; e
"Aires"). Isto revela uma clara preocupação com o indivíduo. O
romance realista analisa a sociedade por cima. Em outras palavras: seus
personagens são capitalistas, pertencem à classe dominante. O romance realista
é documental, retrato de uma época.
Fonte: Domínio
Público
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