O Romantismo
O
Romantismo se inicia no Brasil em 1836, quando Gonçalves de Magalhães publica
na França a "Niterói - Revista Brasiliense", e, no mesmo ano, lança
um livro de poesias românticas intitulado "Suspiros poéticos e
saudades".
Em
1822, Dom Pedro I concretiza um movimento que se fazia sentir, de forma mais
imediata, desde 1808: a independência do Brasil. A partir desse momento, o novo
país necessita inserir-se no modelo moderno, acompanhando as nações
independentes da Europa e América. A imagem do português conquistador deveria
ser varrida. Há a necessidade de autoafirmação da pátria que se formava. O
ciclo da mineração havia dado condições para que as famílias mais abastadas
mandassem seus filhos à Europa, em particular França e Inglaterra, onde
buscavam soluções para os problemas brasileiros. O Brasil de então nem chegava
perto da formação social dos países industrializados da Europa
(burguesia/proletariado). A estrutura social do passado próximo
(aristocracia/escravo) ainda prevalecia. Nesse Brasil, segundo o historiador
José de Nicola, "o ser burguês ainda não era uma posição econômica e
social, mas mero estado de espírito, norma de comportamento".
Marco
final - Nesse período, Gonçalves de Magalhães viajava pela Europa. Em 1836, ele
funda a revista Niterói, da qual circularam apenas dois números, em Paris.
Nela, ele publica o "Ensaio sobre a história da literatura
brasileira", considerado o nosso primeiro manifesto romântico. Essa escola
literária só teve seu marco final no ano de 1881, quando foram lançados os
primeiros romances de tendência naturalista e realista, como "O
mulato", de Aluízio Azevedo, e "Memórias póstumas de Brás
Cubas", de Machado de Assis. Manifestações do movimento realista, aliás,
já vinham ocorrendo bem antes do início da decadência do Romantismo, como, por
exemplo, o liderado por Tobias Barreto desde 1870, na Escola de Recife.
O
Romantismo, como se sabe, define-se como modismo nas letras universais a partir
dos últimos 25 anos do século XVIII. A segunda metade daquele século, com a
industrialização modificando as antigas relações econômicas, leva a Europa a
uma nova composição do quadro político e social, que tanto influenciaria os
tempos modernos. Daí a importância que os modernistas deram à Revolução
Francesa, tão exaltada por Gonçalves de Magalhães. Em seu "Discurso sobre
a história da literatura do Brasil", ele diz: "...Eis aqui como o
Brasil deixou de ser colônia e foi depois elevado à categoria de Reino Unido.
Sem a Revolução Francesa, que tanto esclareceu os povos, esse passo tão cedo se
não daria...".
A
classe social delineia-se em duas classes distintas e antagônicas, embora
atuassem paralelas durante a Revolução Francesa: a classe dominante, agora
representada pela burguesia capitalista industrial, e a classe dominada,
representada pelo proletariado. O Romantismo foi uma escola burguesa de caráter
ideológico, a favor da classe dominante. Daí porque o nacionalismo, o
sentimentalismo, o subjetivismo e o irracionalismo - características marcantes
do Romantismo inicial - não podem ser analisados isoladamente, sem se fazer
menção à sua carga ideológica.
Novas
influências - No Brasil, o momento histórico em que ocorre o Romantismo tem que
ser visto a partir das últimas produções árcades, caracterizadas pela sátira
política de Gonzaga e Silva Alvarenga. Com a chegada da Corte, o Rio de Janeiro
passa por um processo de urbanização, tornando-se um campo propício à
divulgação das novas influências europeias. A colônia caminhava no rumo da
independência.
Após
1822, cresce no Brasil independente o sentimento de nacionalismo, busca-se o
passado histórico, exalta-se a natureza pátria. Na realidade, características
já cultivadas na Europa, e que se encaixaram perfeitamente à necessidade
brasileira de ofuscar profundas crises sociais, financeiras e econômicas.
De 1823
a 1831, o Brasil viveu um período conturbado, como reflexo do autoritarismo de
D. Pedro I: a dissolução da Assembleia Constituinte; a Constituição outorgada;
a Confederação do Equador; a luta pelo trono português contra seu irmão D.
Miguel; a acusação de ter mandado assassinar Líbero Badaró e, finalmente, a
abolição da escravatura. Segue-se o período regencial e a maioridade prematura
de Pedro II. É neste ambiente confuso e inseguro que surge o Romantismo brasileiro,
carregado de lusofobia e, principalmente, de nacionalismo.
No
final do Romantismo brasileiro, a partir de 1860, as transformações econômicas,
políticas e sociais levam a uma literatura mais próxima da realidade; a poesia
reflete as grandes agitações, como a luta abolicionista, a Guerra do Paraguai,
o ideal de República. É a decadência do regime monárquico e o aparecimento da
poesia social de Castro Alves. No fundo, uma transição para o Realismo.
O
Romantismo apresenta uma característica inusitada: revela nitidamente uma
evolução no comportamento dos autores românticos. A comparação entre os
primeiros e os últimos representantes dessa escola mostra traços peculiares a
cada fase, mas discrepantes entre si. No caso brasileiro, por exemplo, há uma
distância considerável entre a poesia de Gonçalves Dias e a de Castro Alves.
Daí a necessidade de se dividir o Romantismo em fases ou gerações. No
romantismo brasileiro podemos reconhecer três gerações: Geração Nacionalista ou
indianista; geração do "mal do século" e a "geração condoreira".
A
primeira (nacionalista ou indianista) é marcada pela exaltação da natureza,
volta ao passado histórico, medievalismo, criação do herói nacional na figura
do índio, de onde surgiu a denominação "geração indianista". O
sentimentalismo e a religiosidade são outras características presentes. Entre
os principais autores, destacam-se Gonçalves de Magalhães, Gonçalves Dias e
Araújo Porto.
Egocentrismo - A segunda (do mal do século, também chamada
de geração byroniana, de Lord Byron) é impregnada de egocentrismo, negativismo
boêmio, pessimismo, dúvida, desilusão adolescente e tédio constante. Seu tema
preferido é a fuga da realidade, que se manifesta na idealização da infância,
nas virgens sonhadas e na exaltação da morte. Os principais poetas dessa geração
foram Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Junqueira Freire e Fagundes
Varela.
A
geração condoreira, caracterizada pela poesia social e libertária, reflete as
lutas internas da segunda metade do reinado de D. Pedro II. Essa geração sofreu
intensamente a influência de Victor Hugo e de sua poesia político-social, daí
ser conhecida como geração hugoana. O termo condoreirismo é consequência do
símbolo de liberdade adotado pelos jovens românticos: o condor, águia que
habita o alto da condilheira dos Antes. Seu principal representante foi Castro
Alves, seguido por Tobias Barreto e Sousândrade.
Duas
outras variações literárias do Romantismo merecem destaque: a prosa e o teatro
romântico. José de Nicola demonstrou quais as explicações para o aparecimento e
desenvolvimento do romance no Brasil: "A importação ou simples tradução de
romances europeus; a urbanização do Rio de Janeiro, transformado, então, em
Corte, criando uma sociedade consumidora representada pela aristocracia rural,
profissionais liberais, jovens estudantes, todos em busca de entretenimento; o
espírito nacionalista em consequência da independência política a exigir uma
"cor local" para os enredos; o jornalismo vivendo o seu primeiro grande
impulso e a divulgação em massa de folhetins; o avanço do teatro nacional.".
Os
romances respondiam às exigências daquele público leitor; giravam em torno da
descrição dos costumes urbanos, ou de amenidades das zonas rurais, ou de
imponentes selvagens, apresentando personagens idealizados pela imaginação e
ideologia românticas com os quais o leitor se identificava, vivendo uma
realidade que lhe convinha. Algumas poucas obras, porém, fugiram desse esquema,
como "Memórias de um Sargento de Milícias", de Manuel Antônio de
Almeida, e até "Inocência", do Visconde de Taunay.
Ao se
considerar a mera cronologia, o primeiro romance brasileiro foi "O filho
do pescador", publicado em 1843, de autoria de Teixeira de Souza
(1812-1881). Mas se tratava de um romance sentimentaloide, de trama confusa e
que não serve para definir as linhas que o romance romântico seguiria na
literatura brasileira.
Por
esta razão, sobretudo pela aceitação obtida junto ao público leitor, justamente
por ter moldado o gosto deste público ou correspondido às suas expectativas,
convencionou-se adotar o romance "A Moreninha", de Joaquim Manuel de
Macedo, publicado em 1844, como o primeiro romance brasileiro.
Dentro
das características básicas da prosa romântica, destacam-se, além de Joaquim
Manuel de Macedo, Manuel Antônio de Almeida e José de Alencar. Almeida, por sinal,
com as "Memórias de um Sargento de Milícias" realizou uma obra
totalmente inovadora para sua época, exatamente quando Macedo dominava o
ambiente literário. As peripécias de um sargento descritas por ele podem ser
consideradas como o verdadeiro romance de costumes do Romantismo brasileiro,
pois abandona a visão da burguesia urbana, para retratar o povo com toda a sua
simplicidade.
"Casamento"
- José de Alencar, por sua vez, aparece na literatura brasileira como o
consolidador do romance, um ficcionista que cai no gosto popular. Sua obra é um
retrato fiel de suas posições políticas e sociais. Ele defendia o
"casamento" entre o nativo e o europeu colonizador, numa troca de
favores: uns ofereciam a natureza virgem, um solo esplêndido; outros a cultura.
Da soma desses fatores resultaria um Brasil independente. "O guarani"
é o melhor exemplo, ao se observar a relação do principal personagem da obra, o
índio Peri, com a família de D. Antônio de Mariz.
Esse
jogo de interesses entre o índio e o europeu, proposto por Alencar, aparece
também em Iracema (um anagrama da palavra América), na relação da índia com o
Português Martim. Moacir, filho de Iracema e Martim, é o primeiro brasileiro
fruto desse casamento.
José de
Alencar diversificou tanto sua obra, que tornou possível uma classificação por
modalidades: romances urbanos ou de costumes (retratando a sociedade carioca de
sua época - o Rio do II Reinado); romances históricos (dois, na verdade,
voltados para o período colonial brasileiro -"As minas de prata" e "A guerra dos mascates");
romances regionais ("O sertanejo" e "O gaúcho" são as duas
obras regionais de Alencar); romances rurais (como "Til" e "O
tronco do ipê"); e romances indianistas (que trouxeram maior popularidade
para o escritor, como "O Guarani", "Iracema" e
"Ubirajara").
Fonte: Domínio
Público
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