O Simbolismo
É
comum, entre críticos e historiadores, afirmar-se que o Brasil não teve momento
típico para o Simbolismo, sendo essa escola literária a mais europeia, dentre
as que contaram com seguidores nacionais, no confronto com as demais. Por isso,
foi chamada de "produto de importação". O Simbolismo no Brasil começa
em 1893 com a publicação de dois livros: "Missal" (prosa) e
"Broquéis" (poesia), ambos do poeta catarinense Cruz e Sousa, e estende-se
até 1922, quando se realizou a Semana de Arte Moderna.
O
início do Simbolismo não pode ser entendido como o fim da escola anterior, o
Realismo, pois no final do século XIX e início do século XX tem-se três tendências
que caminham paralelas: Realismo, Simbolismo e pré-modernismo, com o
aparecimento de alguns autores preocupados em denunciar a realidade brasileira,
entre eles Euclides da Cunha, Lima Barreto e Monteiro Lobato. Foi a Semana de
Arte Moderna que pois fim a todas as estéticas anteriores e traçou, de forma
definitiva, novos rumos para a literatura do Brasil.
Transição - O Simbolismo, em termos genéricos, reflete um momento
histórico extremamente complexo, que marcaria a transição para o século XX e a
definição de um novo mundo, consolidado a partir da segunda década deste
século. As últimas manifestações simbolistas e as primeiras produções
modernistas são contemporâneas da primeira Guerra Mundial e da Revolução Russa.
Nesse
contexto de conflitos e insatisfações mundiais (que motivou o surgimento do
Simbolismo), era natural que se imaginasse a falta de motivos para o Brasil
desenvolver uma escola de época como essa. Mas é interessante notar que as
origens do Simbolismo brasileiro se deram em uma região marginalizada pela
elite cultural e política: o Sul - a que mais sofreu com a oposição à
recém-nascida república, ainda impregnada de conceitos, teorias e práticas
militares. A República de então não era a que se desejava. E o Rio Grande do
Sul, onde a insatisfação foi mais intensa, transformou-se em palco de lutas
sangrentas iniciadas em 1893, o mesmo ano do início do Simbolismo.
A
Revolução Federalista (1893 a 1895), que começou como uma disputa regional,
ganhou dimensão nacional ao se opor ao governo de Floriano Peixoto, gerando
cenas de extrema violência e crueldade no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e
Paraná. Além disso, surgiu a Revolta da Armada, movimento rebelde que exigiu a
renúncia de Floriano, combatendo, sobretudo, a Marinha brasileira. Ao conseguir
esmagar os revoltosos, o presidente consegue consolidar a República.
Esse
ambiente provavelmente representou a origem do Simbolismo, marcado por frustrações,
angústias, falta de perspectivas, rejeitando o fato e privilegiando o sujeito.
E isto é relevante pois a principal característica desse estilo de época foi
justamente a negação do Realismo e suas manifestações. A nova estética nega o
cientificismo, o materialismo e o racionalismo. E valoriza as manifestações
metafísicas e espirituais, ou seja, o extremo oposto do Naturalismo e do
Parnasianismo.
"Dante
Negro" - Impossível referir-se ao Simbolismo sem reverenciar seus dois
grandes expoentes: Cruz e Sousa e
Alphonsus de Guimarães. Aliás, não seria exagero afirmar que ambos foram o
próprio Simbolismo. Especialmente o primeiro, chamado, então, de "cisne
negro" ou "Dante negro". Figura mais importante do Simbolismo
brasileiro, sem ele, dizem os especialistas, não haveria essa estética no
Brasil. Como poeta, teve apenas um volume publicado em vida: "Broquéis"(os
dois outros volumes de poesia são póstumos). Teve uma carreira muito rápida,
apesar de ser considerado um dos maiores nomes do Simbolismo universal. Sua
obra apresenta uma evolução importante: na medida em que abandona o
subjetivismo e a angústia iniciais, avança para posições mais universalizantes
- sua produção inicial fala da dor e do sofrimento do homem negro (colocações
pessoais, pois era filho de escravos), mas evolui para o sofrimento e a
angústia do ser humano.
Já
Alphonsus de Guimarães preferiu manter-se fiel a um "triângulo" que
caracterizou toda a sua obra: misticismo, amor e morte. A crítica o considera o
mais místico poeta de nossa literatura. O amor pela noiva, morta às vésperas do
casamento, e sua profunda religiosidade e devoção por Nossa Senhora, gerou, e
não poderia ser diferente, um misticismo que beirava o exagero. Um exemplo é o
"Setenário das dores de Nossa Senhora", em que ele atesta sua devoção
pela Virgem. A morte aparece em sua obra como um único meio de atingir a
sublimação e se aproximar de Constança - a noiva morta - e da virgem. Daí o
amor aparecer sempre espiritualizado. A própria decisão de se isolar na cidade
mineira de Mariana, que ele próprio considerou sua "torre de marfim",
é uma postura simbolista.
Fonte: Domínio
Público
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