1. (UEL) Leia o
texto abaixo:
João
Grilo: Ah isso é comigo. Vou fazer um chamado especial, em verso. Garanto que
ela vem, querem ver? (Recitando.)
Valha-me
Nossa Senhora, Mãe de Deus de Nazaré! A vaca mansa dá leite, a braba dá quando
quer. A mansa dá sossegada, a braba levanta o pé. Já fui barco, fui navio, mas
hoje sou escaler. Já fui menino, fui homem, só me falta ser mulher.
Encourado:
Vá vendo a falta de respeito, viu?
João
Grilo: Falta de respeito nada, rapaz! Isso é o versinho de Canário Pardo que
minha mãe cantava para eu dormir. Isso tem nada de falta de respeito!
Já fui
barco, fui navio, mas hoje sou escaler. Já fui menino, fui homem, só me falta
ser mulher. Valha-me. Nossa Senhora, Mãe de Deus de Nazaré.
Cena
igual à da aparição de Nosso Senhor, e Nossa Senhora, A compadecida, entra.
Encourado,
com raiva surda: Lá vem a compadecida! Mulher em tudo se mete!
João
Grilo: Falta de respeito foi isso agora, viu? A senhora se zangou com o verso
que eu recitei?
A
Compadecida: Não, João, porque eu iria me zangar? Aquele é o versinho que
Canário Pardo escreveu para mim e que eu agradeço. Não deixa de ser uma oração,
uma invocação. Tem umas graças, mas isso até a torna alegre e foi coisa de que
eu sempre gostei. Quem gosta de tristeza é o diabo.
João
Grilo: É porque esse camarada aí, tudo o que se diz ele enrasca a gente,
dizendo que é falta de respeito.
A
Compadecida: É máscara dele, João. Como todo fariseu, o diabo é muito apegado
às formas exteriores. É um fariseu consumado.
Encourado:
Protesto.
Manuel:
Eu já sei que você protesta, mas não tenho o que fazer, meu velho. Discordar de
minha mãe é que eu não vou.
(…)
(Fonte: Auto da Compadecida. 15 ed. Rio de
Janeiro: Agir, 1979.)
A obra O Auto da Compadecida foi escrita para
o teatro:
a) Por João Cabral de Melo Neto e aborda temas
recorrentes do Nordeste brasileiro.
b) E seu autor, Ariano Suassuna, aborda o tema
da seca que sempre marcou o Nordeste.
c) Pelos autores do Movimento Armorial,
abordando temas religiosos e costumes populares.
d) Por
Ariano Suassuna, tendo como base romances e histórias populares do Nordeste
brasileiro.
e) Por João Cabral de Melo Neto e aborda temas
religiosos divulgados pela literatura de cordel.
2. (CEDERJ 2014) “A
massificação procura baixar a qualidade artística para a altura do gosto médio.
Em arte, o gosto médio é mais prejudicial do que o mau gosto... Nunca vi um
gênio com gosto médio.”
(Ariano Suassuna)
Considerado um dos maiores dramaturgos do
Brasil, Ariano Suassuna tem seu nome identificado por sua obra mais conhecida,
O Auto da Compadecida, de 1955, e reputada, já em 1962, como um dos textos mais
representativos da história do teatro brasileiro. Sobre o papel desse autor e
de sua obra, assinale a alternativa correta.
a) A atualização do teatro nacional reuniu
valores europeus, num movimento conhecido como “Os discípulos da Compadecida”.
b) A
obra de Ariano Suassuna se confunde com a modernização do teatro brasileiro,
incorpora e dá especial destaque à chamada cultura popular nordestina.
c) Ariano Suassuna tornou-se membro da Academia
Brasileira de Letras, mas jamais conseguiu projeção nacional, a despeito da
divulgação de suas obras.
d) O Auto da Compadecida é, em síntese, uma
exaltação dos poderosos e uma crítica aos pobres, identificados como ignorantes
e preguiçosos.
3. (UEPB) O Auto, jogo linguístico de origem medieval, peça em que certas
atitudes consideradas “pecaminosas” eram “questionadas” através de uma carga de
humor, foi incorporado à produção literária brasileira (ou literatura feita no
Brasil, como bem fez o padre José de Anchieta com a sua escrita evangelizadora
e moralística), de forma que, mesmo distante no tempo e no espaço, este tipo de
texto alcança um vasto público, como é o caso de O auto da Compadecida, de
Ariano Suassuna. Considerando os fragmentos abaixo, marque a alternativa
correta:
[...] PADRE É, mas quem vai ficar engraçado
sou eu, benzendo o cachorro. Benzer motor á fácil, todo mundo faz isso, mas
benzer cachorro?
JOÃO GRILO É, Chicó, o padre tem razão. Quem
vai ficar engraçado é ele e uma coisa é benzer o motor do major Antônio de
Morais e outra é benzer o cachorro do major Antônio de Morais. […]
BISPO Então houve isso? Um cachorro enterrado
em latim?
JOÃO GRILO E então? É proibido? BISPO Se é
proibido? Deve ser, porque é engraçado demais para não ser. É proibido! É mais
do que proibido! Código Canônico, Artigo 1627, parágrafo único, letra k. Padre,
o senhor vai ser suspenso [...]
JOÃO GRILO É mesmo, é uma vergonha. Um
cachorro safado daquele se atreve a deixar três contos para o sacristão, quatro
para o padre e seis para o bispo, é demais. [...]
BISPO É por isso que eu vivo dizendo que os
animais também são criaturas de Deus. Que animal interessante! Que sentimento
nobre!
a) O Auto da Compadecida mantém relação direta
com os autos medievais a partir somente do tipo formal de texto - auto - porque
o conteúdo a ser desenvolvido neste tipo de literatura varia no tempo e no
espaço de forma que um escritor contemporâneo não poderia recuperar nem
atualizar esta forma textual.
b) “Os vícios dos homens e da sociedade” são
apenas uma forma bem-humorada de perceber o mundo, de entreter a razão, de
valer o texto por si mesmo, independente de alusão ou denúncia a que faça
referência porque o riso, e somente o riso, é o que está em primeiro plano
neste tipo de texto.
c) O Auto da Compadecida não faz nenhuma alusão
ao teatro de Gil Vicente porque dista deste no tempo e no espaço, logo os
“vícios dos homens e da sociedade” não poderiam ser os mesmos. O texto de
Ariano Suassuna é apenas uma paródia dos autos medievais.
d) O Auto da Compadecida não tem caráter
moralístico porque a literatura de ficção nunca se propôs a discutir aspectos
relacionados a contextos socioculturais, uma vez que se volta para o plano
estético, desconsiderando qualquer alusão a práticas culturais, a papéis
sociais e outros.
e) “Os
vícios dos homens e da sociedade estão em todas as peças de Gil Vicente,
representados por frades libertinos, magistrados corruptos, mulheres adúlteras
[...] tipos que proliferam quando as sociedades esquecem os valores éticos e
morais” (João Domingues Maia), característica observada na peça de Ariano
Suassuna O Auto da Compadecida.
4. (UFOP) A respeito do Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, é incorreto
dizer que:
a) incorporando romances e histórias populares
do Nordeste brasileiro, é um texto cuja vinculação com os mistérios e
moralidades medievais é bastante nítida.
b) tem fortes particularidades de um
metateatro, principalmente na construção da personagem Palhaço.
c) apresenta uma longa rubrica inicial, com
precisas indicações para o diretor, para o cenógrafo e para o sonoplasta.
d) desprezando
a cultura religiosa das personagens que habitam seu cenário, tem um desfecho
inverossímil e incompatível com o contexto que representa.
e) é um texto estruturado com excepcional
dinamismo, dado que os diálogos são curtos e as ações muito rápidas.
5. (UFOP) Sobre a construção das personagens do Auto da Compadecida, de Ariano
Suassuna, é incorreto afirmar que:
a) João
Grilo, como protagonista, é um herói no sentido mais clássico do termo, uma vez
que combina peculiaridades do herói trágico (a grandeza, p. ex.) e do herói
épico (a coragem, p. ex.).
b) o Diabo é uma alegoria que detém uma grande
funcionalidade, contrastando vivamente com Manuel e com a Compadecida.
c) o Padeiro e sua mulher demonstram claramente
que o sistema moral da sociedade está totalmente comprometido com o sistema
econômico.
d) a Compadecida, justificando a metonímia com
a qual é designada, apresenta-se como a maior e a melhor advogada de João
Grilo.
e) o Padre e o Bispo são verdadeiras
caricaturas dos maus sacerdotes, o que justifica os traços fortes com que são
compostos.
6. (UNICENTRO
2009) O termo “auto”, presente no título da obra
de Ariano Suassuna, Auto da Compadecida, refere-se a:
a) uma tradição folclórica regionalista que faz
alusão ao discurso filosófico.
b) uma improvisação inerente ao gênero da obra.
c) uma visão moderna de se representar peças
pautadas no coloquialismo.
d) uma nova versão de contos populares que se
aproxima da literatura pós-moderna.
e) uma composição alegórica de cunho moral e religioso.
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