O QUE É SOCIAL DEMOCRACIA?
Escrito por Alessandro Nicoli de Mattos/Portal Politize!
“É melhor
as falhas ocasionais de um governo que vive em um espírito de caridade do que
as constantes omissões de um governo congelado no gelo de sua própria
indiferença.” – Franklin D. Roosevelt (1882 – 1945), presidente dos Estados Unidos.
Essa
frase representa um pouco do conceito de social democracia, uma corrente
política e econômica que ganhou muito espaço na Europa, em países como França,
Holanda, Espanha, Suécia e Áustria. Mas em que consiste o pensamento social
democrata? Quais são seus pilares e quais as críticas? Hoje, você vai entender
todas essas questões e como a frase do ex-presidente dos EUA reflete essa
corrente.
SOCIAL DEMOCRACIA: QUAIS SUAS IDEIAS?
A social
democracia é, em sua origem, uma variação do socialismo, surgida dentro do
movimento operário ainda no século XIX. Hoje em dia, após mais de um século de
evolução, essa corrente diverge do socialismo marxista, que busca substituir o
sistema econômico capitalista (no qual os meios de produção estão nas mãos de
indivíduos) pelo sistema econômico socialista (no qual os meios de produção são
coletivizados).
A social
democracia aceita o capitalismo, mas busca mitigar os efeitos desse sistema
considerados adversos, por meio da política. Para isso, utiliza-se de
intervenções econômicas e sociais e promove reformas parciais do sistema ao
invés de substitui-lo por inteiro. Esse é um pensamento político atrelado à
centro-esquerda e seus principais valores são a igualdade e a liberdade.
No campo
político, a social democracia defende as liberdades civis, os direitos de
propriedade e a democracia representativa, na qual os cidadãos escolhem os
rumos do governo por meio de eleições regulares com partidos políticos que
competem entre si.
No campo
econômico, a social democracia encontrou nas teorias do economista britânico
John Maynard Keynes (1883-1946) a combinação perfeita para aliar os interesses
sociais à mitigação de aspectos considerados problemáticos do capitalismo, como
crises periódicas e elevado desemprego. Dessa combinação surgiu o Estado de
Bem-Estar Social, que explicaremos a seguir.
O QUE É O ESTADO DE BEM-ESTAR SOCIAL?
O Estado
de bem-estar social é uma perspectiva política e econômica na qual o Estado tem
um papel central na organização econômica, visando promover o progresso social
e criar redes de segurança aos cidadãos “do berço ao túmulo”, ou seja, durante
toda a sua vida. O Estado é o regulador da vida social e econômica do país.
No
paradigma keynesiano, o Estado passou a ter a função de evitar ou amenizar as
crises econômicas com intervenções anticíclicas na economia, isto é,
intervenções do Estado que visam minimizar os efeitos do clico econômico
(flutuações na economia, em que há a alternância de períodos de crescimento,
estagnação e declínio), aumentando a demanda interna e reaquecendo a economia
em períodos de crise.
Mas como assim aumentar a demanda interna?
Esse
aumento da demanda interna pode ocorrer pelo aumento da renda dos
trabalhadores, pela abertura de linhas de crédito subsidiadas ou pelo gasto
público direto em obras de qualquer espécie. Mesmo que essas ações causem um
déficit público num primeiro momento, tudo se compensa à longo prazo, quando um
novo ciclo de expansão da economia se inicia.
O
governo, ao prezar pelo Estado de bem-estar social, também passa a ter como
objetivo a manutenção de um regime de pleno emprego e o aumento da renda dos
trabalhadores, que resultariam em aumento da demanda interna, crescimento
econômico e melhora das condições sociais.
Além
disso, o governo regula o mercado de trabalho, criando proteções e leis como o
salário mínimo, a regulação da jornada de trabalho, negociações coletivas entre
sindicatos e representantes de setores empresariais e uma gama de direitos
trabalhistas. Aliás, os sindicatos são uma das bases políticas mais importantes
na social democracia.
Por fim,
o Estado também participa de atividades econômicas que são consideradas
necessárias ao desenvolvimento do país, mas que poderiam não ser atendidas
adequadamente pela iniciativa privada, tanto por falta de interesse devido às
margens de lucro pequenas, quanto pela impossibilidade de oferecer serviços
adequados para toda a sociedade – como costuma ocorrer nos setores de energia
(geração elétrica, petróleo, carvão), comunicações, transportes entre outros, e
mais raramente na produção de bens de consumo.
PROTEÇÃO DO ESTADO AO CIDADÃO
No campo
social, o Estado passa a oferecer à população uma rede de segurança que garante
um padrão mínimo de vida. Essa rede de segurança inclui a seguridade social,
com benefícios como o seguro desemprego, auxílio durante períodos de
enfermidade, licença maternidade, aposentadoria por invalidez ou por tempo de
trabalho, entre outros. Também inclui programas de assistência social que visam
auxiliar as pessoas mais vulneráveis da sociedade.
Uma parte
importante do papel do Estado na área social é o provimento de serviços
públicos abrangentes e de qualidade. Nesse paradigma, o Estado é considerado o
melhor provedor de serviços básicos, pois atenderia a toda a sociedade
igualmente independente de poder econômico ou localização geográfica, em
contraposição aos serviços privados, que podem ficar restritos a uma parte da
população ou apenas realizarem o trabalho se for lucrativo – o que não acontece
com o Estado, que prioriza à população ao superávit.
Entre os
serviços públicos providos pelo Estado de bem-estar social, costumam estar
inclusos a assistência médica ampla e gratuita, programas habitacionais,
educação infantil, educação superior, bem como educação básica, segurança,
infraestrutura, justiça, entre outros. É claro que essa ampla gama de serviços
e tarefas do Estado necessita de recursos, que serão obtidos da sociedade por meio
de uma carga tributária mais alta do que em um governo não preveja esses
benefícios.
O PROGRESSISMO NA SOCIAL DEMOCRACIA
A social
democracia, apesar de ser coletivista em assuntos econômicos (ao defender a
intervenção do Estado na economia e prover serviços públicos abrangentes), é
individualista nas questões de ordem social e moral, por não acreditar que o
governo deva interferir nesses assuntos, dando mais liberdade aos cidadãos para
escolherem questões ligadas a direitos sociais.
Nesse
contexto, a social democracia adapta-se bem às ideias progressistas no campo
social e não tem como um de seus valores a manutenção da ordem social vigente
ou a defesa dos comportamentos tradicionais.
Esse fato
acaba gerando certa confusão nas pessoas, que não percebem que as ideias
progressistas não são, necessariamente, as mesmas ideias da esquerda. O
progressismo é, na verdade, o contraposto do conservadorismo e não da direita
como um todo.
CRÍTICAS À SOCIAL DEMOCRACIA
A
aplicação prática desse modelo recebe críticas descrevendo alguns problemas
estruturais. Uma delas, segundo aqueles que se opõe à social democracia, é a
tendência a baixos níveis de crescimento econômico, pois muitas vezes os
objetivos sociais acabam tornando-se antagônicos à eficiência econômica, como
por exemplo quando o governo aumenta artificialmente o valor dos salários,
mantém taxas de câmbio desequilibradas para evitar a inflação, usa empresas
estatais em déficit financeiro para prover bens e serviços ou aumenta os
impostos para financiar o Estado.
Os
liberais (corrente econômica oposta à intervenção estatal na economia) dizem
ainda que a busca da social democracia em mitigar ao máximo os riscos inerentes
à vida implicaria menor autonomia das pessoas e seria uma tentação para políticos
transformarem o Estado em uma instituição paternalista. Em adição, o avanço do
Estado em mais esferas da vida social, com imposição de mais regras e
burocracia, deixaria menor espaço para a liberdade de decisão individual.
Alguns de
seus críticos apontam, por fim, que o próprio sucesso do sistema social
democrata pode acionar os mecanismos de seu enfraquecimento. O aumento da
segurança social, tanto pela previdência – como a ampliação das situações
cobertas ou do número de beneficiários –, quanto por meio de programas sociais,
impõe aumentos de gastos públicos que devem ser cobertos por encargos sociais,
a maioria dos quais incide sobre a folha de pagamento. Nesse cenário, o custo
do trabalho eleva-se e os empresários buscam alternativas para diminuir a
necessidade de mão de obra, como a automatização ou a transferência para outros
países.
Essa
situação comprometeria o objetivo de manter o pleno emprego. Como consequência,
haveria mais pessoas desempregadas, que impõem um custo maior à seguridade social,
que por sua vez conta com menos contribuintes para sustentá-la. Ou seja,
pode-se iniciar um ciclo vicioso que resultará em uma crise de sustentabilidade
do sistema.
1 Comentários
Parabéns, texto claro e objetivo
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