Revolução Inglesa: o fim e a volta da monarquia
Escrito por Renan Lima /Portal Politize!
Processo
que durou cerca de quarenta e sete anos (1642-1689) e que marcou o fim da
monarquia absolutista, a revolução inglesa ou revolução puritana pode ser
considerada como um dos principais marcos da história da Inglaterra.
Passando
por reis, falso republicano, golpe de estado e guerra sem derramar uma gota de
sangue, entenderemos como os ingleses implementaram a monarquia parlamentarista
que está em vigor até os dias atuais.
O absolutismo inglês
Na
monarquia Inglesa, a Magna Carta assinada em 1215 limitava o poder do rei. Tal
lei estabelecia que o soberano deveria consultar os representantes da nobreza,
do clero e do povo antes de tomar decisões importantes como declarar guerras ou
criar novos impostos. Tais representantes, formavam o que conhecemos como o
parlamento.
Porém, a
história nos mostra que desde o reinado de Henrique VIII (1509-1547) a lei foi
desprezada pelos monarcas, que passaram a adotar o absolutismo, sistema político
onde o rei considerava-se único e soberano, não reservando a devida importância
ao parlamento. Tal sistema foi responsável por elevar a Inglaterra a categoria
de imperialista com a colonização da América do Norte e foi levado adiante até
o mandato de Jaime II (1685-1688).
O reino que desafiou o Rei
Podemos
afirmar que o início da revolução inglesa aconteceu no reinado de Henrique
VIII, monarca que foi o responsável por implantar as bases do absolutismo
inglês. Porém apenas no governo absolutista de Carlos I o estopim foi
deflagrado. Os reis absolutistas tinham uma aproximação com a igreja católica,
o que desagradava boa parte da população inglesa, que eram anglicanos e
protestantes. Durante esse período, os puritanos chegaram a ser perseguidos
(principalmente no reinado da rainha Elizabeth I) e muitos deles foram para os
Estados Unidos da América, participar da colonização em curso.
Se o
expoente religioso por si só já mostrava que a relação entre os monarcas e seus
súditos já não era saudável, no parlamento o quadro piorava, pois o regime
absolutista de Carlos I não dava espaço para que a alta nobreza, o clero e o
povo participassem de forma mais efetiva da política inglesa.
Porém, no
ano de 1640, o rei Carlos I pressionado por uma forte crise econômica na qual a
Inglaterra passara, coloca em discussão pela primeira vez no parlamento a
criação de um novo imposto. O parlamento por sua vez, não acatou o pedido e
ainda afirmou que o rei deveria ser submetido a uma constituição. Tal ato
desagradou Carlos I que dissolveu o parlamento.
Assim,
foi convocado um novo parlamento para avaliar a necessidade financeira da
coroa. Mais uma vez, os parlamentares em forma de protesto se revoltaram e
pregaram desobediência ao rei. A Irlanda, aproveitando-se do momento de
fragilidade do rei, reivindicou sua independência e o rei Carlos pediu
autorização ao parlamento para mandar tropas a Irlanda, e o parlamento mais uma
vez não obedeceu ao rei. Dando início a Revolução Inglesa ou a Revolução
Puritana.
Portanto,
a Inglaterra da época era religiosamente dividida entre católicos, anglicanos e
puritanos, como a grande maioria dos reis eram católicos e grande parte da
população como também do parlamento era puritana, ocorre um forte desgaste no
parlamento, e por esse motivo a revolução inglesa é também conhecida como
revolução puritana.
Podemos
dividir a revolução em quatro etapas distintas, são elas: Guerra Civil
(1641-1645) onde as tropas do Rei Carlos I entram em conflito com as tropas do
parlamento, lideradas por Oliver Cromwell. República de Cromwell (1649-1658)
marcando o curto período de tempo em que a Inglaterra foi uma república.
Restauração Monárquica (1658-1688) período logo após a morte de Cromwell, e por
fim, a Revolução Gloriosa (1688-1689) que relata o golpe de estado de Guilherme
de Orange, apoiado pelo parlamento, sem derramamento de sangue.
Oliver Cromwell, o falso republicano
Se de um
lado tínhamos um rei absolutista com todo o seu poderio militar e apoiado pelos
católicos, anglicanos e a alta nobreza, do outro tínhamos o parlamento inglês
apoiado pelos Gentry (pessoas importantes, porém sem título de nobreza), a
burguesia e os puritanos.
O
principal líder do parlamento rebelde era Oliver Cromwell, um proprietário
rural e puritano radical. Cromwell passa a liderar o chamado “cabeças redondas”
nome dado ao exército parlamentar devido aos seus soldados que tinham cabelo
curto e se protegiam com elmos.
Em uma
guerra civil que durou aproximadamente três anos, Cromwell desenvolveu uma nova
estratégia militar, treinando burgueses e camponeses e dando a eles patentes
elevadas de acordo com suas habilidades de combate e não mais de acordo com o
título que detinham. O exército parlamentar acaba por se sair vencedor em 1645
e o rei Carlos I foge para a Escócia, que por sua vez aceita um suborno inglês
(40 mil libras de ouro) e o envia novamente a Inglaterra, onde é julgado e
decapitado.
Com a
morte do rei Carlos I, Cromwell que já caracterizava-se como líder do
parlamento desde antes da guerra civil, proclama a República puritana na
Inglaterra, passando a liderar junto com o parlamento. Porém, depois de um
certo período de tempo Cromwell dissolve o parlamento e se autoproclama como
“Lorde protetor da Inglaterra, Escócia e Irlanda” em 1653.
Entre os
anos de 1653 e 1658, ano que marca o fim da república na Inglaterra, Cromwell
assina os atos de navegação, lei que reservava aos navios ingleses o direito exclusivo
de negociar produtos coloniais com a Inglaterra, dando um forte impulso
econômico aos ingleses, transformando-os na maior potência marítima da Europa.
Porém em
1659, Cromwell é encontrado morto, até os dias atuais não se sabe a causa exata
da morte, existem teorias que defendem a tese de envenenamento já que o
parlamento estava descontente com seu governo totalitário. Como também existe a
teoria que aponta a malária como causa da morte.
Após a
morte de Cromwell, quem assume é seu filho, Richard Cromwell, porém o mesmo não
tinha o prestígio do pai, e em seis meses de governo não resiste a pressão dos
parlamentares e acaba abdicando do governo. Com isso, no ano de 1659 o
parlamento volta ao poder e reestabelece a monarquia, colocando no poder o filho
do rei Carlos I, Carlos II em 1660.
A revolução gloriosa
O governo
do novo rei Carlos II não teve aprovação maciça do parlamento pois o rei também
era católico. Porém, o rei Carlos II consegue governar sem grandes problemas
até a sua morte no dia dois de fevereiro de 1685, vitima de uma uremia
(síndrome clínica devido a uma disfunção renal). Com sua morte, o novo monarca inglês
passa a ser seu genro, Jaime II.
O
parlamento inglês demonstrava claro desconforto com o fato de mais um monarca
católico chegar ao poder e também pelo fato de que Jaime II era da dinastia
stuart que governava a Inglaterra desde antes do reinado de Carlos I. O temor
era que o novo rei aderisse a prática de seus antecessores, instaurando
novamente uma monarquia absolutista e dissolvendo o parlamento mais uma vez.
Tal
descontentamento leva ou parlamento a realizar uma respiração contra o rei
Jaime II. Junto com Guilherme de Orange, genro de Jaime, ou parlamento oferece
ou reina a Guilherme desde que o mesmo se compromete a assinar uma Carta de
Direitos, documento jurídico que distingue normas e direitos individuais de
indivíduos além de limitar o poder dos governantes. Guilherme de Orange então
tomou o poder sem precisar usar força, pois o rei Jaime II não oferece
resistência, por isso deu-se o nome de revolução gloriosa.
A
Declaração de direitos reduz drasticamente o poder do rei, instituindo uma monarquia
parlamentarista que está em vigor até os dias atuais na Inglaterra.
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