A crise ambiental no Brasil e o papel da Geografia
*por Peterson Azevedo
Geografia
é meio, é espaço, é ambiente. Não podemos falar em meio ambiente, sem
entendermos como as relações humanas interferem e transformam os espaços
naturais em espaços humanizados. O principal objeto de estudo da Geografia é o
de interpretar a construção do espaço geográfico, a partir do trabalho, das
transformações e, principalmente, das grandes intervenções humanas na natureza.
Mas será que realmente temos uma noção científica precisa acerca da capacidade
de resiliência do Planeta Terra? Até que ponto, as tecnologias industriais
diminuem ou amplificam as crises referentes aos problemas ambientais? Podemos
viver como nos períodos da primeira e segunda revolução industrial, que
buscavam, incansavelmente e incessantemente, os avanços tecnológicos
produtivos, sem atentarmos para o agravamento da escassez e a pressão
devastadora sobre os recursos naturais?
Para
entendermos estes questionamentos se faz necessário compreendermos as relações
civilizatórias entre o homem e sua relação produtiva pós nomadismo. Quando o
homem deixa de transitar entre os ambientes (sedentarismo) e passa a controlar
um determinado espaço por meio da técnica, as pressões sobre estes ambientes se
fazem mais evidentes e aceleradamente mais destrutivas, não (como antes) que
faziam com que este ambiente se regenerasse. Após a terceira revolução
industrial – e com o acelerado aumento populacional –, os ambientes naturais
passam a sofrer ainda mais pressões sobre seus recursos. Como geralmente as
políticas públicas não são planejadas e pensadas a longo prazo, as soluções
emergenciais passam a ditar as regras de gestão e controle às necessidades
humanas (moradia, alimento, saúde, educação e emprego), sem, muitas vezes,
entender e se preocupar como essas políticas irão impactar os recurso naturais
e o seu poder de resiliência. Mesmo sendo o única espécie com a capacidade de
raciocínio lógico e crítico, o ser humano é o e que mais destrói os
ecossistemas do planeta. As mudanças climáticas sempre ocorreram, sejam elas de
origens naturais, sejam de ações antrópicas. As de origens naturais, se não
sofressem a intervenção humana, pouco seriam sentidas e observadas. Já as de
origem antrópicas (devastação, queimadas, produção industrial, descarte de resíduos),
essas, como atingem uma grande área, e são velozes em suas estruturas
produtivas, além de serem percebidas pela humanidade, a impacta de tal maneira,
a ponto de interferir nas relações sociais, econômicas e ambientais. As ações
humanas predatórias deram origem a um dos mais graves problemas ambientais, o
que conhecemos como “mudanças climáticas” e, consequentemente, ao aquecimento
global.
O
aquecimento Global é uma realidade comprovada pela ciência e não se pode negar
os fatores que desencadeiam essas transformações ambientais em todo o planeta.
Não obstante, o atual governo brasileiro (2019), por meio de políticas públicas
intervencionistas e de afrouxamento à proteção dos recursos naturais, nos leva
a uma maior flexibilização nos processos de fiscalização, de proteção dos
nossos biomas, além de nos levar a um perigoso colapso climático e dos recursos
naturais. Com a ausência do Estado e a ampliação das atividades agropecuárias e
de mineração, as pressões ambientais sobre os ecossistemas nacionais,
principalmente o bioma Amazônico, se amplificam. Segundo o Greenpeace “De
janeiro a agosto deste ano o número de alertas de desmatamento na Amazônia
(Deter) aumentou 75% e os focos de calor cresceram 111%, ambos na comparação
com o mesmo período de 2018.” As queimadas também são uma forte ameaça aos
povos originais e a maior floresta tropical do mundo. O Greenpeace (2019)
afirma ainda que “a quantidade de focos de incêndio registrados na Amazônia em
2019 é uma das maiores dos últimos anos. De janeiro a 20 de agosto, o número de
queimadas na região foi 145% superior ao registrado no mesmo período de 2018”,
como demonstra os dados do projeto terra brasilis do Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais – INPE.
A
geografia tem um papel preponderante no que se refere aos estudos desses
cenários e a consolidação de possíveis caminhos que possam diminuir as pressões
exercidas pelo capital sobre nossos recursos naturais. Quando a natureza deixa
de influenciar as relações sociais e quando o homem passa a influenciar
diretamente os recursos, os espaços geográficos são constantemente
transformados, o que o Professor Mílton Santos (1996) chamou de espaços
oriundos do meio técnico-científico-informacional. Foi nesse sentido que o
pensamento geográfico foi ressignificado, deixando de ser apenas um estudo
descritivo do espaço natural e humanizado, para se aprofundar em análises mais
críticas acerca das transformações ocorridas nessas (re)configurações dos
espaços construídos, tendo como como base o capital. A geografia propõe a
elaboração de políticas públicas sérias e voltadas ao desenvolvimento
sustentável, ampliando sua gestão fiscalizatória e de preservacionismo
constante, incrementando e investindo em geotecnologias de produção
sustentáveis e que mantenha a floresta produtiva e em pé. A geografia é a base
para as principais áreas do conhecimento correlato, tais como geologia,
geomorfologia, pedologia, climatologia aplicada, geofísica, meteorologia e
geotecnologia, essas que são fundamentais para análises precisas sobre o meio
ambiente e suas ameaças, além de propor caminhos científicos que possam
equilibrar as relações entre a produção capitalista e os recursos naturais.
Mas o que
estamos presenciando em 2019, principalmente no atual governo brasileiro, é um
caminhar contrário às políticas que pensem os recursos naturais como finitos e
sensíveis ao acelerado modelo de produção capitalista. Ainda segundo o
Greenpeace (2019) “Apenas o recente ataque feito pelo governo contra o Fundo
Amazônia já resultou no bloqueio de R$ 288 milhões em doações da Noruega e da
Alemanha, trazendo consequências perversas para o combate ao desmatamento e ao
fogo na Amazônia.” O que impacta diretamente nas áreas de conservação e nas
terras indígenas, como mostra o gráfico do World Wide Fund for Nature – WWF.
O governo
junto aos seus órgãos nas três esferas de poder (federal, estadual e municipal)
devem coibir as queimadas criminosas, o desflorestamento criminoso, e a venda
ilegal de nossos recursos naturais. O georreferenciamento é uma poderosa arma
para o monitoramento em tempo real dessas atividades criminosas. A geografia é
um dos caminhos viáveis, para a preservação da vida no planeta, por um
desenvolvimento planejado, sustentável e menos desigual. Juntos somos mais!
Fonte:
Plataforma Anísio Teixeira
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