A geografia e seu objeto de investigação
*por Peterson Azevedo
Você sabe
o que estuda a geografia? Será que a geografia deveria se debruçar apenas sobre
os aspectos fisiográficos do planeta? Qual será realmente o objeto de estudo e
de investigação da ciência geográfica? Para entendermos estas questões se faz
necessário a interpretação do que entendemos como categorias geográficas,
responsáveis por compartimentar o espaço natural em categorias específicas,
levando em consideração as transformações da paisagem, derivadas das ações
antrópicas, ou melhor, dos espaços naturais modificados pelo trabalho do homem.
Por isso, se faz importante a diferenciação entre o espaço naturalizado (este
que não sofre a influência ou ação do homem), do espaço geográfico (este que é
humanizado pelo trabalho e a ação antrópica). Para Lefebvre (1974, p.26) “o
espaço social é um produto social”. Este espaço compreende as relações sociais
e não pode ser resumido ao espaço físico; ele é o espaço da vida social.
Para
análise e investigação das dinâmicas humanas e suas transformações no espaço,
humanistas clássicos, como Henri Lefebvre, entende este espaço como aquele no
qual ocorre o inter-relacionamento das seguintes categorias: território,
região, paisagem e lugar. O Território seria conquistado no tempo e no espaço,
através de conquistas bélicas, políticas e sociais, ao longo da historicidade
daquele determinado grupo social, ou seja, o território na contemporaneidade
seria o espaço que é delimitado por fronteiras e que é administrado por uma
força e/ou poder e é regido por leis e convenções sociais. A Região, por sua
vez, é um espaço geográfico que é administrativamente e/ou politicamente
dividido em espaços geográficos específicos, de acordo com uma determinada
característica heterogênea, seja ela por determinação política, econômica e/ou
social. Podemos citar, como exemplo, a regionalização do Estado da Bahia, onde
temos a “região cacaueira”, “a costa dos coqueiros” , “a chapada diamantina”
(sugestão – pesquisar os territórios de identidade da Bahia). A Paisagem
geográfica é percebida apenas pelas dinâmicas de vivência, ou seja, pela
percepção lógica do citadino que vive neste espaço e que é responsável direto
pelas ações que constituíram esta paisagem. Podemos citar, por exemplo, a
cidade como em sendo uma paisagem particular. Quem é soteropolitano terá uma
percepção da cidade de Salvador muito mais próxima que um cidadão natural de
Maceió. O Lugar é a menor unidade de percepção e transformações do espaço
geográfico; é uma categorização particular do espaço, da paisagem e do
território. O lugar é um espaço de constituição mais intimista, mais
identitária, pessoal e afetivo; é onde se manifestam e são construídas as
importâncias de pertencimento do espaço global. Como exemplo, podemos citar a
nossa casa, o nosso quarto.
Estas
categorias, apesar de didaticamente serem entendidas como separadas, perpassam
suas lógicas, suas áreas de intervenção e atuação no espaço geográfico
globalizado. Elas são estratégias importantíssimas para entendermos as
complexas relações políticas, econômicas e sociais que se entrelaçam como
processos de desenvolvimento humano. As guerras, os conflitos sociais e
religiosos, as relações de poder, o subdesenvolvimento, o desenvolvimento e a
geopolítica só podem ser interpretados e analisados partindo do entendimento
historiográfico e geográfico das dinâmicas sociais nos diversos espaços
construídos e ressignificados no tempo e no lugar.
Para o
mestre Milton Santos “se a geografia deseja interpretar o espaço humano como o
fato histórico que ele é, somente a história da sociedade mundial, aliada à
sociedade local, pode servir como fundamento à compreensão da realidade
espacial e permitir a sua transformação a serviço do homem. Pois a história não
se escreve fora do espaço, e não há sociedade a-espacial.” (SANTOS, 1977,
p.81).
Fonte:
Plataforma Anísio Teixeira
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