A Luta dos Movimentos Negros na Tela do Cinema
por André
Soledade
No mês de
novembro, celebramos o Dia Nacional da Consciência Negra, e não posso deixar de
recomendar dois filmes que me inspiraram a escrever este texto: “Até o Fim”
e “Selma”. Esses dois filmes são fascinantes e abordam, dentro de um
contexto histórico, a luta dos negros afro-americanos pelos direitos civis nos
Estados Unidos. Sei que muitos leitores devem achar irrelevante falar sobre a
história de outro país, enquanto poderíamos exaltar a nossa, no entanto, esses
filmes tratam, dentro de um contexto social e político, a vida de Martin Luther
King. Conhecendo um pouco da sua trajetória, vejo a influência de seus ideais
no movimento negro no Brasil e no mundo.
Os negros
americanos foram escravizados de 1619 a 1863, todavia, mesmo com o fim da
escravidão, os negros americanos permaneceram segregados por um longo tempo,
apesar de a Constituição americana garantir os direitos fundamentais a todos os
cidadãos. Nesse período, uma doutrina jurídica chamada “Separados, mas iguais”
permitia que o governo deixasse que os setores públicos ou privados como de
serviços, instalações, acomodações, moradia, cuidados médicos, emprego e
transporte pudessem ser separados baseados na raça. Assim, os negros eram
obrigados a frequentar escolas só para negros, tinham banheiros em repartições
públicas e privadas destinados somente a eles e em muitos estados americanos
eram obrigados a ceder o lugar num coletivo caso um branco estivesse de
pé. Outro direito civil regulamentado
pela Constituição desde 1870 e negado aos negros por quase cem anos após o fim
da escravidão, principalmente nos estados do sul, foi o voto. Para conter a
participação dos negros pobres nas eleições, alguns estados passaram a
instituir taxas ou a exigir que o eleitor passasse por uma avaliação escrita
antes de votar. Essa situação é muito bem retratada no filme” Selma”. Além
disso, grupos violentos denominados Ku Klux Klan ameaçavam os negros, tentando
desencorajá-los de chegar às urnas.
Muitos
negros não aceitavam esse tipo de tratamento e destaco, entre eles, a atitude
de Rosa Parks, mulher negra que se negou a ceder seu lugar num coletivo para
uma mulher branca e, por essa atitude, foi presa. A partir da década de 60,
indivíduos como Martin Luther King, Malcolm X, Rosa Parks e outros passaram a
lutar pelos diretos civis dos negros nos Estados Unidos. O ativista Malcolm X
conduziu parte do movimento negro com o princípio da violência como forma de
autodefesa. Ou seja, a violência não era uma forma de barbárie, mas um meio
legítimo de conquistas, afinal as grandes mudanças na história da humanidade se
deram dessa forma. Ao contrário de Malcolm X, o pastor protestante Martin
Luther King conduziu o movimento negro inspirado em Mahatma Gandhi, que tinha
como princípios: coagir as autoridades através da desobediência civil e a
prática da não violência. Ele organizou diversas marchas com o propósito de pôr
um fim na segregação racial e de assegurar o voto a toda comunidade negra, que
mais tarde teria os direitos assegurados com a Lei dos Direitos Civis (1964) e
a Lei dos Direitos Eleitorais (1965), ambas fruto desses movimentos e abordadas
no filme “Até o Fim”. Por obra da sua
liderança e resistência não violenta e pelo fim do preconceito, em 1964, King
recebe o Prêmio Nobel da Paz. A postura e os ideais de igualdade de King
incomodaram a muito segmentos da sociedade americana, dentre eles o FBI, que,
representado na pessoa a John Edgar Hoover, considerou-o um radical e comunista
e por isso investigou sua vida, através de grampos telefônicos. Anonimamente,
ameaçava sua vida através de cartas, que, apesar de tudo, nunca o intimidou.
A postura
de King culminou no seu assassinato em 04 de abril de 1968, momentos antes de
uma marcha. Nos anos seguintes, contudo, muitos líderes dos direitos civis
continuaram a trabalhar pela igualdade racial nas instâncias políticas.
A luta e
os ideais de King e de seus contemporâneos repercutiram e influenciaram
movimentos similares em todo o mundo, levando as comunidades negras a
reivindicar por direitos de igualdade e oportunidade. Nos anos que sucederam a
sua morte, o número de negros em repartições públicas, na política e mais tarde
com a eleição de Barack Obama na própria presidência se tornaria marcos na
história dos Estados Unidos.
Fonte: Plataforma Anísio Teixeira
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