Euclides da Cunha
A fase “A” da implantação da Sociologia no Brasil:
A
primeira geração da Sociologia brasileira seria composta por aqueles autores
que se preocuparam em fazer estudos históricos sobre a nossa realidade, com um
caráter mais voltado à Literatura do que para a Sociologia.
Desta
geração de autores, queremos destacar Euclides da Cunha (1866-1909). Cunha
nasceu no Rio de Janeiro, foi militar engenheiro, além de ter estudado
Matemática e Ciências Físicas e Naturais. Porém, o que gostava de fazer, como
profissional, era o jornalismo.
Em 1895,
abandonou o Exército e começou a trabalhar como correspondente do jornal “O
Estado de São Paulo”. Nessa função foi enviado para a Guerra de Canudos, no
interior da Bahia, de onde surgiu sua maior contribuição à Sociologia
brasileira: o livro Os Sertões.
Se
analisarmos este livro pelo enfoque literário, podemos perceber que Cunha faz,
usando seus conhecimentos de Ciências e Físicas Naturais, relatos sobre como era
a terra e a paisagem de Canudos. Também faz a descrição dos homens que ali
viviam, ou seja, os sertanejos, nos quais percebe que, ao contrário do que
pensava antes de conhecê-los, eram fortes e valentes, ainda que a aparência dos
mesmos não demonstrasse isso.
Por fim,
Cunha descreve a guerra, isto é, como foi que o governo da época conseguiu
acabar com o que considerava ser uma revolução que reivindicava a volta do
sistema monárquico no Brasil. Na verdade Antonio Conselheiro (o líder da
Revolução de Canudos) e seus seguidores apenas defendiam seus lares, sua
sobrevivência.
“É que
estava em jogo, em Canudos, a sorte da República...” Diziam-no informes
surpreendedores; aquilo não era um arraial de bandidos truculentos apenas. Lá
existiam homens de raro valor – entre os quais se nomeavam conhecidos oficiais
do exército e da armada, foragidos desde a Revolução de Setembro, que o
Conselheiro avocara ao seu partido.” (CUNHA, 1979: 250).
Olhando
mais pelo lado sociológico, podemos perceber que Cunha estava fazendo
revelações quanto à organização da República que estava sendo consolidada.
Canudos era um retrato de uma sociedade republicana que não conseguia suprir as
necessidades básicas de seu povo.
Coisa que
Antonio Conselheiro, com sua maneira missionária de ser, acreditava e lutava
para acontecer, pois...
“...abria
aos desventurados os celeiros fartos pelas esmolas e produtos do trabalho
comum. Compreendia que aquela massa, na aparência inútil, era o cerne vigoroso
do arraial. Formavam-na os eleitos, felizes por terem aos ombros os frangalhos
imundos, esfiapados sambenitos de uma penitência que lhes fora a própria vida;
bem-aventurados porque o passo trôpego, remorado pelas muletas e pelas
anquiloses, lhes era a celeridade máxima, no avançar para a felicidade eterna”.
(CUNHA, 1979: 132).
Após duas
tentativas sem sucesso de “tomar” Canudos – pois os sertanejos tornavam difícil
a vida dos soldados, por conhecerem muito bem a caatinga sertaneja – o governo
federal republicano deixou de subestimar a força daquelas pessoas que se uniram
a Conselheiro.
Convocou
para uma terceira expedição batalhões armados de vários estados brasileiros e
promoveu uma grande guerra e matança naquela região, em prol da República.
A
observação de Euclides da Cunha e as revelações que faz quanto à sociedade
brasileira em Os Sertões, transforma esta obra em um dos referenciais de início
do pensamento sociológico no Brasil.
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