Tales de Mileto

A Filosofia Naturalista de Mileto


A escola filosófica mileteana (Tales, Anaximandro, Anaxímenes), existiu no século VI A.C.

A cidade de Mileto, no litoral jônico da Ásia Menor, foi naquela época um dos maiores centros comerciais e industriais da Grécia e servia de intermediária no comércio entre a Grécia, a Pérsia, o Egito e o litoral do mar Negro. Foi também em Mileto, cidade muito desenvolvida e florescente, que nasceu a filosofia materialista grega.

Tales foi o fundador da escola filosófica mileteana. Viveu nos fins do século VII e no princípio do século VI A.C. Com razão ele é considerado o pai da ciência e da filosofia gregas.

Tales, tendo em conta a época em que viveu, era um homem instruído sob todos os aspectos. Sendo comerciante, foi simultaneamente, político, filósofo, astrônomo, matemático, etc. Em suas viagens comerciais, conheceu a cultura e a ciência egípcias e babilônicas. Tales predisse um eclipse solar, fenômeno que explicou afirmando que era resultante da interposição da lua entre o sol e a terra. Ensinou que a luz da lua era apenas a luz solar refletida. Calculou a duração do movimento anual do sol em 365 dias. Descobriu a constelação do Carro (Ursa Menor). Segundo contam, soube predizer cientificamente o tempo. Cultivava também a geometria e particularmente o problema da igualdade dos ângulos e triângulos; sabia determinar a altura dos objetos pela sombra.

Tales considerava a água como o princípio, o elemento primordial de tudo o que existia. Da água, em sua opinião, formavam-se todos os objetos, que em água tornavam a converter-se. Sendo o princípio e o fundamento material de todas as substâncias, a água não era criada por ninguém e jamais perecia. Mas a água muda constantemente de estado, transformando-se em diversas substâncias diferentes. Ao negar a criação da natureza e do homem pelos deuses, Tales abalou os alicerces da religião grega.

Contudo, não pôde vencer por completo a religião. Dizia que o mundo era animado, que o ímã tinha alma, graças à qual atraia o ferro. Porém os deuses de Tales desempenham um papel muito insignificante, uma vez que ele considera a natureza eterna e não criada. A consciência é inerente à própria natureza e não é trazida de fora. A natureza inorgânica, segundo Tales, possui também uma consciência.

Anaximandro (por volta dos anos 610-546 A.C.), discípulo de Tales, considerava como princípio primário de tudo o que existia o "apeyron", uma matéria indefinida, sem forma. Esta matéria indefinida servia para separar os contrastes, o calor e o frio, graças aos quais se formaram as diferentes substâncias do mundo. Da ação mútua do calor e do frio formou-se primitivamente a água. A decomposição da água deu lugar ao aparecimento do fogo, do ar e da terra. As diversas e múltiplas coisas que surgiram do "apeyron" tornam a converter-se nele mais tarde, e em seu lugar surgem outras coisas. Anaximandro considerava esse movimento perpétuo da matéria um fenômeno necessário e seu processo sujeito a certas leis. O mundo, segundo ele, achava-se num estado constante de transformação devido à luta dos contrastes contidos no "apeyron". Anaximandro concebia a natureza como um processo dialético espontâneo. Reconhecia a existência de uma multidão infinita de mundos, que se formavam, por via natural do "apeyron" eterno. Esses mundos, com o correr do tempo, morrem e em seu lugar nascem outros novos. Embora Anaximandro não negasse a existência dos deuses, esses, na sua opinião, não tomavam parte na formação e destruição dos mundos.

Anaximandro enunciava de forma simplista os germes da concepção evolucionista da natureza. Dizia que os animais se originavam da água e que o homem provinha do peixe. Foi um grande inventor; confeccionava relógios solares; foi o primeiro a traçar um mapa geográfico, etc.

Anaxímenes (meados do século VI A.C.) foi discípulo de Anaximandro. Anaxímenes regressa novamente da matéria abstrata de Anaximandro à forma concreta da matéria, considerando o ar como seu fundamento primário. Segundo ele, todas as coisas proveem do ar perpetuamente em movimento e em ar tornam a converter-se. O ar excitado converte-se em fogo; o ar condensado, em vento, nuvem, água, ferro, pedras. O ar se condensa, conforme a opinião de Anaxímenes, devido ao frio e se dilata pela ação do calor. Anaxímenes, sem negar diretamente a existência dos deuses, representava-os como seres materiais, afirmando que também eles se originavam do ar.

Anaxímenes considerava o céu como uma abóboda de cristal à qual as estrelas estavam presas. Essa abóboda celeste, de forma cilíndrica, cobre a terra. Entre o céu e a terra flutuam no ar o sol, a lua e os planetas, os quais se diferenciam das estrelas porque estas não têm um movimento próprio, visto estarem coladas à abóboda celeste, com a qual se movem. Anaxímenes explicava o eclipse do sol e da lua de uma forma ingênua, dizendo que o sol e a lua tinham um lado escuro e o outro luminoso, de forma que, quando voltavam o lado escuro para a terra, produzia-se o eclipse.

A filosofia dos mileteanos tem, incontestavelmente, caráter materialista, uma vez que considera fundamento do mundo um princípio material eterno, que ninguém criou; ela interpreta a natureza e suas leis pela observação da própria natureza, combatendo as interpretações mitológicas do mundo. Para eles a base do mundo é uma matéria concreta: a água, o ar. Os mileteanos eram dialéticos espontâneos, concebendo todo o mundo em movimento, em conexão mútua, em transformação recíproca.

O defeito principal dos filósofos mileteanos foi o de não terem sabido explicar a causa do movimento das coisas, a causa das transformações que se dão no mundo. Mais próximo da verdade que os mileteanos, esteve um dos maiores filósofos da Grécia jônica: Heráclito. 

Fonte: História da Filosofia