Mapa da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul em 1852 |
Formação histórica do Estado do Rio Grande do Sul
As peculiaridades geográficas da área onde atualmente se encontra o
Estado do Rio Grande do Sul, dividido em 11 diferentes regiões fisiográficas,
influíram para retardar a ocupação da terra pelo conquistador europeu.
Passado um século do descobrimento do Brasil, ocorrido em 1500, a região
era quase inteiramente desconhecida pelos portugueses. Seus campos eram
ocupados por três grupos indígenas: o Gê ou Tapuia (onde se encontram
remanescentes caingangues), que ocupava a região de "Cima da Serra",
onde hoje se encontram os municípios de Passo Fundo, Lagoa Vermelha, Vacaria,
Bom Jesus e São Francisco de Paula; o Pampeano (Charrua, Minuano), que vivia no
pampa gaúcho e uruguaio (campos de vegetação baixa, propícios à criação de
gado); e o Guarani, que ocupava o litoral, nas margens da Lagoa dos Patos e nas
vizinhanças dos grandes rios.
A partir de 1626, padres jesuítas espanhóis começaram a fundar reduções
ou missões (aldeias orientadas pela religião católica, onde os índios viviam de
acordo com os princípios da cultura ocidental, em comunidades organizadas pelos
missionários jesuítas) na região oeste do território hoje pertencente ao sul do
Brasil, ao Uruguai e à Argentina. Durante todo o século XVII ocorreram
conflitos frequentes entre índios e bandeirantes. Os primeiros tinham apoio dos
missionários jesuítas, que desejavam convertê-los e civilizá-los. Em função
desse apoio, diversas missões foram criadas e destruídas, tendo os índios sido,
por vezes, submetidos a períodos de exílio forçado de suas terras originais.
No final do século XVII e princípios do século XVIII, os índios
iniciaram um retorno gradual às terras que antes lhes pertenciam, sempre com o
apoio dos jesuítas. Foram criados nesse período, sete povoados, que ficaram
conhecidos como os "sete povos das missões". A etnia desses povos era
variada, predominando traços dos guaranis. O Governo de cada aldeia imitava a
organização das cidades coloniais espanholas, sendo a sociedade dividida em
classes, segundo o ofício. Artistas eméritos eram considerados em plano social
superior, com prerrogativas quase de nobreza. A agricultura era exercida
coletivamente, não havendo propriedade particular. Os instrumentos agrícolas
utilizados também pertenciam à coletividade. O gado, fator primordial para o sustento
dessas populações, era criado em campos (vacarias) afastados das aldeias, onde
existiam boas condições climáticas e gramíneas de alto poder alimentício.
Criavam também cavalos, ovelhas, cabras, galinhas, porcos etc. Dada a
facilidade de aprendizagem, não houve problemas em ensinar aos índios as artes
mecânicas em "oficinas" onde aprendizes trabalhavam sob a orientação
de um "mestre". Todos os artífices trabalhavam para a comunidade e
viviam da produção da comunidade. Extraía-se a erva-mate e madeira, praticava-se
a metalurgia e se criava gado. Tendo aprendido a fazer mudas, os índios
plantaram grandes ervais nas proximidades dos povoados. Com a madeira extraída,
executavam obras de arte, especialmente peças sacras, como imagens, candelabros
etc. Os "sete povos" eram formados pelas aldeias de São Francisco
Borja (1682); São Nicolau (1687); São Luiz Gonzaga (1687); São Miguel Arcanjo
(1687); São Lourenço Mártir (1690); São João Batista (1697); e Santo Ângelo
Custódio (1707), município onde hoje podem ser encontradas as ruínas da igreja
de São Miguel, conjunto tombado pela Organização das Nações Unidas - ONU, como
patrimônio histórico da humanidade.
Enquanto floresciam os sete povos no oeste, o litoral era aos poucos
ocupado pela penetração portuguesa. Em 1680 foi criada a colônia de Sacramento,
às margens do rio da Prata (hoje cidade de Colônia no Uruguai). Fundada como
local de contrabando, tornou-se um dos centros da guerra de fronteiras travada
entre portugueses e espanhóis durante todo o século XVIII. Em 1726, os
espanhóis fundaram a cidade de Montevidéu, a leste de Sacramento, também na
margem esquerda do Prata, para diminuir a influência de Portugal na região e
ampliar o controle da navegação no Prata. Depois de várias tentativas para
conquistar Montevidéu, os portugueses fundaram o Forte Jesus Maria José, em
1737, atual cidade de Rio Grande, em território brasileiro. Os conflitos se
encerraram apenas em 1777, com a assinatura do Tratado de Santo Ildefonso,
entre Portugal e Espanha, pelo qual ficou garantida a soberania espanhola sobre
Sacramento e a posse de Rio Grande pelos portugueses. A região hoje
correspondente ao Estado do Rio Grande do Sul teve sua fronteira definida
apenas em 1801, após a assinatura do "Tratado de Badajoz".
A partir de 1824, começaram a chegar levas de imigrantes alemães para a
região, o que diversificou a economia, antes baseada nas grandes estâncias de
gado de corte. Os imigrantes instalaram-se em pequenas propriedades rurais, com
produção agrícola diversificada, que passou a abastecer o Estado e ser
exportada para as regiões vizinhas.
No século XIX, ocorreram ainda várias rebeliões no Rio Grande do Sul. A
mais longa delas foi a Guerra dos Farrapos, produto de divergências entre
defensores de ideais republicanos e federalistas. Durou dez anos (1835-45). A
pacificação do Estado, após outras lutas civis, só ocorreu a partir de 1928,
com o Governo de Getúlio Vargas, que mais tarde viria a ser presidente do
Brasil.
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