22/01/2021
Armas nucleares: ONU e papa saúdam tratado
sem assinatura de potências
Tratado entra em vigor nesta sexta-feira
O tratado internacional de proibição de armas
nucleares, não assinado pelos países que têm armamento atómico, entra nesta
sexta-feira (22) em vigor, numa concretização saudada pela Organização das
Nações Unidas (ONU) e pelo papa Francisco.
"O tratado representa uma etapa
importante no caminho para um mundo sem armas nucleares e demonstra forte apoio
a iniciativas multilaterais de desarmamento nuclear", destacou, em
comunicado, o secretário-geral da ONU, António Guterres.
Trata-se do "primeiro tratado
multilateral de desarmamento nuclear concluído em mais de 20 anos",
acrescentou Guterres, que pediu "a todos os Estados para trabalharem no
sentido do progresso da segurança e proteção coletivas".
O documento proíbe a utilização, o
desenvolvimento, a produção, os testes, o estacionamento, o armazenamento e a
ameaça de uso dessas armas.
É o "primeiro instrumento juridicamente
vinculativo a proibir explicitamente essas armas, cuja utilização tem impacto
indiscriminado, atinge grande número de pessoas em pouco tempo e causa danos a
longo prazo ao ambiente", considerou nesta semana o papa Francisco.
"Encorajo vivamente todos os Estados e
todas as pessoas a trabalharem com determinação para promover as condições
necessárias a um mundo sem armas nucleares, contribuindo para o avanço da paz e
da cooperação multilateral, de que a humanidade tanto precisa hoje em
dia", acrescentou.
Também o presidente do Comitê Internacional
da Cruz Vermelha, Peter Maurer, disse, em comunicado, que esta é uma vitória para
a humanidade, destacando a necessidade de atingir o objetivo do tratado:
"um mundo sem armas nucleares".
Em 24 de outubro, o tratado, aprovado por uma
centena de nações, foi ratificado por 50 países, o que permitiu a entrada em
vigor 90 dias depois, ou seja, hoje.
Cenário atual e reações
Com os Estados Unidos e a Rússia, que detêm
90% desse tipo de armamento, o mundo conta com nove potências nucleares: China,
França, Reino Unido, Índia, Paquistão, Israel e Coreia do Norte.
A maioria desses países defende que os
arsenais servem de dissuasão e afirmam aplicar o tratado de não proliferação,
que visa a impedir a disseminação do armamento a outras nações.
O tratado de proibição das armas nucleares
foi estabelecido por iniciativa da Campanha Internacional para a Abolição das
Armas Nucleares (Ican), uma organização não governamental distinguida com o
prémio Nobel da Paz em 2017.
O Japão, único país bombardeado com armas
nucleares, não assinou o tratado e questionou a eficácia do documento por não
ter sido aprovado pelas potências atômicas.
Portugal também não assinou o tratado por
considerar que não responde à necessidade de desarmamento e não observa as
preocupações de segurança de muitos países, afirmou o ministro dos Negócios
Estrangeiros, Augusto Santos Silva, em entrevista ao jornal online Sete Margens.
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