Crédito: Paulo de Araújo/Ministério do Meio AmbienteÁrea da comunidade Kalungase estende por Cavalcante, Monte Alegre e Teresina de Goiás, na região da Chapada dos Veadeiros |
Comunidade
kalunga recebe reconhecimento inédito da ONU
Para
liderança, título ajudará na preservação de sítio histórico
Publicado em
06/02/2021 - 17:00 Por Pedro Peduzzi - Repórter da Agência Brasil - Brasília
Em meio aos
recorrentes problemas com invasores de terras, as comunidades Kalunga que vivem
há mais de 300 anos na Chapada dos Veadeiros (GO) tiveram, nesta semana, uma
importante conquista: seu sítio histórico foi oficialmente registrado como o
primeiro TICCA - Territórios e Áreas Conservadas por Comunidades Indígenas e
Locais - do Brasil.
Localizadas
nos municípios de Cavalcante, Teresina de Goiás e Monte Alegre, no nordeste
goiano, as 39 comunidades quilombolas que compõem o Sítio Histórico e
Patrimônio Cultural Kalunga conseguem com esse reconhecimento, dado pelo
Programa Ambiental das Nações Unidas, ampliar a autonomia que é necessária para
a gestão de seu território, que compreende 261 mil hectares.
O título
recebido da ONU é atribuído a “territórios comunitários e tradicionais
conservados, nos quais a comunidade tem profunda conexão com o lugar que
habita, processos internos de gestão e governança e resultados positivos na
conservação da natureza”.
“É com muito
orgulho que recebemos a notícia de que o Território Kalunga, um dos maiores do
Brasil, foi reconhecido pela ONU como TICCA, um território preservado. Isso
significa que ainda temos muitos frutos, muita natureza e muitas belezas
conservadas. Acredito que agora teremos mais parceiros para nos ajudar na luta
pela conquista de todo o nosso território”, disse à Agência Brasil o presidente
da Associação Quilombo Kalunga (AQK), Jorge Moreira de Oliveira.
Ritmo da
natureza
A agricultura
é uma atividade tradicional do povo kalunga. O plantio de baixo carbono é
praticado com base no conhecimento ancestral, de plantar “no ritmo da
natureza”, dispensando o uso de agrotóxicos e de máquinas.
As plantações
são feitas em pequenas roças, geralmente menores que 1 hectare. Predomina a
agricultura de subsistência, e as áreas cultivadas são usadas por até quatro
anos. Após esse período, eles deixam a terra “descansar” por dez anos. Em
geral, os kalunga comercializam apenas o excedente da produção.
Invasores
Rico em água e
biodiversidade, o território kalunga é muito visado por fazendeiros
interessados na extração ilegal de minérios e de madeira, e em usar as terras
para pecuária e para especulação imobiliária, na expectativa de, no futuro,
vendê-las a altos preços.
“Infelizmente,
as invasões são recorrentes aqui. Em julho, por exemplo, encontramos uma área
de cerca de mil hectares devastada com o uso de máquinas. Esperamos agora, com
esse reconhecimento da ONU, ter mais força para enfrentar desafios como esse”,
acrescenta o presidente da associação kalunga.
A expectativa
é de que, com a validação obtida, os kalunga tenham, além de melhores condições
de proteger seu território contra essas ameaças externas, a possibilidade de
agregar ainda mais valor ao turismo de base comunitária que desenvolve e aos
produtos da região.
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