Exército de
Myanmar detém chefe do governo e declara emergência
Militares
alegam que eleições legislativas foram fraudadas
Publicado em
01/02/2021 - 10:11 Por RTP - Rádio e e Televisão de Portugal – Lisboa
O Exército de
Myanmar (antiga Birmânia) declarou o estado de emergência e assumiu o controle
do país durante um ano, após deter a chefe do governo, Aung San Suu Kyi,
informou um canal de televisão controlado por militares.
Em uma
declaração divulgada na cadeia de televisão do Exército Myawaddy TV, os
militares acusaram a comissão eleitoral do país de não ter agido em relação às
"enormes irregularidades" que dizem ter ocorrido nas eleições
legislativas de novembro, quando o partido de Aung San Suu Kyi venceu por larga
maioria.
Os militares
evocaram ainda os poderes que lhes são atribuídos pela Constituição, redigida
pelo Exército, permitindo-lhes assumir o controle do país em caso de emergência
nacional.
O Exército de
Myanmar ocupou o poder de 1962 a 2011 e já prometeu organizar novas eleições
quando terminar o estado de emergência de um ano. “Estabeleceremos uma
verdadeira democracia multipartidária”, anunciaram em um comunicado publicado
na rede social Facebook, acrescentando que o poder será transferido após a
realização de “eleições gerais livres e justas”.
O
vice-presidente Myint Swe, nomeado para o cargo pelos militares, graças à
previsão na Constituição, assume agora a presidência, enquanto o chefe das
Forças Armadas, Min Aung Hlaing, será responsável por fiscalizar as
autoridades, indicou o canal Myawaddy News.
O anúncio foi
feito horas depois da detenção da chefe do governo, Aung San Suu Kyi, pelas
forças armadas birmanesas, segundo indicou Myo Nyunt, porta-voz do partido da
presidente, a Liga Nacional para a Democracia (LND).
"Fomos
informados que ela está detida em Naypyidaw (a capital do país), supomos que o
Exército está em vias de organizar um golpe de Estado", indicou Nyunt.
A mesma fonte
admitiu que outros responsáveis pelo partido também foram detidos.
Espaço
aéreo
A agência
governamental birmanesa, responsável pelas viagens aéreas, suspendeu todos os
voos de passageiros no país.
A embaixada
dos Estados Unidos em Myanmar indicou na sua página de Facebook que a estrada
para o aeroporto internacional de Rangum, a maior cidade do país, foi fechada,
e no Twitter acrescentou que “todos os aeroportos estão fechados”.
A mesma embaixada emitiu também um “alerta de segurança”, dizendo estar ciente da detenção da líder da antiga Birmânia, Aung San Suu Kyi, bem como do fim de alguns serviços de internet, incluindo em Rangum.
“Há potencial
para agitação civil e política na Birmânia e continuaremos a monitorar a
situação”, escreveu a embaixada, usando a designação anterior de Myanmar.
Telefone e
saques
As linhas
telefônicas no país foram cortadas, apesar de a internet funcionar com algumas
falhas. A televisão estatal está suspensa e, segundo o jornal The Irrawaddy,
apenas o canal televisivo militar Myawaddy News está operante.
Os bancos
fecharam pouco depois da proclamação dos militares, segundo um comunicado da
Associação de Bancos do país, citado pela agência France Press (AFP), que
acrescenta que se formaram longas filas junto aos caixas automáticos, com
muitas pessoas a tentarem retirar dinheiro. Também os serviços públicos estão
encerrados temporariamente
Há várias
semanas os militares denunciam irregularidades nas eleições legislativas de 8
de novembro, quando a LND venceu por ampla vantagem.
As detenções
ocorrem em um momento em que o parlamento eleito se preparava para iniciar o
ano legislativo.
Repercussão
Os Estados
Unidos exigiram já a libertação dos vários líderes detidos e ameaçaram reagir
em caso de recusa.
"Os
Estados Unidos opõem-se a qualquer tentativa de alterar os resultados das
recentes eleições ou de impedir a transição democrática da Birmânia e agirão
contra os responsáveis se estas medidas [detenções] não forem
abandonadas", disse a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, em comunicado.
Os militares
garantem ter recenseado milhões de casos de fraude, incluindo milhares de
eleitores centenários ou menores.
No entanto, o
Exército birmanês tinha afastado, no sábado (30), os rumores de um golpe
militar que circulavam nos últimos dias, em um comunicado em que afirmou a
necessidade de "obedecer à Constituição", e garantiu defendê-la.
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