Brasil deixou
de exportar US$ 56,2 bi em 10 anos para América do Sul
Segundo CNI,
perda de mercado impacta diretamente a indústria
Publicado em
28/03/2021 - 13:40 Por Wellton Máximo – Repórter da Agência Brasil - Brasília
A perda de
espaço no comércio regional na última década fez o Brasil deixar de exportar
US$ 56,2 bilhões para a América do Sul nos últimos dez anos. A conclusão consta
em levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Segundo o
estudo, a participação do Brasil nas importações dos demais países
sul-americanos (exportações brasileiras para os países vizinhos) caiu de 14,5%
em 2010 para 10,7% em 2019. Da mesma forma, os países do subcontinente deixaram
de vender para cá – o Brasil absorveu apenas 7,4% das exportações
sul-americanas em 2019, contra 10,5% em 2010.
De acordo com
a CNI, o encolhimento do comércio bilateral prejudica principalmente a
indústria. Isso porque a América do Sul é o principal destino das vendas de
manufaturados brasileiros, concentrando 38% das exportações industriais. Sob
outra perspectiva, ao considerar apenas as exportações brasileiras para países
sul-americanos, os manufaturados correspondem a 82%.
A queda no
comércio com a Argentina, afetada por sucessivas crises econômicas e cambiais
nos últimos anos, foi a principal responsável pela retração nas exportações
brasileiras para a América do Sul. Da perda total de US$ 56,2 bilhões, US$ 39,2
bilhões (69,8%) concentram-se no país vizinho. O Brasil também deixou de
exportar US$ 5,9 bilhões (10,5%) para o Peru, US$ 5,3 bilhões (9,4%) para a
Colômbia e US$ 2,4 bilhões para o Chile (4,3%).
O comércio do
Brasil com a América do Sul encolheu ao mesmo tempo em que os demais países do
subcontinente preencheram espaço com outros parceiros comerciais. De 2010 a
2019, as importações das economias sul-americanas subiram 12,9%, sobretudo da
China, dos Estados Unidos e da União Europeia.
Estimativa
Para chegar ao
cálculo dos US$ 56,2 bilhões de perda comercial, a CNI estimou o valor que o
Brasil teria exportado caso mantivesse a fatia de 14,5% nas importações dos
países sul-americanos registrada em 2010. Em contrapartida, a participação da
China nas importações sul-americanas subiu de 15% para 20,8%. Sob o mesmo
critério, o percentual dos Estados Unidos passou de 17,5% para 19,5% e o da
União Europeia cresceu mais timidamente, de 12,3% para 13,6%.
Esse espaço
foi ocupado, sobretudo, pela China. A participação do país asiático nas
importações dos países da América do Sul passou de 15% para 20,8% no período
analisado. Os Estados Unidos também ampliaram sua participação na pauta de
importação dos países sul-americanos. Esse percentual passou de 17,5% para
19,5% no período analisado. A União Europeia cresceu mais timidamente, de 12,3%
para 13,6%.
Na divisão por
setores, os segmentos de máquinas e aparelhos e de materiais elétricos ou
mecânicos responderam por 37% do valor que o Brasil deixou de exportar para a
América do Sul, com redução de US$ 12,5 bilhões e de US$ 8,1 bilhões na década,
respectivamente. Outros setores industriais registraram perdas substanciais,
como automóveis (-US$ 4,8 bilhões), aeronaves (-US$ 3,2 bilhões) e produtos
químicos orgânicos (-US$ 2,5 bilhões).
Competitividade
e parcerias
Na avaliação
da CNI, dois fatores explicam a queda nas exportações para a América do Sul: a
perda de competitividade da economia brasileira e a paralisação da agenda de
acordos comerciais do Brasil com países vizinhos. Em relação aos tratados
comerciais, a paralisia decorre tanto da falta de ratificação de alguns acordos
pelo Congresso como da falta de atualização e de ampliação daqueles vigentes.
Entre os
tratados pendentes no Congresso Nacional estão o Acordo de Livre Comércio com o
Chile, concluído em 2018, já promulgado pelo parceiro, e os acordos sobre
compras públicas e facilitação de comércio entre os países do Mercosul. Em
contrapartida, países sul-americanos concluíram acordos com os Estados Unidos,
União Europeia, Coreia do Sul e, no caso do Chile e do Peru, também com a
China.
A CNI pede a
continuidade da agenda de reformas econômicas no Brasil e a ampliação de
preferências tarifárias e da abrangência temática dos acordos comerciais do
país com os vizinhos sul-americanos. A entidade também cobra medidas de apoio
oficial às exportações, como a restituição de créditos de tributos sobre
mercadorias exportadas, a modernização de acordos tributários e a reforma da
lei de preços de transferência (preços cobrados entre importações e exportações
de empresas do mesmo grupo).
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