Em meio à pandemia, atividade econômica cresce no Norte e
Centro-Oeste
Sul, Sudeste e Nordeste registraram contração da
atividade, diz BC
Publicado em 04/03/2021 - 13:05 Por Andreia Verdélio –
Repórter da Agência Brasil - Brasília
Mesmo em meio à pandemia de covid-19, que provocou a
redução da atividade econômica em todo o país, as regiões Norte e Centro-Oeste
registraram desempenho positivo, em especial por causa da produção de grãos e
desempenho do comércio. As demais regiões – Sul, Sudeste e Nordeste – tiverem
contração da atividade. A análise desse cenário foi divulgada hoje (4) pelo
Banco Central por meio do boletim regional.
De acordo com a publicação, ainda que o processo
econômico - de queda intensa na atividade no segundo trimestre de 2020, com
recuperação a partir do segundo trimestre do ano passado – tenha caracterizado
todas as regiões, os resultados são heterogêneos sobre os setores e as regiões
do país.
“Os programas governamentais de recomposição de renda
favoreceram o setor de bens, enquanto as atividades de serviços, sobretudo as
mais diretamente afetadas pelo distanciamento social, enfrentaram maior redução
da demanda, com desempenho relativamente mais positivo apenas no último
trimestre do ano. Essa desigualdade setorial, aliada às especificidades das
estruturas produtivas e do alcance das medidas governamentais, determinou os
distintos resultados regionais”, diz o BC no estudo.
O Índice de Atividade Econômica Regional da Região Norte
apresentou crescimento de 0,4% em 2020. De acordo com o BC, a economia do Norte
foi especialmente estimulada pelo desempenho do comércio – cujos resultados
foram superiores aos das demais regiões –, decorrente em parte do aumento da
renda das famílias, favorecido pela concessão do auxílio emergencial, que
atingiu 57% dos domicílios da região em novembro.
Além disso, a agricultura, com alta de 5,2% na produção
de grãos, e a construção civil, que totalizou geração de 9,3 mil vagas de
emprego formal, impulsionaram o resultado. A indústria apresentou comportamento
diverso entre os ramos: a extrativa teve modesta expansão, enquanto a de
transformação foi bastante afetada pela crise sanitária.
Já o Centro-Oeste teve alta de 0,2% na atividade
econômica devido a sua estrutura produtiva, de atividades agrícolas que não
sofreram restrição ao funcionamento, combinada à safra recorde de grãos e às
cotações das commodities, em especial de soja e carnes, que impulsionaram as
vendas externas. A produção agrícola registrou elevação nas colheitas dos três
principais grãos (soja, milho e algodão) e houve crescimento na fabricação de
alimentos. Além disso, o crescimento na região também foi favorecido pelas
altas no varejo e nos serviços de transporte.
Queda da atividade
No Sudeste, a retração na atividade econômica em 2020 foi
de 1,3%. De acordo com o BC, a estrutura produtiva diversificada da região
permitiu que as atividades mais impactadas pela crise tivessem seus resultados
compensados, em parte, pela evolução favorável de outras. No setor de serviços,
o segmento de atendimento às famílias permaneceu deprimido, enquanto que os
serviços financeiros, fortemente concentrados na região, tiveram alta
significativa, refletindo a maior demanda das empresas por recursos e o acesso
às linhas especialmente criadas para combate aos efeitos econômicos da
pandemia.
No segmento industrial do Sudeste, a menor produção de
veículos contrapôs-se à ampliação em alimentos, produtos químicos,
farmoquímicos e de limpeza e higiene pessoal. A construção civil, embora tenha
recuado no ano, apresentou crescimento no quarto trimestre, em relação ao anterior,
nos dados ajustados. Já a redução do estoque de imóveis e a geração líquida de
45,6 mil empregos formais em 2020 sugere para o BC a continuidade do processo
de recuperação da atividade na Região Sudeste.
Apesar do desempenho agrícola, o menor ritmo da atividade
no Nordeste, que teve queda de 2,1%, decorreu sobretudo das restrições aos
serviços de maior interação entre as pessoas, que têm maior peso na região. De
acordo com o estudo, isso impactou o mercado de trabalho, com efeitos sobre o
comércio, cujo volume acumulou queda. Como fator de mitigação, o Nordeste foi
beneficiado pela concessão do auxílio emergencial, que atingiu 55,3% dos
domicílios da região em novembro.
No Sul, a contração econômica também atingiu 2,1%. A
produção de grãos da região recuou em 2020, pelas quebras das safras de verão
no Rio Grande do Sul (soja e milho), não contribuindo para atenuar os efeitos
da pandemia, a exemplo do ocorrido nas demais regiões.
No indicador geral, indústria e comércio recuaram no Sul,
porém com resultados díspares entre os segmentos. A produção industrial
registrou recuo em veículos, vestuário e calçados, e destacou, positivamente, a
indústria de alimentos, máquinas, aparelhos e materiais elétricos, produtos de
metal, refino de petróleo e celulose. No comércio, o padrão observado foi
similar ao das demais regiões, com destaque para a alta nas vendas de produtos
alimentícios. A construção civil, condicionada pelos resultados de Santa
Catarina e Paraná, com redução do estoque de imóveis residenciais, apresentou
crescimento no ano.
Emprego
O Banco Central analisou também a variedade de
comportamento do emprego formal nas microrregiões brasileiras, que teve
influência de fatores relacionados à pandemia, estrutura produtiva local e
políticas públicas.
No que diz respeito à covid-19, a crise sanitária teve
intensidade e duração própria em cada região, com impactos na restrição de
circulação de pessoas e/ou na adoção de medidas de suspensão de atividades
econômicas. De acordo com o BC, nesse ambiente, as políticas públicas adotadas
– sobretudo os programas de transferência de renda e os de acesso a crédito,
com ênfase no auxílio emergencial e no crédito às micro, pequenas e médias
empresas – contribuíram para conter a retração da atividade econômica.
Algumas atividades econômicas também foram mais
penalizadas pelo distanciamento social, como comércio, alojamento e
alimentação, atividades imobiliárias, educação e esportes e recreação. O BC
observa, para o país, menor retração do grupo de atividades regulares no início
da pandemia, seguida por recuperação mais rápida. Nesse grupo estão atividades
como agropecuária, indústria extrativa e de transformação, construção civil,
atividades financeiras e administração pública. “Dessa forma, obtém-se que
microrregiões mais atingidas pela epidemia tiveram maior contração do emprego”,
diz o BC.
No que se refere às políticas públicas, o auxílio emergencial e os programas de crédito às empresas estão positivamente associados à criação de emprego, segundo o estudo. A contribuição do auxílio é maior nos estados do Norte e Nordeste do que nos estados das demais regiões. Já a estrutura produtiva local, menos baseada em atividades que exigem maior contato social, e os programas de crédito tiveram maior participação na decomposição do crescimento do emprego nos estados do Sul. Além disso, observa-se que o crescimento do emprego foi maior para os estados da Região Norte.
O BC alerta, entretanto, que esses resultados devem ser
interpretados com cautela, pois podem existir outras variáveis que explicam a
diferença do emprego formal entre microrregiões.
O índice de emprego formal, calculado dessazonalizado
pelo Banco Central a partir de dados do Ministério da Economia, retornou, em
dezembro de 2020, ao nível observado no período pré pandemia (média de janeiro
e fevereiro de 2020). De acordo com o BC, regionalmente, a maior expansão
ocorreu no Norte, 2,7%, onde o crescimento foi disseminado em todas as unidades
da federação. Em sentido contrário, no Sudeste, a queda alcançou 0,8%, sendo
que no Rio de Janeiro a queda chegou a 3,9%.
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