Inflação
atinge todas as faixas de renda em fevereiro, diz Ipea
As famílias de
renda mais alta foram as mais atingidas no mês
Publicado em
16/03/2021 - 12:35 Por Cristina Indio do Brasil - Repórter da Agência Brasil -
Rio de Janeiro
Todas as
faixas de renda registraram alta da taxa de inflação em fevereiro. De acordo
com o Indicador Ipea de Inflação por Faixa de Renda, divulgado hoje (16) pelo
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), as famílias de renda mais alta
foram as mais atingidas no mês. A faixa de renda média saiu de 0,26% em janeiro
para 0,98% em fevereiro. A inflação das famílias de renda média-alta subiu de
0,27% para 0,97% e nas de renda alta, cresceu de 0,29% para 0,98%.
Conforme o
estudo, o grupo de transportes, impactado pela alta de 7,1% dos preços dos
combustíveis, foi o segmento que mais contribuiu para a pressão inflacionária
em todas as faixas de renda no mês de fevereiro.
Nas famílias
mais pobres, os reajustes de 0,33% do ônibus urbano e de 0,56% do trem pesaram
para a alta da inflação, além do preço dos combustíveis. Ainda entre os mais
pobres, o grupo habitação contribuiu para a alta da inflação, ancorado pelos
aumentos de 0,66% dos aluguéis, de 1,0% da taxa de água e esgoto e de 3,0% do
botijão de gás.
A autora do
estudo e pesquisadora do Grupo de Conjuntura do Ipea, Maria Andréia Lameiras,
disse que o mês de fevereiro ficou dentro do que já era esperado de aceleração
na margem causada pelos combustíveis. “A gente viu que ao longo dos primeiros
meses do ano vem tendo aumentos recorrentes nos combustíveis, muito por conta
da desvalorização do real. Essa aceleração de janeiro para fevereiro veio
realmente em linha do que a gente estava imaginando”, disse em entrevista à
Agência Brasil.
Já as famílias
de renda mais alta tiveram uma pressão maior do grupo educação, especialmente
por causa do reajuste de 3,1% das mensalidades escolares. O estudo apontou
ainda que o aumento das taxas para estas famílias foi atenuado pela
desaceleração dos alimentos ocorrida em fevereiro. A queda de 3% do preço das
passagens aéreas também representou um alívio inflacionário para as famílias
mais ricas.
Conforme a
pesquisadora, a aceleração maior para os mais ricos, também seguiu as
expectativas não só porque fevereiro é o mês de reajuste das mensalidades
escolares, mas porque o combustível pesa mais para essas famílias que têm carro
próprio. “A mensalidade escolar também é algo que vai afetar a inflação dos
mais ricos, porque são os que têm filhos em colégios particulares. Então, ela
veio dentro das expectativas”, completou.
Segundo Maria
Andréia, a desaceleração dos preços dos alimentos também era prevista, o que
acabou por ajudar a reduzir a alta inflacionária em fevereiro. A pesquisadora
afirmou que no ano passado a concessão do auxílio emergencial, apesar de necessário,
acabou por ser um dos fatores da alta dos alimentos com o aumento do consumo.
Nos dois primeiros meses de 2021, a falta do auxílio combinada à alta menor dos
preços de commodities, como carnes, no mercado internacional, mesmo que ainda
estejam elevados, representam pressão menor na inflação.
“A alta dos
preços de alimentos no mercado internacional está mais contida e mesmo no
doméstico não tendo o auxílio emergencial tem um fator a menos de pressão sobre
esse preço. Vale ressaltar ainda que essa desaceleração dos alimentos poderia
ser um pouco menor se não tivesse a pressão do câmbio, que mais alto em janeiro
e especialmente fevereiro freou a desaceleração do preço dos alimentos”,
observou.
A pesquisadora
disse que o cenário para 2021 é que mesmo com a volta do auxílio emergencial a
tendência é de desaceleração dos preços dos alimentos, com preços
internacionais mais bem comportados e no mercado doméstico previsão de aumento
de safra. “Não tem cenário de queda de alimentos em 2021, mas a gente vai ter
uma alta muito menor do que a gente viu em 2020. O que pode frear ou não essa
desaceleração é o câmbio. Se tiver um câmbio melhor, essa desaceleração tende a
ser maior”, explicou.
Para os mais
ricos, segundo a pesquisadora, o que pode pressionar é a inflação por conta dos
serviços que devem acelerar com a vacinação e em consequência com o aumento da
oferta. “A ideia é que a partir do meio do ano, quando a gente já tiver uma
situação mais bem controlada, a reabertura dos serviços acabe a impactar um pouco
mais o orçamento das famílias mais ricas, porque são as pessoas que usam os
serviços”, afirmou, acrescentando que o reajuste dos planos de saúde que foram
suspensos no ano passado também será um fator de impacto para essas famílias.
Comparação
Também em
relação ao mesmo período do ano passado, todas as faixas de renda sofreram
crescimento da inflação. Nessa comparação, as três faixas de renda mais baixas
foram as que registraram as maiores altas inflacionárias, com taxas de variação
avançando de 0,15%, 0,12% e 0,16%, em fevereiro de 2020, para 0,67%, 0,80% e
0,89%, em 2021, respectivamente. De acordo com o estudo, a alta menos
expressiva dos alimentos e as quedas dos preços da energia e dos combustíveis
explicam o aumento mais ameno em 2020 do que esse ano.
Já para os
três segmentos de renda mais altas as taxas variaram de 0,25%, 0,35% e 0,42%,
em fevereiro de 2020, para 0,98%, 0,97% e 0,98%, em 2021, respectivamente. A
pressão inflacionária foi atenuada pelo comportamento menos intenso dos
combustíveis em fevereiro de 2020.
A aceleração
da inflação também atingiu todas as faixas de renda no acumulado de 12 meses,
embora para as famílias mais pobres tenham se mantido taxas mais altas do que
para as mais ricas. A inflação para as famílias que recebem menos de R$
1.650,50 ficou em 6,75%, enquanto para as famílias com renda maior que
R$16.509,66 alcançou 3,43%.
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