Japão: dez
anos depois, sobreviventes de tsunami falam da tragédia
Terremoto,
seguido de tsunami, atingiu costa Nordeste do país em 2011
Publicado em
10/03/2021 - 09:43 Por Carla Quirino - Repórter da RTP – Lisboa
Há uma geração
de jovens japoneses marcada pelo desastre triplo de 2011 que atingiu a costa
Nordeste do país. A cadeia de acontecimentos começou com o terremoto de
magnitude 9.0 na escala Richter, seguido de um devastador tsunami e do acidente
nuclear de Fukushima. Houve pelo menos 22 mil vítimas, entre mortes confirmadas
e desaparecimentos. Dez anos depois, quatro jovens sobreviventes recordam os
familiares que perderam. A catástrofe roubou-lhes o mundo que conheciam. Hoje,
adultos, estão determinados a ajudar crianças que sofreram perdas traumáticas.
"Perdi
minha família, a minha comunidade. Senti o tsunami arrancar metade do meu
corpo", disse Yuto Naganuma, citado no Bangkok Post. Tinha 16 anos quando
perdeu o irmão a avó e bisavó.
Na Escola
Primária de Okawa, em Ishinomaki, com o irmão estavam mais 74 crianças e dez
funcionários que não tiveram tempo de fugir para terreno mais elevado.
Naganuma viveu
os anos seguintes a perguntar-se por que razão teria sido poupado. Concentrou
forças para matricular-se no ensino universitário. Escolheu a área de estudo de
gestão de desastres.
Atualmente,
percorre escolas a dar palestras sobre preparação para desastres e gestão de
crise.
"Todos
nós vivemos num período entre desastres, seja no Japão ou em outro lugar",
disse Yuto. E acrescenta: "A maneira como passamos esse tempo muda
significativamente a probabilidade de sobrevivência quando enfrentarmos o
próximo desastre." Nayuta Ganbe estava com a mãe e a irmã quando foi dado
o alerta de tsunami, após o terremoto, para a região de Miyagi. Abrigaram-se na
escola que tinha três pisos.
Ganbe ainda
foi buscar os sapatos à entrada quando viu cinco homens serem engolidos por uma
torrente de água e lama, cheia de entulho e carros. Diz ter ficado paralisado,
mas ao sentir a água a chegar-lhe aos pés conseguiu fugir para o ultimo andar.
Sacos plásticos com solo e escombros radioativos, recolhidos ao redor da
Central Nuclear de Fukushima, permanecem nos campos.
Estabeleceram-se
em Chiba, nos arredores de Tóquio, e na nova escola Shimizu percebeu que não se
falava do acidente nuclear.
Agora com 27
anos, Shimizu regressou à terra onde viveu sua infância e trabalha numa
organização que ajuda a preservar a memória do tsunami, o Centro para Crianças
da Cidade de Ishinomaki.
"Depois
de me tornar vítima de um desastre, aprendi que era muito difícil ultrapassar o
trauma sem acompanhamento", diz Hazuki.
As crianças que perderam a família na tragédia de 2011 continuam a sofrer. É importante a partilha de experiências e, sobretudo, "ouvi-las e apoiá-las".
Yokoyama
Wakana tinha 12 anos, vivia em Ukedo e, quando a onda atingiu as casas, muitos
residentes não conseguiram fugir. Perdeu os avós no tsunami.
As professoras
de Yokoyama conseguiram antecipar o que vinha e conduziram as crianças para uma
colina que ficava a um quilômetro da escola, em tempo útil. A localidade de
Ukedo fica muito perto da Central Nuclear de Fukushima. Com os reatores
danificados, as cinzas provenientes das reações nucleares cobriram os solos das
redondezas, contaminando-os.
A população
foi retirada, ficando muitos corpos abandonados na inabitável Ukedo.
Dez anos
depois, "a aldeia é um deserto, todos os vestígios das casas
desapareceram", diz Yokoyana citada na revista The Economist.
A escola
primária é o único edifício que se mantém, embora marcada pelo terremoto. Um
dos relógios da escola cristalizou a hora do fatídico tsunami: 15h40 do dia 11
de março de 2011.
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