Quase 70% dos moradores de favelas não têm dinheiro para
comida
Dados são do Instituto Data Favela
Publicado em 13/03/2021 - 10:46 Por Bruno Bocchini -
Repórter da Agência Brasil - São Paulo
Pesquisa realizada para medir os impactos da pandemia de
covid-19 entre as pessoas que moram em favelas mostra que 68% delas não tiveram
dinheiro para comprar comida em ao menos um dia nas duas semanas anteriores ao
levantamento. Os dados são do Instituto Data Favela, em parceria com a
Locomotiva – Pesquisa e Estratégia e a Central Única das Favelas (Cufa).
A pesquisa foi feita com 2.087 pessoas maiores de 16
anos, em 76 favelas em todas as unidades da federação, no período de 9 a 11 de
fevereiro de 2021. A margem de erro é de 2,1 pontos percentuais.
Além da falta de dinheiro para comprar comida, o
levantamento mostra que o número de refeições diárias dos moradores das
comunidades vem caindo: de uma média de 2,4, em agosto de 2020, para 1,9, em
fevereiro.
“Os dados são hoje os mais preocupantes desde o início da
pandemia. Nós monitoramos, durante o último ano, praticamente todos os meses a
situação das favelas e, em nenhuma das pesquisas, o dado foi tão preocupante como
esse, seja no número de pessoas sem poupança, seja no número de pessoas com
falta de dinheiro para comprar comida, seja na redução do número de refeições”,
destacou o presidente do Instituto Locomotiva e Fundador do Data Favela, Renato
Meirelles.
De acordo com o levantamento, 71% das famílias estão
sobrevivendo, atualmente, com menos da metade da renda, que obtinham antes da
pandemia. A pesquisa mostra ainda que 93% dos moradores não têm nenhum dinheiro
guardado.
“O principal impacto é na geração de renda. Como tem um
grupo grande de trabalhadores informais, e você teve uma dificuldade no período
inicial de chegar o auxílio emergencial lá dentro, o impacto na renda foi
gigantesco, e isso trouxe a fome. Mas a fome é consequência da ausência de
renda”, ressaltou Meirelles.
Auxílio Emergencial
Além da fome e da queda na renda, as pessoas das
comunidades têm enfrentado ainda um risco sanitário maior por ter que se expor
ao vírus para conseguir sustento: 32% estão procurando seguir as medidas de
prevenção contra a covid-19; 33% estão procurando seguir, mas nem sempre
conseguem; 30% não conseguem seguir; 5% não estão tentando seguir.
“Com o agravamento da crise sanitária e com os recordes
de contaminação, nunca foi tão importante o reestabelecimento imediato do
auxílio emergencial. São brasileiros que foram obrigados, desde o início da
pandemia, a ter que escolher entre o prato de comida ou a proteção da saúde da
sua família”, disse.
“Não é à toa que a maior parte das pesquisas sobre a infecção mostra que o número de contágio na favela é, em geral, o dobro quando comparada às regiões mais nobres”, acrescentou.
Doações
O levantamento mostra ainda a importância das doações na
vida dos moradores das favelas: nove em cada dez pessoas receberam alguma
doação durante a pandemia. E oito em cada dez famílias não teriam condições de
se alimentar, comprar produtos de higiene e limpeza ou pagar as contas básicas
caso não tivessem recebido doações.
“É muito comum nas pesquisas ouvir a frase: na favela se
o seu vizinho tem comida, ninguém passa fome. No sentido de que eles dividem o
pouco que têm, mostrando uma solidariedade impressionante nesse cenário”, disse
Meirelles.
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