Cumprir
metas climáticas pode evitar calor insuportável
Publicado em
09/03/2021 - 09:14 Por Agência Brasil* - Washington
Os trópicos
podem tornar-se inabitáveis para o ser humano se não conseguirmos limitar o
aquecimento global a 1,5 grau centígrado, alertam os cientistas. Cumprir as
metas climáticas mundiais pode evitar que as populações das regiões tropicais
enfrentem episódios de "calor insuportável".
"O calor
extremo, em consequência do aquecimento global, é uma questão preocupante para
a crescente população tropical", diz novo estudo publicado nessa
segunda-feira (8), na revista científica Nature Geoscience.
As regiões
tropicais do planeta podem atingir ou mesmo exceder os limites suportados pela
vida humana, devido às alterações climáticas. O aumento do calor e da umidade
ameaçam, assim, submeter grande parte da população mundial a condições
potencialmente letais.
Se não
conseguirmos limitar o aquecimento global a 1,5 grau centígrado, as faixas
tropicais que se estendem em ambos os lados do Equador correm o risco de se
transformar num novo ambiente que atingirá "os limite da habitabilidade
humana", adverte a pesquisa.
Desenvolvido
pela Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, o estudo lembra que a
capacidade de o ser humano "arrefecer" o seu corpo depende de certas
condições de temperatura e umidade do ar.
Como explicam
os cientistas, há um limite de sobrevivência além do qual uma pessoa já não
consegue regular a sua temperatura corporal com eficácia. Esse limite é
excedido quando o denominado termômetro de bulbo úmido (WBGT, a temperatura
mais baixa que pode ser alcançada apenas pela evaporação da água). indica que a
temperatura e a umidade do ar ultrapassam os 35 graus centígrados.
Isto é, temos uma temperatura corporal que permanece relativamente estável em 37 graus, enquanto a nossa pele é mais fria para permitir que o calor flua.
Mas se a
temperatura do bulbo úmido exceder os 35 graus, o corpo torna-se incapaz de se
resfriar. "Se estiver demasiadamente úmido, o nosso corpo não consegue
arrefecer evaporando o suor – é por isso que a umidade é importante quando
consideramos a habitabilidade em um local quente", disse ao Guardian Yi Zhang,
investigador da Universidade de Princeton que conduziu o novo estudo.
"As altas
temperaturas são perigosas ou mesmo letais", acrescentou.
Nesse sentido,
os especialistas concluíram que o aumento da temperatura tem de ser limitado a
1,5 grau para evitar que as regiões dos trópicos ultrapassem os 35 graus na
temperatura do bulbo úmido.
Considerando o
atual contexto de aquecimento global, os autores alertam que essas regiões
podem experimentar "eventos de calor extremo" nos próximos anos, que
podem exceder o "limite de segurança".
Cumprir
metas climáticas é solução
As condições
perigosas e "intoleráveis" nos trópicos podem ocorrer ainda antes do
limiar de 1,5 grau.
De fato, o
mundo já aqueceu, em média, cerca de 1,1 grau centígrado nos últimos anos, e
embora os governos tenham prometido, no acordo climático de Paris, manter as
temperaturas a 1,5 grau, os cientistas têm alertado que esse limite pode ser
ultrapassado dentro de uma década.
Isso tem
implicações potencialmente negativas para milhões de pessoas - cerca de 40% da
população mundial vivem, atualmente, em países tropicais, sendo que essa
proporção deverá aumentar para metade da população mundial até 2050.
"Pode-se
pensar neste termômetro do bulbo úmido como uma imitação do processo de
arrefecimento da pele humana por meio da evaporação do suor - é por isso que é
relevante para o stress térmico dos nossos corpos", explicou Zhang.
"Quanto
mais seco for o ambiente, mais eficaz é a evaporação e menor a temperatura do bulbo
úmido", acrescentou.
A investigação
de Princeton centrou-se em regiões tropicais, em latitudes entre 20 graus a
norte do Equador, uma linha que corta o México, a Líbia e Índia, até 20 graus
ao sul, que passa pelo Brasil, Madagascar e o norte da Austrália.
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