Contas externas têm saldo negativo de US$ 3,97 bilhões em
março
Dados foram divulgados hoje pelo Banco Central
Publicado em 26/04/2021 - 14:00 Por Andreia Verdélio -
Repórter da Agência Brasil - Brasília
As contas externas registraram saldo negativo de US$ 3,97
bilhões em março deste ano, de acordo com dados divulgados hoje (26) pelo Banco
Central (BC). Em março de 2020, o déficit havia sido de US$ 4,257 bilhões nas
transações correntes, que são as compras e vendas de mercadorias e serviços e
transferências de renda do Brasil com outros países.
O chefe do Departamento de Estatísticas do BC, Fernando
Rocha, destacou que, a partir deste mês, a comparação se dará sobre períodos
impactados pela pandemia, que passou a influenciar os números em março do ano
passado.
Entretanto, segundo ele, a causa dos resultados similares
nas transações correntes entre os meses de março de 2020 e março de 2021 se
deve, principalmente, em razão das importações no âmbito do Repetro - regime
aduaneiro especial de exportação e de importação de bens que se destina às
atividades de pesquisa e de lavra das jazidas de petróleo e gás natural - que
foram de US$ 6,5 bilhões em março de 2021 ante US$ 1,6 bilhão em março de 2020.
De acordo com Rocha, isso diminuiu o resultado da balança
comercial no mês passado. Com a menor contribuição do saldo da balança
comercial, o déficit em transações correntes foi um pouco maior em março de
2021 do que seria sem o Repetro, se aproximando do resultado de março de 2020.
O Repetro suspende a cobrança de tributos federais na
importação de equipamentos para o setor de petróleo e gás, principalmente as
plataformas de exploração. Na comparação interanual, o saldo da balança
comercial recuou US$ 2,5 bilhões, enquanto as despesas líquidas de renda
primária e de serviços apresentaram retrações de US$ 1,8 bilhão e US$ 607
milhões, respectivamente.
Em 12 meses, encerrados em março, foi registrado déficit em
transações correntes de US$ 17,834 (1,24% do Produto Interno Bruto - PIB), ante
saldo negativo de US$ 18,121 bilhões (1,26% do PIB) em fevereiro de 2021 e
déficit de US$ 71,041 bilhões (3,97% do PIB) no período equivalente terminado
em março de 2020.
Balança comercial e serviços
As exportações de bens totalizaram US$ 24,613 bilhões em
março, aumento de 33,7% em relação a igual mês de 2020. As importações somaram
US$ 25,05 bilhões, incremento de 53,6% na comparação com março do ano passado.
Com esses resultados, a balança comercial registrou déficit de US$ 437 milhões
no mês passado, ante saldo positivo de US$ 2,09 bilhões em março de 2020.
O déficit na conta de serviços (viagens internacionais, transporte, aluguel de equipamentos, entre outros) manteve a trajetória de retração e atingiu US$ 1,057 bilhão em março, ante US$ 1,664 bilhão em igual mês de 2020.
No caso das viagens internacionais, as receitas de
estrangeiros em viagem ao Brasil chegaram a US$ 213 milhões, enquanto as
despesas de brasileiros no exterior ficaram em US$ 313 milhões. Com isso, a
conta de viagens fechou o mês com déficit de US$ 100 milhões, ante US$ 227
milhões em março de 2020, recuo de 56,1%.
Entretanto, segundo Rocha, em março do ano passado, a conta
de viagens já sofria o impacto da pandemia, pois em janeiro de 2020, esse
déficit tinha sido de R$ 774 milhões, por exemplo. Isso significa que a conta
de viagens deve continuar reduzida enquanto durarem as restrições de
deslocamento e as pessoas não se sentirem dispostas a viajar.
Destaca-se também, na mesma base de comparação, a redução
de 52,9% nas despesas líquidas de aluguel de equipamentos, de US$ 1,2 bilhão em
março de 2020 para US$ 567 milhões em março de 2021. De acordo com Rocha, isso
se deve pela nacionalização (importação) de equipamentos no âmbito do Repetro,
ou seja, de bens que passam a ser propriedade de residentes no Brasil, sem a
necessidade de pagamento de aluguel a não-residentes.
O chefe do BC explicou que o efeito ainda vai permanecer na
base e ajuda a reduzir o déficit se serviços por um período maior.
Rendas
Em março de 2021, o déficit em renda primária (lucros e
dividendos, pagamentos de juros e salários) chegou a US$ 2,993 bilhões, contra
US$ 4,86 bilhões no mesmo mês de 2020.
A conta de renda secundária (gerada em uma economia e distribuída
para outra, como doações e remessas de dólares, sem contrapartida de serviços
ou bens) teve resultado positivo de US$ 518 milhões, contra US$ 177 milhões em
março de 2020.
Investimentos
Os ingressos líquidos em investimentos diretos no país
(IDP) somaram US$ 6,864 bilhões no mês, ante US$ 7,386 bilhões em março de
2020. Nos 12 meses encerrados em março de 2021, o IDP totalizou US$ 39,256
bilhões, correspondendo a 2,73% do PIB, em comparação a US$ 39,778 bilhões
(2,76% do PIB) no mês anterior e US$ 68,748 bilhões (3,84% do PIB) em março de
2020.
De acordo com Rocha, o IDP em 12 meses se reduziu em função
dos choques da pandemia e das incertezas dos empresários ao longo do ano.
Quando o país registra saldo negativo em transações
correntes, precisa cobrir o déficit com investimentos ou empréstimos no
exterior. A melhor forma de financiamento do saldo negativo é o IDP, porque os
recursos são aplicados no setor produtivo e costumam ser investimentos de longo
prazo. Apesar de os investimentos estarem menores neste ano, no acumulado de 12
meses o IDP supera o déficit nas contas externas, que também se reduziu por
causa da crise gerada pela pandemia.
Em março, houve saída líquida de investimento em carteira
no mercado doméstico no total de US$ 2,084 bilhões, contra US$ 22,228 milhões
de saída líquida em igual período de 2020. No caso das ações e fundos de
investimento, houve saída de US$ 2,996 bilhões. Já os investimentos em títulos
de dívida tiveram entrada líquida de US$ 912 milhões.
Rocha explicou que já há a recomposição líquida de
investidores estrangeiros no mercado doméstico, após as perdas com a pandemia.
De fevereiro a maio de 2020, houve uma saída de US$ 35,3 bilhões, recuperados
de junho a fevereiro de 2021, com ingresso de US$ 35,2 bilhões.
Já em março desde ano, houve uma saída líquida e a projeção
para abril é de um valor mais ou menos zerado. Segundo ele, não é possível
afirmar que exista uma tendência de saídas líquidas, já que o resultado de
março foi pontual comparado à estabilidade que deve ocorrer em abril.
O estoque de reservas internacionais atingiu US$ 347,413
bilhões em março de 2021, redução de US$ 8,7 bilhões em comparação a março de
2020.
Para o mês de abril de 2021, a estimativa do Banco Central
para o resultado em transações correntes é de superávit de US$ 5,7 bilhões,
enquanto a de IDP é de ingressos líquidos de US$ 4,9 bilhões.
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