Inflação
acelera para todas as faixas de renda em março, diz Ipea
O principal
impacto foi o aumento no valor do combustível
Publicado em
13/04/2021 - 14:49 Por Cristina Indio do Brasil - Repórter da Agência Brasil -
Brasília
Pelo segundo
mês consecutivo, o Indicador Ipea de Inflação por Faixa de Renda registrou, em
março, alta da taxa para todas as faixas de renda. As famílias mais atingidas
no mês foram as de renda média (rendimentos entre R$ 4.127,41 e R$ 8.254,83) e
média alta (entre R$ 8.254,83 e R$ 16.509,66). No primeiro grupo a inflação de
fevereiro para março passou de 0,98% para 1,09%; no segundo grupo, foi de 0,97%
para 1,08%. Os dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) foram
divulgados nesta terça-feira (13)
Assim como
ocorreu em fevereiro, o segmento de Transportes foi o que mais contribuiu para
a alta da inflação em todas as faixas de renda, no mês de março. O aumento de
11,2% no preço dos combustíveis impactou, mais fortemente, as famílias mais
ricas. Já os reajustes de 0,11% nos preços de ônibus urbano e de 1,84% no preço
dos trens, pesaram no resultado da variação para a classe de renda mais baixa.
As famílias mais ricas, no entanto, tiveram um alívio inflacionário nesse
segmento com o recuo de 2% no preço das passagens aéreas e de 3,4% nos valores
cobrados por aplicativos de transporte.
“Quando o
combustível aumenta, sempre a inflação dos mais ricos acaba sendo mais afetada,
porque esse grupo consome mais do que as famílias mais pobres, que também
sofrem impacto, mas em proporção menor. Teve o aumento de combustível maior nas
faixas mais altas, mas nas mais baixas também sofreram com a alta do trem e do
ônibus urbano. A classe mais alta, de alguma maneira acabou tendo a inflação
amenizada porque apesar do aumento de combustível teve queda de passagens aéreas
e transporte por aplicativo. Essas duas quedas acabaram atenuando um pouco a
inflação [para famílias] de renda mais alta”, disse a pesquisadora do Grupo de
Conjuntura do Ipea, Maria Andréia Lameiras, em entrevista à Agência Brasil.
"O transporte afetou todo mundo, mas dentro do segmento cada item afetou cada família de forma diferente”, completou.
Habitação
As famílias
mais pobres tiveram ainda a pressão do grupo Habitação, que também contribuiu
para a alta inflacionária desta faixa de renda, especialmente por causa do
aumento de 5% do botijão de gás, de 1,1% dos artigos de limpeza e de 0,76% da
energia elétrica.
No grupo das
famílias mais ricas, o segundo grupo com maior impacto foi o de Alimentos e
Bebidas, com reajuste de 0,89% em alimentação fora do domicílio. De acordo com
a pesquisa, a aceleração da inflação foi atenuada pelo desempenho dos alimentos
em domicílio, que registrou a primeira deflação (-0,17%) desde outubro de 2019.
“A população
mais pobre gasta mais com comida, com transporte público e com despesas de
residências, que a gente chama de gás de botijão, de energia elétrica,
praticamente o orçamento das pessoas mais pobres é para estes itens. Já os mais
ricos têm plano de saúde, despesa pessoal com cabeleireiro e mensalidade
escolar, então, tudo acaba sendo mais diluído para os mais ricos. Os mais
pobres consomem menos coisas, quando uma dessas coisas aumenta de preço, isso
pressiona muito a inflação deles”, disse Maria Andréia.
Comparação
Na comparação
de março deste ano com o mesmo período do ano passado, também houve aumento nos
preços. As famílias mais ricas registraram as maiores altas. Enquanto a
inflação para quem recebe até R$ 1.650,50 subiu de 0,25% em março de 2020 para
0,71% em março de 2021, para a faixa que recebe acima de R$ 16.509,66, a
variação foi de -0,20% para alta de 1%.
A pesquisa
mostrou também que, além do impacto dos combustíveis em 2021, a aceleração
inflacionária para as famílias mais ricas pode ser explicada pela pressão do
grupo Despesas Pessoais, com alta de 0,04% ante recuo de 0,23% em março de 2020
e da deflação menor das passagens aéreas no mês passado (-2,0%) se comparada
com o mesmo período de 2020 (-16,8%).
No acumulado
do ano, as famílias mais ricas registram pressão inflacionária maior do que as
mais pobres. No grupo de rendas mais altas a inflação acumulada nos três
primeiros meses de 2021 ficou em 2,3%. Já para as famílias de renda mais baixa,
o acumulado ficou em 1,6%. Apesar disso, a taxa de inflação das famílias mais
pobres (7,2%) segue acima do segmento mais rico da população (4,7%) na
comparação da inflação acumulada nos últimos 12 meses (de abril de 2020 a março
de 2021).
Vacinação
Para a
pesquisadora, a inflação dos mais pobres em 2021 tende a ser menor do que a dos
mais ricos por conta do comportamento dos preços dos alimentos que devem dar um
alívio. Segundo Maria Andréia, com o avanço da vacinação contra a covid-19, a
partir do início do segundo semestre a economia brasileira tende a voltar a um
desempenho mais próximo do que tinha antes da pandemia, em 2019.
“A gente está
imaginando que a população ocupada vai ganhar um pouco mais de força no segundo
semestre e essa população ocupada tendo rendimento do trabalho, gera também
maior demanda”, afirmou.
Segundo a
pesquisadora, isso vai resultar em maior pressão sobre o setor de serviços, que
tem participação importante no orçamento dos mais ricos, além do consumo de
bens duráveis e semiduráveis. “Isto vai impactar a inflação dos mais ricos,
porque é este tipo de segmento que consome algum tipo de bem e serviços”,
concluiu.
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