Saiba o que é
a Amas - Anomalia Magnética do Atlântico Sul
Faixa fica nas
regiões Sul e Sudeste do Brasil e vai até África
Publicado em
02/04/2021 - 12:17 Por Adrielen Alves - Repórter da Agência Brasil - Brasília
A sigla é
inspiradora: Amas, mas o significado ainda é um mistério para a ciência: é a
Anomalia Magnética do Atlântico Sul, uma espécie de defasagem na proteção
magnética da Terra localizada sobre o Atlântico Sul, mais especificamente nas
regiões Sul e Sudeste do Brasil, faixa que se estende até o Continente
Africano.
Para tentar
entender o fenômeno, especialistas estudam o campo magnético do planeta, que é
gerado no núcleo de ferro líquido superaquecido a pelo menos 3 mil quilômetros
de profundidade. O campo magnético, uma espécie de escudo protetor contra
radiação cósmica e ventos solares, surge a partir das correntes elétricas na
região, entre outros fatores.
Cientistas
afirmam que esse campo magnético é dinâmico e por variar a intensidade em força
e direção pode gerar efeitos como a AMAS. Ela ainda é estudada e monitorada por
agências espaciais, como a ESA (Agência Espacial Europeia), a Nasa (agência
espacial norte-americana) e também do Brasil, que lançou recentemente ao espaço
um nanossatélite com essa missão, o NanosatC-BR2.
No primeiro
momento, as agências espaciais querem entender o fenômeno que pode avariar os
satélites que passam pela órbita da Terra, explica o doutor em Física e
pesquisador do Observatório Nacional, Marcel Nogueira.
''Por que as
agências espaciais têm interesse na anomalia? Porque como essa região tem um
campo mais enfraquecido, as partículas do vento solar entram nessa região com
mais facilidade, o fluxo de partículas carregadas que passam por aquela área é
muito mais intenso. Isso faz com que os satélites, quando passam por essa
região, tenham que, por vezes, ficar em stand by, desligar momentaneamente
alguns componentes para evitar a perda do satélite, de algum equipamento que
venha a queimar. Porque a radiação, principalmente elétrons, nessa região é muito
forte. Então é de interesse das agências espaciais monitorar constantemente a
evolução dessa anomalia, principalmente nessa faixa central.'', explica.
A ESA já
alertou para o crescimento gradativo da Amas entre 1970 e 2020. De acordo com
estudo publicado no ano passado, o campo magnético da Terra perdeu 9% de força
nos últimos 200 anos, sendo o maior impacto na região da anomalia.
Além do
funcionamento dos satélites, especialistas alertam que com a baixa na
retaguarda em um ponto específico do planeta, ficamos mais suscetíveis a
tempestades magnéticas que podem afetar o dia a dia tecnológico na Terra.
Para Marcel
Nogueira, entender essas particularidades pode orientar na precaução de
blecautes, como o ocorrido em Quebec, no Canadá, em 1989, quando milhões de
habitantes ficaram sem energia elétrica e tiveram transmissões de rádio
interrompidas.
“Se gente
estuda as tempestades, temos condições de melhorar o nosso sistema de
distribuição de energia elétrica e protegendo, evitar esses blecautes. Porque
na vida que a gente tem hoje em dia, tão dependente da tecnologia, qualquer
tipo de apagão no sistema elétrico, de qualquer país, gera prejuízo de milhões
ou até bilhões de dólares. É algo muito importante para nossa vida
tecnológica'', diz.
No Brasil,
além do nanossatélite lançado ao espaço em março em uma parceria com a Agência
Espacial Russa, também há dois observatórios magnéticos que, entre outras
missões, estão focados em responder questionamentos sobre essa anomalia:
Vassouras, no Rio de Janeiro, e Tatuoca, na região amazônica. Ambos fazem parte
da Rede Global de Observatórios Magnéticos, o Intermagnet.
Segundo Marcel
Nogueira, os que operam no Brasil são bem modernos, apesar de o geomagnetismo
ser uma das ciências mais antigas da humanidade. Ele diz que os trabalhos na
órbita do planeta, feito pelos satélites, e no solo, pelos observatórios, são
complementares.
'' Além de ser
uma ciência extremamente antiga, de eles servirem para medidas relevantes,
estudar fenômenos geomagnéticos, também servem de fonte de calibração para os
satélites que estão fazendo medidas. São métodos complementares.''
Sobre o
mistério da Anomalia Magnética do Atlântico Sul, popularmente associado aos
eventos no Triângulo das Bermudas, Marcel prefere dizer que o fenômeno é muito
mais um desafio tecnológico e que não há conclusões que apontem riscos do fluxo
das radiações cósmicas na vida humana.
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